Pessoa crítica é a que tem posições
independentes e refletidas, é capaz de pensar por
si própria e não aceita como verdadeiro o simples
estabelecimento por outros como tal, mas só após
o seu exame livre e fundamentado. Uma época
esclarecida é aquela em que os homens atingem
a sua maioridade pela capacidade não só de
pensarem autonomamente, mas também de não
se deixarem manipular e dominar. Em vista disso,
ela é um estágio alcançável com dificuldade, o
que levou Kant a dizer que sua época não era ainda
uma época esclarecida, mas em via de
esclarecimento. Os homens atingem essa etapa
por si só, lentamente, desde que não cedam à
covardia e à preguiça, não se deixem torturar, nem
sejam impelidos a atingi-la mediante artifícios e
pelo emprego da força. A liberdade é o espaço
adequado ao esclarecimento. Por ter sido fundado
no ímpeto do homem à liberdade, o
Esclarecimento foi o principal movimento do
pensamento moderno, que ainda hoje nos situa
num horizonte comum ao de Kant. (REZENDE,
2002, p. 127)
Segundo o texto,
I. O exercício da liberdade é uma constante na formação
da pessoa crítica.
II. O comportamento humano é o reflexo da relação
estabelecida entre a liberdade e a norma.
III. Tanto a norma quanto a liberdade figuram como
constructos ideológicos de dominação social.
A alternativa cuja resposta está correta é a
Gabarito comentado
Resposta correta: D - Apenas I e II
Tema central: trata-se do conceito de Esclarecimento/Iluminismo e da formação da pessoa crítica — ideias ligadas à autonomia, liberdade e à capacidade de pensar por si mesmo (Kant, "What is Enlightenment?", 1784; Rezende, 2002).
Resumo teórico: O Esclarecimento valoriza a autonomia racional: ser pessoa crítica significa examinar argumentos, não aceitar verdades apenas porque vêm de autoridade. A liberdade aparece no texto como condição necessária ao esclarecimento — é o espaço em que o sujeito desenvolve pensamento próprio. Também se fala da dificuldade histórica desse processo, mas não de uma leitura que reduza norma e liberdade a meros dispositivos de dominação.
Justificativa da alternativa D (I e II verdadeiras):
- I — Verdadeira: o texto afirma explicitamente que a pessoa crítica pensa por si própria e só aceita algo após exame livre e fundamentado; isso exige exercício da liberdade. Logo, a liberdade é constante na formação da pessoa crítica.
- II — Verdadeira: o texto sugere que o comportamento humano (capacidade de não se deixar manipular, atingir a maioridade) decorre da relação entre liberdade e normas sociais/pressões. A ideia de não ceder à covardia, preguiça ou força aponta para uma dinâmica entre liberdade individual e normas/condições externas.
Por que III é falsa: a afirmação III afirma que tanto norma quanto liberdade são "constructos ideológicos de dominação social". O texto, porém, apresenta a liberdade como condição emancipadora e crítica do Esclarecimento, não como instrumento de dominação. Não há no excerto indicação de que a norma e a liberdade sejam igualmente construções ideológicas de dominação — isso seria uma leitura distorcida do sentido kantiano/rezendiano exposto.
Análise das alternativas incorretas:
- A (Apenas I): deixa de reconhecer que o texto também conecta comportamento humano à interação entre liberdade e normas/pressões (II).
- B (Apenas II): ignora que o texto explicitamente liga a formação da pessoa crítica ao exercício da liberdade (I).
- C (Apenas III): contrapõe o sentido do texto ao afirmar que liberdade é construção de dominação — leitura incompatível com o excerto.
Dica de interpretação para provas: identifique termos-chave (autonomia, liberdade, manipulação, domínio) e verifique se o excerto os associa a emancipação ou a opressão. Cuidado com alternativas que transferem ao texto ideias não presentes (leitura extrapolativa).
Referências: Kant, "What is Enlightenment?" (1784); Rezende (2002), trecho citado.
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