Leia este poema.

DIALÉTICA

É claro que a vida é boa

E a alegria, a única indizível emoção

É claro que te acho linda

Em ti bendigo o amor das coisas simples

É claro que te amo

E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...

ORAES, Vinícius. Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/dialetica. Acesso: 11 dez. 2018.

Em relação a esse texto, escrito pelo poeta e compositor Vinícius de Moraes, é CORRETO afirmar que:

Assunto central:
A questão envolve interpretação de texto poético, especialmente análise de coesão e coerência textuais, e reconhecimento do efeito da repetição estilística na construção de sentido.

Justificativa da alternativa correta (C):
A estrutura repetida “É claro que...” aparece em três versos consecutivos, sempre reforçando aspectos positivos da vida, do amor e do eu-lírico. Essa repetição serve como ênfase para a ideia de que há muitas razões objetivas para ser feliz, criando intensificação dessas certezas.

No entanto, ao chegar ao sexto verso (“E tenho tudo para ser feliz”), todo esse acúmulo de motivos é subvertido pelo último verso — “Mas acontece que eu sou triste...” — mostrando o verdadeiro sentimento do eu-lírico. Esse contraste reforça justamente o efeito da repetição: a força dos motivos racionais para a felicidade é anulada por uma emoção interior profunda. Segundo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), esse recurso serve para intensificar a tensão e o paradoxo entre aparência e essência.

Análise das alternativas incorretas:

A) Incorreta. A expressão “É claro que” expressa certeza, não incerteza. Na norma-padrão e segundo os autores clássicos, “claro” indica evidência, fato tido como certo.

B) Incorreta. O terceiro verso refere-se à beleza do(a) amado(a): “É claro que te acho linda”. Não há relação direta com a afirmação de que “a vida é boa”. Cuidado para não confundir motivos diferentes no poema.

D) Incorreta. A frase final não indica superação de tristeza; pelo contrário, revela que a tristeza persiste, a despeito das razões para felicidade. O próprio texto faz oposição com o “mas acontece que...”, mostrando o inesperado.

Estratégia de prova:
Em poemas, atenção à repetição: muitas vezes, reforça ideias para criar um efeito emocional ou preparar o contraste — como acontece nesta questão. Observe conectivos como “mas”, que indicam oposição e podem alterar totalmente o sentido esperado. Fique atento também a palavras que indicam certeza (“claro”, “obviamente”) e a possíveis generalizações incorretas nas alternativas.

Citações de referência: Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Cunha & Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo.

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