No texto “A propósito de uma raposa: reflexões de um
romancista”, o escritor Lêdo Ivo observou, acerca de seu
romance “Ninho de cobras”, o seguinte: “[...] ao lado dos que
me apontavam como sendo autor de um romance poético,
enraizado em minha condição fundamental de poeta, e
ligado ao sonho e ao pesadelo, havia os que me acusavam
de ser demasiado realista.” Os juízos críticos a que se refere
o autor, atribuídos por ele a dois grupos distintos de leitores
de sua obra, podem estar relacionados a qual dos pares de
características, verificados, inclusive, no excerto de “Ninho
de cobras” acima exposto?
Abaixo segue um trecho do romance “Ninho de cobras”,
do escritor Lêdo Ivo. Leia-o e, depois, responda ao que
se pede na questão.
E, num fiapo de tempo, bem menor do que aquele em
que um estilhaço de estrela resvala no céu escuro e cego, a
raposa conheceu a morte, algo atordoador e fulgente que só
poderia ser a morte, caso esta existisse em toda a sua
absurda plenitude e dura magnificência, e não fosse apenas
uma ficção ou um ponto de referência dos vivos deixados
repentinamente de amar e odiar, demitidos de súbito de sua
grandeza e miséria. Era a morte que, incandescente e
perversa, a alcançava, alterando a sua inconfundível beleza
animal, tumultuando-lhe o sangue, destruindo a sua ardente
harmonia de movimentos, tornando vítrea a sua visão da
manhã cristalina e fantasmagórica.
Desfigurada pelos golpes que os homens lhe haviam
vibrado, ela ficou jazendo durante mais de uma hora sobre
as pedras da rua. Era um montão de carnes e pelos
informes e ensanguentados, e em torno dela se revezava
um círculo de curiosos, cambiando os comentários mais
variados. Quando o dia já clareava por completo, uma
carroça de lixo parou perto do ajuntamento, e o cadáver da
raposa foi jogado entre os monturos.
(IVO, Lêdo. Ninho de cobras: uma história mal contada. Maceió:
Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2015, p. 21-22)
Abaixo segue um trecho do romance “Ninho de cobras”, do escritor Lêdo Ivo. Leia-o e, depois, responda ao que se pede na questão.
E, num fiapo de tempo, bem menor do que aquele em que um estilhaço de estrela resvala no céu escuro e cego, a raposa conheceu a morte, algo atordoador e fulgente que só poderia ser a morte, caso esta existisse em toda a sua absurda plenitude e dura magnificência, e não fosse apenas uma ficção ou um ponto de referência dos vivos deixados repentinamente de amar e odiar, demitidos de súbito de sua grandeza e miséria. Era a morte que, incandescente e perversa, a alcançava, alterando a sua inconfundível beleza animal, tumultuando-lhe o sangue, destruindo a sua ardente harmonia de movimentos, tornando vítrea a sua visão da manhã cristalina e fantasmagórica.
Desfigurada pelos golpes que os homens lhe haviam vibrado, ela ficou jazendo durante mais de uma hora sobre as pedras da rua. Era um montão de carnes e pelos informes e ensanguentados, e em torno dela se revezava um círculo de curiosos, cambiando os comentários mais variados. Quando o dia já clareava por completo, uma carroça de lixo parou perto do ajuntamento, e o cadáver da raposa foi jogado entre os monturos.
(IVO, Lêdo. Ninho de cobras: uma história mal contada. Maceió:
Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2015, p. 21-22)