A crônica acima foi escrita há mais de vinte anos por Rubem Braga; o segmento do texto 2 que mostra
sua não atualidade é:
Texto 2
UM PÉ DE MILHO
Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o
fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho.
Aconteceu que, no meu quintal, em um monte de terra trazida pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser
um pé de capim – mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro da casa. Secaram as
pequenas folhas; pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um amigo
e declarou desdenhosamente que aquilo era capim. Quando estava com dois palmos, veio um outro amigo e afirmou
que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança
suas folhas além do muro e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto.
Tinha visto centenas de milharais – mas é diferente. Um pé de milho sozinho, em um canteiro espremido, junto do
portão, numa esquina de rua – não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes
roxas se agarram no chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações surrealistas –
mas na lógica de seu crescimento, tal como vi numa noite de luar, o pé de milho parecia um cavalo empinado, de
crinas ao vento e em outra madrugada, parecia um galo cantando.
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho
pendoou. Há muitas flores lindas no mundo, e a flor de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme,
vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que me
fazem bem. É alguma coisa que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. Eu não
sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da rua
Júlio de Castilhos.
Rubem Braga
Gabarito comentado
Tema central: Esta questão envolve interpretação de texto, mais especificamente, a identificação de um trecho que indica a não atualidade da crônica apresentada. Ao interpretar textos em provas de Vestibular, é fundamental buscar marcadores temporais ou referências históricas que situem o texto em determinado período.
Análise da alternativa correta:
E) “Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua,...”
Esse trecho é o elemento que evidencia a não atualidade do texto. Ele remete ao início da era espacial, quando, nos anos 1940, os americanos fizeram experimentos utilizando radar para detectar a Lua. De acordo com a interpretação textual de autores como Pasquale Cipro Neto, a identificação de marcos históricos é essencial para situar temporalmente uma narrativa. Portanto, apenas esse segmento mostra claramente que o texto foi escrito há bastante tempo.
Justificativa normativa: Como destaca Celso Cunha, referências factuais de época quebram a atualidade do texto, permitindo identificar sua inserção em um contexto já ultrapassado. Aqui, o avanço tecnológico citado é feito como novidade, o que hoje não teria o mesmo impacto.
Análise das alternativas incorretas:
A) “...sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos” – Expressão subjetiva, sem indicação factual de época.
B) “Anteontem aconteceu o que era inevitável...” – Marca apenas um evento recente na narrativa, não um tempo histórico.
C) “Sou um ignorante, um pobre homem da cidade” – Trata-se de autodefinição, de valor universal, sem relação com data ou época.
D) “Detesto comparações surrealistas...” – Expressa uma opinião literária, sem informação temporal relevante.
Dica de prova: Sempre ao ser cobrado sobre atualidade de um texto, procure por marcos históricos, citações a eventos famosos ou novas tecnologias à época.
Parabéns: ao dominar esse tipo de leitura, você amplia muito sua confiança para interpretar textos em provas de Vestibular e concursos de qualquer área!
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