Questão 81b24171-f8
Prova:UEG 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Considere o seguinte recorte:


“As massas, de que falava Ortega y Gasset na primeira metade do século (A rebelião das massas, 1937), ganham uma nova qualidade em virtude de sua aglomeração exponencial e de sua diversificação”.


O discurso do outro é apresentado nesse trecho por meio de uma

O mundo como pode ser: uma outra globalização


    Podemos pensar na construção de um outro mundo a partir de uma globalização mais humana. As bases materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir uma globalização perversa. Mas essas mesmas bases técnicas poderão servir a outros objetivos, se forem postas a serviço de outros fundamentos sociais e políticos. Parece que as condições históricas do fim do século XX apontavam para esta última possibilidade. Tais novas condições tanto se dão no plano empírico quanto no plano teórico.

    Considerando o que atualmente se verifica no plano empírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer um certo número de fatos novos indicativos da emergência de uma nova história. O primeiro desses fenômenos é a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se acrescente, graças ao progresso da informação, a “mistura” de filosofia, em detrimento do racionalismo europeu. Um outro dado de nossa era, indicativo da possibilidade de mudanças, é a produção de uma população aglomerada em áreas cada vez menores, o que permite um ainda maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias. As massas, de que falava Ortega y Gasset na primeira metade do século (A rebelião das massas, 1937), ganham uma nova qualidade em virtude de sua aglomeração exponencial e de sua diversificação. Trata-se da existência de uma verdadeira sociodiversidade, historicamente muito mais significativa que a própria biodiversidade. Junte-se a esses fatos a emergência de uma cultura popular que se serve dos meios técnicos antes exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta última uma verdadeira revanche ou vingança.

    É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da escassez, afinal descoberta pelas massas. A população, aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra, constitui uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais, abrindo a possiblidade de utilização, ao serviço dos homens, do sistema técnico atual.

    No plano teórico, o que verificamos é a possiblidade de produção de um novo discurso, de uma nova metanarrativa, um grande relato. Esse novo discurso ganha relevância pelo fato de que, pela primeira vez na história do homem, se pode constatar a existência de uma universalidade empírica. A universalidade deixa de ser apenas uma elaboração abstrata na mente dos filósofos para resultar da experiência ordinária de cada pessoa. De tal modo, em mundo datado como o nosso, a explicação do acontecer pode ser feita a partir de categorias de uma história concreta. É isso, também, que permite conhecer as possiblidade existentes e escrever uma nova história.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 13. ed. São Paulo: Record, 2006. p. 20-21. (Adaptado).

A
cópia
B
alusão
C
paródia
D
implicação
E
representação

Gabarito comentado

J
Juan TorresMonitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de texto – Reconhecimento de recursos de intertextualidade, com ênfase na figura de linguagem alusão. A questão exige identificar como o autor relaciona o pensamento de Ortega y Gasset ao seu próprio texto, sem copiar ou parodiar o conteúdo original.

Justificativa da alternativa correta (B – alusão): O termo “alusão” designa uma referência breve e indireta a outro texto, fato ou obra, sem a transcrição literal nem transformação crítica do conteúdo original. No trecho solicitado, o autor menciona “Ortega y Gasset (...) A rebelião das massas, 1937” apenas para evocar uma reflexão conhecida dos leitores. Não há explicitação da obra, nem reprodução, tampouco intenção humorística ou crítica direta. Isso caracteriza alusão segundo a norma-padrão e conforme referências como Bechara (2009) e Cunha & Cintra (2017).

Estratégia para reconhecer: Ao ver menção breve a outra obra, sem detalhamento nem reprodução literal, pense em alusão. Fique atento a esse uso em textos acadêmicos, jornalísticos ou literários — é um recurso comum para reforçar argumentos sem alongar o texto.

Análise das alternativas incorretas:

A) cópia: Não há transcrição literal nem reprodução fiel do conteúdo original. Alusão não implica cópia.

C) paródia: Paródia traz alteração, subversão ou humor, o que não ocorre aqui; o texto mantém respeito ao original.

D) implicação: Implicação significa sugerir indireta ou subentendidamente, sem menção direta. O trecho menciona explicitamente o autor e a obra.

E) representação: Uma representação exigiria exposição detalhada ou ilustração, não apenas menção.

Regra gramatical envolvida (resumo): Na intertextualidade, alusão acontece quando um texto faz referência breve a outro, ativando conhecimentos prévios dos leitores para enriquecer a interpretação. Isso diferencia-se de outros recursos, como paródia ou cópia, cujas regras são bem distintas (cf. Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa).

Dica para provas: Sempre leia atentamente o trecho e identifique se há citação, reprodução literal ou apenas evocação. O uso da palavra “de que falava” já aponta para alusão!

Gabarito: B) alusão

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