Questão 7b45a265-b0
Prova:UNICENTRO 2010
Disciplina:Filosofia
Assunto:

“A modernidade pós-kantiana procura ‘dialetizar’ a certeza moral. Procurou-se contextualizar a realização moral no momento dialético do progresso da humanidade. Procurou-se encontrar uma medida para avaliar os diferentes graus de realização moral ao alcance do homem. Reconheceu-se que a civilização melhorou a qualidade moral do homem, cujos instintos animalescos foram sendo progressivamente domesticados. / Os principais representantes desse modelo relativista são os alemães Karl Marx e Sigmund Freud”. (CUNHA, J. A. Filosofia – Iniciação à investigação filosófica. São Paulo: Atual, 1992).


Caracterize, a partir da leitura do texto acima, a concepção filosófica da ética contemporânea, assinalando a resposta correta.

A
Parece mesmo que a civilização ocidental, ao tentar manter equidistância entre os dois princípios de transcendência que inspiraram suas primeiras conquistas culturais – o princípio de transcendência moral e o princípio de transcendência estética –, viu-se compelida a sustentar a própria ideia de crise como ideal civilizatório unificador. Por traz dessa ideia, está o homem concreto da ação moral, os valores da vida e a valorização do corpo e das paixões.
B
A consciência, crescente nas décadas que se sucederam a Segunda Guerra Mundial, de que o “princípio da realidade” ou o “movimento dialético da história”, libertaram o homem da necessidade de realização moral, é a base de sustentação da ética contemporânea. A busca da felicidade não passa pela moral, mas sim pela realização econômico-social de caráter individualizante.
C
A moralidade, sob a ótica contemporânea, figura no campo das compensações: ela retira o comportamento humano da determinação da realidade e o coloca sob orientação do princípio de prazer. A ética constitui, nesses termos, um conjunto preceitos que orientam os homens na busca pela satisfação responsável e consciente de seus apetites e desejos.
D
O principal paradigma da moralidade, hoje, possui critérios de valoração regidos pelo seguinte princípio determinante: ou tudo ou nada. Ou o agente moral é obediente, e está moralmente justificado, ou é desobediente e está em falta. Nesses termos, qualquer falta põe em evidência a condição de que tal agente não é bom, pois não é absolutamente bom.
E
Combater as superstições e o arbítrio de poder, defender o pluralismo e a tolerância das ideias, eis o paradigma da moralidade contemporânea. Com efeito, a tradição religiosa não lhe basta, os ideais morais devem ser filiados à moralidade de uma classe social, buscando o máximo de universalidade e socialização. A validade das normas deve estar filiada ao ideal universal de bem, sendo que a virtude resulta do trabalho reflexivo, isto é, do controle racional dos desejos e paixões.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: D

Tema central: a questão explora a ética contemporânea no horizonte pós-kantiano: como a certeza moral foi “dialetizada”, isto é, historicizada e contextualizada (medida em graus de realização), com explicações que remetem a Marx (fundamentação social/histórica dos valores) e Freud (origem psicológica/instintiva dos desejos).

Resumo teórico e leitura do texto: a modernidade pós‑kantiana questionou verdades morais absolutas, buscando explicações históricas, sociais e psicológicas. Há, portanto, uma tensão entre:

Relativismo/historicismo (valores dependem de condições sociais e históricas — Marx).

Explicação psicológica (os processos inconscientes e o princípio do prazer moldam condutas — Freud).

Por que a alternativa D é a correta?

A alternativa D capta, do ponto de vista do enunciado, a consequência prática dessa “dialetização”: quando se exige uma medida histórica ou psicológica de realização moral, passa a existir um critério normativo rígido — a ideia de realização plena — que torna o juízo moral totalizante: ou o agente alcança o padrão (é “obediente/bom”) ou falha integralmente. Em outras palavras, a tentativa de medir moralmente o progresso humano pode gerar um paradigma avaliativo binário (“tudo ou nada”), que o enunciado aponta como característica dominante na leitura crítica da ética contemporânea.

Análise das alternativas incorretas

A — mistura temas estéticos e uma visão de valorização do corpo/paixões que não corresponde ao núcleo do texto, que trata da historicização e medição moral (Marx/Freud), não de um equilíbrio estético-moral.

B — reduz a ética contemporânea à busca econômica/individualista; o texto fala de medida dialética da moral e domesticamento de instintos, não de eliminação pura da exigência moral.

C — aproxima-se do freudiano (princípio do prazer), mas transforma a ética em mera busca do prazer responsável; o texto enfatiza a explicação histórica/psicológica da moralidade, não a orientação normativa ao prazer.

E — descreve pluralismo, tolerância e racionalismo moral (mais próximo do projeto kantiano ou liberal), contrapondo-se ao foco do texto em explicações que relativizam e medem a moral historicamente.

Dica prática para provas: destaque palavras-chave do enunciado — “dialetizar”, “medida”, “graus de realização”, “domesticados” e os autores citados — e compare cada alternativa com esses termos: a correta terá maior coerência com o efeito prático que o autor atribui à mudança de paradigma moral.

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