O texto foi retirado do livro Quarto de Despejo, diário escrito por Carolina Maria de Jesus, moradora da favela do Canindé,
em São Paulo, na década de 1950. A edição reproduz fielmente os manuscritos originais.
Analisando a linguagem apresentada no trecho, conclui-se corretamente que
O texto foi retirado do livro Quarto de Despejo, diário escrito por Carolina Maria de Jesus, moradora da favela do Canindé, em São Paulo, na década de 1950. A edição reproduz fielmente os manuscritos originais.
Analisando a linguagem apresentada no trecho, conclui-se corretamente que
Leia o texto para responder à questão.
13 de maio Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos
a libertação dos escravos.
...Nas prisões os negros eram os bodes espiatorios. [....]
Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a
escola. Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos
ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair.
..Eu tenho tanto dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada:
– Viva a mamãe!
A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida.
Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Ela não tinha. Mandei-lhe um bilhete assim:
– “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos.
Hoje choveu e eu não pude ir catar papel. Agradeço. Carolina.”
...Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou pedir comida.
E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha
para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite
quando comemos.
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!
29 de maio [....]
...Há de existir alguem que lendo o que eu escrevo dirá...isto é mentira! Mas, as miserias são reais.
MARIA DE JESUS, Carolina. Quarto de Despejo: Diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 2017. Adaptado.
Leia o texto para responder à questão.
13 de maio Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos escravos.
...Nas prisões os negros eram os bodes espiatorios. [....]
Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair.
..Eu tenho tanto dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada:
– Viva a mamãe!
A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Ela não tinha. Mandei-lhe um bilhete assim:
– “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos. Hoje choveu e eu não pude ir catar papel. Agradeço. Carolina.”
...Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos.
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!
29 de maio [....]
...Há de existir alguem que lendo o que eu escrevo dirá...isto é mentira! Mas, as miserias são reais.
MARIA DE JESUS, Carolina. Quarto de Despejo: Diário de uma favelada. São Paulo: Editora Ática, 2017. Adaptado.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de Texto, com foco em variação linguística, gênero textual e abordagem crítica de questões sociais.
Justificativa da alternativa correta (E):
A alternativa E é a correta porque reconhece que o texto aborda de modo crítico problemas sociais (fome e pobreza), empregando uma linguagem informal, carregada de marcas pessoais e orais. A autora, Carolina Maria de Jesus, narra sua rotina e suas dificuldades, utilizando a variedade popular do português, característica do meio social em que vive, mas, ainda assim, constrói uma reflexão profunda sobre a realidade brasileira — especialmente ao comparar a “escravatura atual” à fome vivida pelos pobres.
Segundo Cunha & Cintra, a variação linguística é legítima e adequada ao contexto: “A escolha entre a norma culta e a linguagem informal depende do contexto e do propósito comunicativo” (Nova Gramática, 2013).
Análise das alternativas incorretas:
A – Incorreta. Há reflexão crítica: a autora denuncia as misérias e a fome (“luto contra a escravatura atual – a fome!”). O uso da língua popular não impede a crítica.
B – Incorreta. Embora o diário tenha registro pessoal, a autora não emprega língua padrão por questões sociais e educacionais, não por causa do gênero textual.
C – Incorreta. Os desvios gramaticais (“quando eles vê”) derivam do padrão de oralidade e escolaridade, não por influência de linguagem denotativa. Sentido denotativo nada tem a ver com erros ortográficos/concordância.
D – Incorreta. O texto é predominantemente denotativo: narra fatos e sentimentos reais. Expressões citadas indicam realidade, não metáfora.
Elementos para uma boa interpretação: Para responder, foque em: (a) tema social abordado criticamente; (b) registro linguístico (informal, marcado pela oralidade); (c) intenção da autora. Atenção a pegadinhas que confundem erros gramaticais com ausência de reflexão ou uso de conotação.
Resumo normativo: O texto é um diário de vivências reais, linguagem predominantemente informal, reflexiva, abrigando crítica social. Não é um “erro” usar língua popular nesse contexto — a vivência legitima a escolha, conforme regra do Manual da Presidência da República sobre adequação e clareza, e gramáticas de referência (Bechara e Cunha & Cintra).
Dica para provas: Identifique sempre o contexto do texto, o intuito do autor e as marcas linguísticas para interpretar possíveis críticas ou mensagens sociais, mesmo que estejam expressas em linguagem informal.
Alternativa correta: E.
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