Para a composição da peça teatral Arena conta
Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Edu
Lobo, foi escolhido como assunto a história de Zumbi dos
Palmares, figura histórica que carrega a imagem de
resistência do homem negro, escravizado no Brasil. À
época, a peça trazia inovações para o teatro brasileiro na
sua maneira de contar a história de Zumbi (estreou em
1º de maio de 1965 no Teatro de Arena de São Paulo), a
partir do ponto de vista dos próprios escravos, ou seja, a
história de Zumbi (ou Zambi) é contada pelas vozes dos
escravos, incluindo o próprio Zumbi, e não somente por
um narrador em terceira pessoa criado pelo escritor,
como era comum nas versões trazidas pela História
oficial.
Essa característica pode ser constatada no
seguinte trecho da peça:
Gabarito comentado
Comentário da banca:
Tema central: Interpretação de texto – Foco narrativo (ponto de vista do narrador e perspectiva discursiva).
A questão avalia a capacidade do candidato de identificar a voz narrativa no texto, ou seja, se a narrativa é feita a partir da própria experiência dos escravos (narrador-personagem, em primeira pessoa), como destacado no enunciado, ou se há distanciamento do narrador (terceira pessoa ou ponto de vista externo).
Para garantir a resposta certa, é preciso atenção em expressões de primeira pessoa (“eu vivi”, “minha voz”) e à postura de quem narra. A regra central, conforme Bechara (2009) e Cunha & Cintra (2013), é: Quando a história se conta ‘de dentro’ (narrador-personagem), utiliza-se a primeira pessoa, transmitindo a visão subjetiva e vivencial daquele personagem.
Alternativa C – CORRETA
O trecho: “Eu vivi nas cidades... minha voz junto com a dela. Minha voz não pode muito...” deixa claro, pelas marcas de primeira pessoa, que quem fala é um escravo participante dos fatos, apresentando seu olhar e seu sentimento sobre a história.
Alternativas Incorretas:
A) O narrador se expressa de maneira distante, comentando sobre Zumbi, sem ser personagem da história. Não traz o ponto de vista dos escravos, mas sim uma visão quase jornalística ou de ‘testemunha’.
B) Fala sobre os escravos, utilizando verbos no presente e terceira pessoa ("Olham..."), apresentando a cena como vendedor ou narrador externo, e não como vivência dos próprios escravos.
D) Reafirma o distanciamento: “Negros de todos os lugares procuravam...”, colocando o narrador fora da situação, usando verbos em terceira pessoa.
E) Apesar do tom imperativo, é a voz do opressor (capitão do mato), não a dos escravos. Não atende ao critério do enunciado.
Estratégia: Busque termos de primeira pessoa para identificar narrador-personagem! Atenção a mudanças sutis: nem toda fala em 1ª pessoa representa os oprimidos!
Resumo: A alternativa C apresenta narrador-personagem e, assim, reflete a inovação citada, contando a história pela perspectiva dos próprios escravos. Isso diferencia a peça e é o critério de resolução.
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