Questão 84bc825b-c0
Prova:PUC - PR 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O texto a seguir faz parte de uma correspondência enviada por Mário de Andrade a Manuel Bandeira, em 26 de janeiro de 1935. 

(...) Não vá pra Cumbuquira “concertar” o fígado que você se estraga completamente! Isso acho que é demais. Apesar de suas razões que já conheço hoje, concertar com “c”, pra qualquer sentido da palavra está consagrado definitivamente. Vamos: me retruque que o “hontem”, o “geito” e o “pêcego” também estavam concertados definitivamente entre escritores e que então eu não devia concertá-los. Você está certo, mas a minha resposta é o “brinque-se”! Por enquanto. Porque se vier uma nova reforma ortográfica mandando distinguir definitivamente consertar e concertar, assim farei em nome da minha desindividualização teórica.

Mundo Jovem, ed. 466, maio/2016, p. 21.

A variação linguística interfere na produção de sentidos dos textos. No trecho da correspondência de Mário de Andrade, ele argumenta a favor  

A
da permissão do uso indiscriminado da grafia das palavras, já que a variação das línguas com o passar do tempo pode gerar prejuízos de significado.
B
da antecipação de uma grafia unificadora para palavras com mesmo significado, antecipando-se a uma possível reforma ortográfica.
C
da combinação entre grafia e pronúncia, incentivando os falantes a estabelecerem uma relação de representação mais uniforme dos sons.
D
da prevalência do uso que os indivíduos fazem da língua em relação ao poder coercitivo das regras ortográficas, até que seja possível.
E
do abandono de marcas etimológicas na grafia das palavras, a fim de atualizar o registro escrito da língua antes de uma reforma ortográfica.

Gabarito comentado

R
Rafael OliveiraMonitor do Qconcursos

Tema central: A questão aborda variação linguística e a relação entre o uso popular da língua e as normas ortográficas. É essencial perceber como a prática cotidiana dos falantes pode antecipar ou influenciar reformas na ortografia.

Explicação da alternativa correta (D):

Mário de Andrade, no trecho analisado, valoriza o uso real dos falantes em detrimento do rigor absoluto das regras ortográficas, enquanto não houver uma reforma normativa. Ele reconhece que certas formas grafadas consagram-se no uso, antes mesmo de serem oficializadas. Essa visão é alinhada ao conceito de língua como fenômeno social e dinâmico (Bechara, “Moderna Gramática Portuguesa”), em que o discurso coletivo pode influenciar a estrutura normativa.

Análise das alternativas incorretas:

A) Erro: Defende uso indiscriminado e prejuízo de significado, o que não é proposto pelo autor. Mário sugere prevalência do uso, não caos ortográfico.

B) Erro: Fala em “grafia unificadora para palavras com mesmo significado”. No texto, trata-se de grafias distintas para sentidos também diferentes (consertar/concertar), não uma unificação deliberada.

C) Erro: Propõe relação entre grafia e pronúncia, mas o foco do autor não é a fonética, e sim a relação entre ortografia vigente e o uso social.

E) Erro: Trata do abandono de marcas etimológicas; porém, o texto não discute etimologia, mas sim a adequação entre ortografia e uso atual.

Dica de prova: Identifique palavras-chave no texto, exemplos ou metáforas empregadas (como “desindividualização teórica”), pois revelam a posição do autor diante da norma. Para questões de variação linguística, observe quem exerce a mudança: se o “poder oficial” ou o “uso popular”.

Resumo normativo: Segundo referência de Celso Cunha & Lindley Cintra, a tradição normativa pode ser alterada pela força do uso consagrado e, quando a reforma oficial legitima, torna-se regra.

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