A citação “tudo que é sólido desmancha no ar”
Leia o texto de Marshall Berman para responder à questão.
Existe um tipo de experiência vital − experiência de tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e dos perigos da vida − que é compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo, hoje. Designarei esse conjunto de experiências como “modernidade”. Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor −, mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambientada na modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambiguidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, “tudo que é sólido desmancha no ar”.
(Tudo que é sólido desmancha no ar, 2007. Adaptado.)
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto, com foco em figuras de linguagem – especialmente a metáfora – e análise da intenção do autor ao empregar a citação “tudo que é sólido desmancha no ar”.
Justificativa para a alternativa correta (B):
A alternativa correta é B: “cria, para apresentar uma ideia abstrata, uma imagem que contradiz a experiência cotidiana.”
Ao citar “tudo que é sólido desmancha no ar", o autor utiliza uma metáfora (figura de linguagem explicada por Evanildo Bechara em Moderna Gramática Portuguesa), trazendo para o plano concreto uma ideia abstrata: a instabilidade e efemeridade das estruturas na modernidade.
No sentido literal, sólidos não se dissolvem no ar. Logo, o trecho contradiz o senso comum para impactar e ilustrar melhor a transitoriedade do mundo moderno. Assim, atende ao que demanda a interpretação do texto: perceber como uma imagem concreta ilustra uma ideia abstrata, mesmo rompendo com a experiência vivida.
Análise das alternativas incorretas:
A) Errada. Não há comparação direta entre períodos históricos e a concretude dos objetos sólidos; trata-se de metáfora, não comparação literal.
C) Errada. O autor não busca depreciar Marx nem discute incongruência científica. O foco está na força expressiva da metáfora.
D) Errada. Não há elogio aos ideais políticos de Marx, somente o uso de sua frase para ilustrar um conceito.
E) Errada. Não se trata de verdade científica sobre matéria sólida, mas de figura de linguagem para expressar abstração.
Estratégias para provas:
Ao se deparar com citações metafóricas, analise sempre se o emprego é literal ou figurado. Questões assim costumam avaliar sua capacidade de perceber o sentido além do óbvio.
Cuidado com pegadinhas: termos como “científica” ou “verdade universal” geralmente indicam leitura equivocada da metáfora. Atente também para o propósito do autor; neste caso, a ênfase é em expressar a fluidez da modernidade, não valorar Marx.
Com o domínio da metáfora e atenção à intenção comunicativa, você ganha segurança para resolver questões similares!
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