Questão 7b6096ff-b0
Prova:UNICENTRO 2010
Disciplina:Filosofia
Assunto:

Consideremos o campo da epistemologia contemporânea; sob esse aspecto, podemos afirmar que a posição de Thomas Kuhn (1922-1996), em relação à ciência, se contrapôs à concepção científica de Karl Popper (1902-1994)? Assinale a alternativa correta.

A
Sim, Kuhn se contrapôs à teoria de Popper ao negar que o desenvolvimento da ciência se dê mediante o ideal de refutação. Ao contrário, Kuhn afirma que a ciência progride pela tradição intelectual representada pelo paradigma, que é a visão de mundo expressa numa teoria.
B
Não, Kuhn absorve a teoria da refutabilidade de Popper ao desenvolver sua concepção de paradigma científico. Para ambos, o que garante a verdade de um discurso científico é sua condição de justificação, ou seja, quando uma teoria é justificada ela é corroborada.
C
Não, Kuhn argumentou que uma teoria, como paradigma, deve ser desenvolvida em vez de criticada, motivo pelo qual ele não poderia opor-se ao pensamento de Popper. Sua tentativa será outra: tentar harmonizar aqueles pontos de vista que divergem do seu.
D
Sim, Kuhn cedo abandonou o empirismo, classificando-se como anarquista epistemológico. Dessa forma, opôs-se não apenas à concepção metodológica de Popper como também de outros contemporâneos seus, como Lakatos, por exemplo. Diferentemente de Popper, Kuhn anuncia que as teorias não são nem verdadeiras, nem falsas, mas úteis.
E
Sim, diferentemente de Popper, para quem a física newtoniana era considerada a imagem verdadeira do mundo, tendo como pressupostos o mecanicismo e o determinismo, Kuhn estabelece como paradigma de sua concepção de ciência o irracionalismo de Heisenberg e seu princípio da incerteza.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: A

Tema central: confronto entre duas concepções de ciência na epistemologia contemporânea — o falsificacionismo de Karl Popper e a teoria dos paradigmas de Thomas Kuhn. É preciso entender como cada autor descreve o progresso científico (refutação contínua vs. fases de “ciência normal” e revoluções).

Resumo teórico (essencial):

- Popper: a ciência avança por conjecturas e refutações; uma teoria científica deve ser falsificável (The Logic of Scientific Discovery, 1934). - Kuhn: descreve ciclos: ciência normal (resolução de puzzles dentro de um paradigma) → acumulação de anomalias → crise → revolução científica → mudança de paradigma (The Structure of Scientific Revolutions, 1962). Kuhn critica a visão de progresso linear por refutações contínuas.

Por que A está certa: A capta o ponto central: Kuhn contrapõe-se a Popper ao negar que o progresso científico ocorra primariamente por refutação permanente. Para Kuhn, a continuidade da tradição intelectual é garantida pelo paradigma — um conjunto de práticas, pressupostos e problemas exemplares — que orienta a ciência normal.

Análise das alternativas incorretas:

B — Incorreta: Kuhn não absorve a refutabilidade de Popper; pelo contrário, ele descreve comportamentos científicos que mostram resistência à refutação até a emergência de uma crise. Também não reduz a ciência à mera justificação que garante “verdade”.

C — Incorreta: afirma que Kuhn “não poderia opor‑se” a Popper e que sua tentativa é harmonizar — isso distorce: Kuhn propõe uma descrição histórica e sociológica dos cientistas que contraria a norma popperiana; Lakatos tentou conciliar, não Kuhn.

D — Incorreta: identificar Kuhn como “anarquista epistemológico” é erro — esse rótulo cabe a Paul Feyerabend. Kuhn não diz que teorias são apenas “úteis” no sentido pragmático extremo; fala de mudança de visão de mundo e incommensurabilidade.

E — Incorreta e equívoca: Kuhn não toma o princípio da incerteza de Heisenberg como paradigma central nem promove um “irracionalismo”. Essa alternativa mistura conceitos de física com leitura histórica inadequada — além de ser a fonte de muitos erros conceituais.

Dica de prova: busque termos-chave (refutação/falsificabilidade; paradigma; ciência normal; revolução). Alternativas que misturam autores ou atribuem posições extremas costumam ser pegadinhas.

Fontes sugeridas: T. Kuhn, The Structure of Scientific Revolutions (1962); K. Popper, The Logic of Scientific Discovery (1934).

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