Questão 7c45eba1-b3
Prova:
Disciplina:
Assunto:
O texto Autismo faz parte da matéria “O lado bom das coisas ruins”, a qual apresenta aspectos positivos
relacionados a síndromes, doenças e comportamentos considerados negativos. No texto em questão,
Marcos Horta, retoma certos aspectos da vida de Wittgenstein para defender esse posicionamento.
Assinale a alternativa na qual há um argumento presente no texto para sustentar o ponto de vista
defendido pelo autor:
O texto Autismo faz parte da matéria “O lado bom das coisas ruins”, a qual apresenta aspectos positivos
relacionados a síndromes, doenças e comportamentos considerados negativos. No texto em questão,
Marcos Horta, retoma certos aspectos da vida de Wittgenstein para defender esse posicionamento.
Assinale a alternativa na qual há um argumento presente no texto para sustentar o ponto de vista
defendido pelo autor:
A questão se refere ao texto I.
Texto IAutismo
Ludwig Wittgenstein, gênio da filosofia, começou a falar só aos 4 anos. Estudou com tutores particulares
em sua casa, em Viena, até os 14 anos. Sem conseguir passar no vestibulinho do colegial, foi parar em
1903 na escola técnica de Linz (a mesma de Adolf Hitler, de quem não foi colega, pois o futuro ditador
estava dois anos atrasado nos estudos). Mas ele simplesmente não se interessava pelos colegas. A
solidão e a dislexia fizeram dele um perfeito alvo de bullying. “Nunca consegui expressar metade do
que queria. Na verdade, não mais que um décimo”, contou em suas memórias.
Assim foi o jovem Wittgenstein. Mas sua excentricidade e o fato de ter revolucionado a filosofia no
século 20 não são uma contradição, segundo o professor Michael Fitzgerald, do Trinity College, em
Dublin. O psiquiatra vê em sua biografia sintomas que caracterizam a síndrome de Asperger – um tipo
de autismo que, aliado a um intelecto avantajado, pode ser a base da genialidade.
Todo autista se foca obsessivamente em interesses muito específicos, tem comportamentos repetitivos
e não se interessa em interagir com outras pessoas. Mas, enquanto a imagem mais comum é a da criança
ensimesmada balançando para a frente e para trás, o espectro do autismo vai desde o atraso mental
até o desenvolvimento linguístico e cognitivo completo – caso da síndrome de Asperger. Quem tem
essa síndrome não se interessa em dividir experiências e emoções, tem padrões restritos, repetitivos e
estereotipados de comportamento e de interesses e não abre mão de sua rotina. Isso torna o convívio
difícil – mas pode ter um efeito colateral inesperado.
“Muitas características da síndrome de Asperger aumentam a criatividade”, escreve Fitzgerald em
Autism and Creativity (Autismo e Criatividade). “Pessoas assim têm uma capacidade extraordinária para
focar-se em um tópico por um longo período – dias, sem interrupção nem mesmo para as refeições.
Não desistem diante de obstáculos.” E não é apenas a concentração. A forma como entendem o mundo
é diferente. Quando veem uma coisa, apreendem o detalhe para então sistematizar como funciona o
geral – enquanto a maioria das pessoas apreende o geral para depois se afunilar em detalhes. Isso é
um enorme ponto positivo para engenheiros, físicos, matemáticos, músicos.
Não que não haja um lado negativo. Portadores da síndrome de Asperger também têm dificuldade
em aceitar e adotar regras sociais. Por isso, muitas vezes parecem ter personalidade infantil. Quando
entrou para a faculdade de engenharia, Wittgenstein se fascinou pela obra Os Princípios da Matemática,
de Bertrand Russell. Em 1911, mudou-se para a Universidade de Cambridge para estudar com
Russell. Nos primeiros dias, chegava à sala do mestre à noite e seguia até a manhãzinha desdobrando
suas ideias como que em um monólogo. Em 1926, quando terminou a defesa oral de sua tese de
doutorado, deu um tapinha nos ombros dos examinadores. “Não se preocupem. Eu sei que vocês
nunca conseguirão entender”, disse. Wittgenstein começou então a dar aulas. Em seus seminários, era
como se não houvesse uma audiência. Lutava com seus pensamentos e volta e meia caía em silêncios
que nenhum estudante ousava interromper. Qualquer comentário que considerasse estúpido era
retrucado brutalmente.
Para escrever Investigações Filosóficas, sua maior obra, ficou isolado numa cabana na Irlanda. Certa vez,
o caseiro, que o havia visto conversando, perguntou-lhe se tivera uma boa companhia. A resposta foi:
“Sim, falei muito com um ótimo amigo – eu mesmo”. Numa carta a Bertrand Russell, escreveu: “Estar
sozinho me faz um bem infinito, e não acho que agora poderia suportar a vida entre pessoas”. O único
grande prazer social do filósofo era discutir seus interesses – lógica, linguística e música. O mundo real
pouco lhe importava.
HORTA, Maurício. “O lado bom das coisas ruins”, Superinteressante, São Paulo, nº 302, março 2012. Disponível em: https://
super.abril.com.br/comportamento/o-lado-bom-das-coisas-ruins/. Acesso em: 23 set.2018.
A questão se refere ao texto I.
Texto I
Autismo
Ludwig Wittgenstein, gênio da filosofia, começou a falar só aos 4 anos. Estudou com tutores particulares
em sua casa, em Viena, até os 14 anos. Sem conseguir passar no vestibulinho do colegial, foi parar em
1903 na escola técnica de Linz (a mesma de Adolf Hitler, de quem não foi colega, pois o futuro ditador
estava dois anos atrasado nos estudos). Mas ele simplesmente não se interessava pelos colegas. A
solidão e a dislexia fizeram dele um perfeito alvo de bullying. “Nunca consegui expressar metade do
que queria. Na verdade, não mais que um décimo”, contou em suas memórias.
Assim foi o jovem Wittgenstein. Mas sua excentricidade e o fato de ter revolucionado a filosofia no
século 20 não são uma contradição, segundo o professor Michael Fitzgerald, do Trinity College, em
Dublin. O psiquiatra vê em sua biografia sintomas que caracterizam a síndrome de Asperger – um tipo
de autismo que, aliado a um intelecto avantajado, pode ser a base da genialidade.
Todo autista se foca obsessivamente em interesses muito específicos, tem comportamentos repetitivos
e não se interessa em interagir com outras pessoas. Mas, enquanto a imagem mais comum é a da criança
ensimesmada balançando para a frente e para trás, o espectro do autismo vai desde o atraso mental
até o desenvolvimento linguístico e cognitivo completo – caso da síndrome de Asperger. Quem tem
essa síndrome não se interessa em dividir experiências e emoções, tem padrões restritos, repetitivos e
estereotipados de comportamento e de interesses e não abre mão de sua rotina. Isso torna o convívio
difícil – mas pode ter um efeito colateral inesperado.
“Muitas características da síndrome de Asperger aumentam a criatividade”, escreve Fitzgerald em
Autism and Creativity (Autismo e Criatividade). “Pessoas assim têm uma capacidade extraordinária para
focar-se em um tópico por um longo período – dias, sem interrupção nem mesmo para as refeições.
Não desistem diante de obstáculos.” E não é apenas a concentração. A forma como entendem o mundo
é diferente. Quando veem uma coisa, apreendem o detalhe para então sistematizar como funciona o
geral – enquanto a maioria das pessoas apreende o geral para depois se afunilar em detalhes. Isso é
um enorme ponto positivo para engenheiros, físicos, matemáticos, músicos.
Não que não haja um lado negativo. Portadores da síndrome de Asperger também têm dificuldade
em aceitar e adotar regras sociais. Por isso, muitas vezes parecem ter personalidade infantil. Quando
entrou para a faculdade de engenharia, Wittgenstein se fascinou pela obra Os Princípios da Matemática,
de Bertrand Russell. Em 1911, mudou-se para a Universidade de Cambridge para estudar com
Russell. Nos primeiros dias, chegava à sala do mestre à noite e seguia até a manhãzinha desdobrando
suas ideias como que em um monólogo. Em 1926, quando terminou a defesa oral de sua tese de
doutorado, deu um tapinha nos ombros dos examinadores. “Não se preocupem. Eu sei que vocês
nunca conseguirão entender”, disse. Wittgenstein começou então a dar aulas. Em seus seminários, era
como se não houvesse uma audiência. Lutava com seus pensamentos e volta e meia caía em silêncios
que nenhum estudante ousava interromper. Qualquer comentário que considerasse estúpido era
retrucado brutalmente.
Para escrever Investigações Filosóficas, sua maior obra, ficou isolado numa cabana na Irlanda. Certa vez,
o caseiro, que o havia visto conversando, perguntou-lhe se tivera uma boa companhia. A resposta foi:
“Sim, falei muito com um ótimo amigo – eu mesmo”. Numa carta a Bertrand Russell, escreveu: “Estar
sozinho me faz um bem infinito, e não acho que agora poderia suportar a vida entre pessoas”. O único
grande prazer social do filósofo era discutir seus interesses – lógica, linguística e música. O mundo real
pouco lhe importava.
HORTA, Maurício. “O lado bom das coisas ruins”, Superinteressante, São Paulo, nº 302, março 2012. Disponível em: https://
super.abril.com.br/comportamento/o-lado-bom-das-coisas-ruins/. Acesso em: 23 set.2018.
A
“Estudou com tutores particulares em sua casa, em Viena, até os 14 anos.”
B
“Quando veem uma coisa, apreendem o detalhe para então sistematizar como funciona o geral.”
C
“Portadores da síndrome de Asperger também têm dificuldade em aceitar e adotar regras sociais.”
D
“Lutava com seus pensamentos e volta e meia caía em silêncios que nenhum estudante ousava
interromper.