“O seu entusiasmo por aquele ídolo político
[Floriano Peixoto] era forte, sincero e
desinteressado. Tinha-o na conta de enérgico,
de fino e supervidente, tenaz e conhecedor das
necessidades do país [...]. Entretanto, não era
assim. Com uma ausência total de qualidades
intelectuais, havia no caráter do Marechal
Floriano uma qualidade predominante: tibieza
de ânimo e no seu temperamento muita
preguiça”. Nesse fragmento, revela-se um
conflito entre dois pontos de vista. De um lado,
o narrador relata, em 3.ª pessoa, a visão
elogiosa que Policarpo tem de Floriano Peixoto;
de outro, a voz narrativa expõe sua visão
negativa sobre o político. O recurso constitui o
caráter irônico da narrativa e possibilita que os
leitores transcendam o ponto de vista limitado
da personagem.
Assinale o que for correto em relação ao livro
Triste fim de Policarpo Quaresma e ao seu autor,
Lima Barreto.
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de texto literário com foco em figuras de linguagem, especialmente a ironia.
O comando pede identificação correta do efeito criado pelo contraste entre a visão da personagem Policarpo Quaresma e a do narrador em relação ao político Floriano Peixoto. Para resolver a questão, é crucial entender o conceito de ironia narrativa e o papel do narrador em terceira pessoa.
Regra/Conceito-Chave: Segundo gramáticas consagradas (Bechara; Cunha & Cintra), a ironia consiste em exprimir uma ideia utilizando palavras ou situações que sugerem o oposto do sentido literal, geralmente com intenção crítica ou provocativa. Na literatura, ocorre frequentemente quando o narrador apresenta um ponto de vista divergente do das personagens.
Aplicação ao trecho: No excerto indicado, Policarpo manifesta admiração por Floriano Peixoto, ao passo que o narrador, com análise independente, revela uma visão bastante negativa sobre o mesmo político. Isso gera um conflito de percepções e evidencia a presença da ironia – ferramenta utilizada por Lima Barreto para que o leitor enxergue além da ingenuidade do protagonista. Assim, a alternativa C (“certo”) é a correta, pois descreve com exatidão esse recurso e sua função.
Análise da alternativa E (“errado”): Seria disparatada, pois ignora o nítido descompasso entre o olhar da personagem e a crítica explícita do narrador, desconsiderando o mecanismo central da ironia presente no fragmento.
Estratégia para questões semelhantes: Fique atento sempre que o texto apresentar múltiplos pontos de vista. Identifique quem fala, para reconhecer possíveis discrepâncias e promover uma leitura crítica do texto — uma vez que a ironia, como ensinam as gramáticas, depende dessa tensão entre planos discursivos.
Resumo: A compreensão da função da ironia e do papel do narrador é decisiva para a resposta. A alternativa correta reconhece que o narrador posiciona o leitor além da percepção limitada de Policarpo, tornando-o apto a perceber críticas veladas ao meio político da época.
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