Questão 8064c2f7-b0
Prova:UNEMAT 2017
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

ESCREVO

Posso quase dizer assim:
nesta sala
de cimento armado
escrevo
Com isso
a realidade não me foge
Escrevo
numa ordem discreta
que ninguém vê
à luz do sol
à luz de lâmpadas
escrevo
como se nenhum princípio estivesse
envolto em trevas

Assim
ou mais ou menos assim.

PERSONA, Lucinda Nogueira. Entre uma noite e outra. Cuiabá, MT: Entrelinhas,2014, p.40

Segundo definição do Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, a metalinguagem é a linguagem que se debruça sobre si mesma “para descrever outra linguagem ou qualquer sistema de significação”. Dessa maneira, podemos afirmar que: 1) o poema acima é metalinguístico, pois está abordando o próprio ato de escrever, e 2) que o eu lírico concebe a escrita

A
como um ato que depende exclusivamente da reclusão do/da poeta em uma sala fechada e protegida (“de cimento armado”).
B
como um ato que começa de dia (“à luz do sol”) e termina à noite (“à luz de lâmpadas”).
C
de modo categórico e preciso, como se “nenhum princípio estivesse envolto em trevas”.
D
como algo não tão preciso, sobre o qual, mesmo apontando algumas noções como a de apreensão da realidade (“a realidade não me foge”), o eu lírico não tem muitas certezas sobre o ato de escrever e no verso final acaba reforçando essa sensação de instabilidade (“assim/ ou mais ou menos assim”).
E
como uma ordem discreta, a fim de não explicitar completamente o conteúdo para o leitor.

Gabarito comentado

I
Igor Almeida Monitor do Qconcursos

Tema central: A questão aborda interpretação de texto, especialmente o reconhecimento da função metalinguística e a análise da postura do eu lírico no poema em relação ao ato de escrever.

Conceito-chave: Metalinguagem é a linguagem que fala de si própria – neste caso, o poema reflete sobre o próprio escrever, caracterizando-o como um texto metalinguístico (Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa).

Justificativa da Alternativa Correta (D): O gabarito correto é a alternativa D. Veja por quê:

  • O poema não se apresenta como uma explicação definitiva ou totalmente segura sobre o que é escrever. Pelo contrário, o eu lírico mostra dúvidas e reconhece uma certa instabilidade sobre este ato.
  • A expressão final “assim/ ou mais ou menos assim” mostra incerteza e ausência de precisão do eu lírico sobre a escrita. Ele deixa claro que, mesmo tentando definir o ato de escrever, não chega a uma conclusão absoluta.
  • No meio do poema, há indícios de busca por compreensão (“a realidade não me foge”), mas a dúvida e a imprecisão prevalecem ao fim.

Análise das alternativas incorretas:

  • A: Incorreta. O poema menciona “sala de cimento armado”, mas não restringe o ato de escrever exclusivamente à reclusão ou proteção do ambiente. Esta é uma leitura limitada e não abrange o teor do texto todo.

  • B: Incorreta. As menções a “à luz do sol” e “à luz de lâmpadas” indicam que o escrever pode ocorrer em qualquer momento, e não estão ligadas a nenhum processo cronológico exato, nem há oposição entre dia e noite.

  • C: Incorreta. Embora haja o verso “como se nenhum princípio estivesse envolto em trevas”, o uso de “como se” já indica dúvida, não sendo categórico nem preciso.

  • E: Incorreta. “Ordem discreta” refere-se à organização do texto, mas não ao desejo de ocultar intencionalmente seu conteúdo.

Estratégia de leitura: Atenção às expressões "como se" e "assim/ ou mais ou menos assim", que indicam dúvida ou relativização, evitando generalizações e ideias absolutas no texto.

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