O texto a seguir faz parte de uma correspondência enviada por Mário de Andrade a Manuel Bandeira, em
26 de janeiro de 1935.
(...) Não vá pra Cumbuquira “concertar” o fígado que você se estraga completamente! Isso acho que é
demais. Apesar de suas razões que já conheço hoje, concertar com “c”, pra qualquer sentido da palavra
está consagrado definitivamente. Vamos: me retruque que o “hontem”, o “geito” e o “pêcego” também estavam
concertados definitivamente entre escritores e que então eu não devia concertá-los. Você está certo,
mas a minha resposta é o “brinque-se”! Por enquanto. Porque se vier uma nova reforma ortográfica
mandando distinguir definitivamente consertar e concertar, assim farei em nome da minha desindividualização
teórica.
Mundo Jovem, ed. 466, maio/2016, p. 21.
A variação linguística interfere na produção de sentidos dos textos. No trecho da correspondência de Mário de Andrade, ele argumenta a favor
O texto a seguir faz parte de uma correspondência enviada por Mário de Andrade a Manuel Bandeira, em 26 de janeiro de 1935.
(...) Não vá pra Cumbuquira “concertar” o fígado que você se estraga completamente! Isso acho que é demais. Apesar de suas razões que já conheço hoje, concertar com “c”, pra qualquer sentido da palavra está consagrado definitivamente. Vamos: me retruque que o “hontem”, o “geito” e o “pêcego” também estavam concertados definitivamente entre escritores e que então eu não devia concertá-los. Você está certo, mas a minha resposta é o “brinque-se”! Por enquanto. Porque se vier uma nova reforma ortográfica mandando distinguir definitivamente consertar e concertar, assim farei em nome da minha desindividualização teórica.
Mundo Jovem, ed. 466, maio/2016, p. 21.
A variação linguística interfere na produção de sentidos dos textos. No trecho da correspondência de Mário de Andrade, ele argumenta a favor
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda variação linguística e a relação entre o uso popular da língua e as normas ortográficas. É essencial perceber como a prática cotidiana dos falantes pode antecipar ou influenciar reformas na ortografia.
Explicação da alternativa correta (D):
Mário de Andrade, no trecho analisado, valoriza o uso real dos falantes em detrimento do rigor absoluto das regras ortográficas, enquanto não houver uma reforma normativa. Ele reconhece que certas formas grafadas consagram-se no uso, antes mesmo de serem oficializadas. Essa visão é alinhada ao conceito de língua como fenômeno social e dinâmico (Bechara, “Moderna Gramática Portuguesa”), em que o discurso coletivo pode influenciar a estrutura normativa.
Análise das alternativas incorretas:
A) Erro: Defende uso indiscriminado e prejuízo de significado, o que não é proposto pelo autor. Mário sugere prevalência do uso, não caos ortográfico.
B) Erro: Fala em “grafia unificadora para palavras com mesmo significado”. No texto, trata-se de grafias distintas para sentidos também diferentes (consertar/concertar), não uma unificação deliberada.
C) Erro: Propõe relação entre grafia e pronúncia, mas o foco do autor não é a fonética, e sim a relação entre ortografia vigente e o uso social.
E) Erro: Trata do abandono de marcas etimológicas; porém, o texto não discute etimologia, mas sim a adequação entre ortografia e uso atual.
Dica de prova: Identifique palavras-chave no texto, exemplos ou metáforas empregadas (como “desindividualização teórica”), pois revelam a posição do autor diante da norma. Para questões de variação linguística, observe quem exerce a mudança: se o “poder oficial” ou o “uso popular”.
Resumo normativo: Segundo referência de Celso Cunha & Lindley Cintra, a tradição normativa pode ser alterada pela força do uso consagrado e, quando a reforma oficial legitima, torna-se regra.
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