“(...) nós, contemporâneos, enxergamos os antigos com admiração e grandiosidade.
Sendo assim, deve-se destacar que, sempre no tempo presente, utilizamos de conceitos
que remetem à Antiguidade para batizar objetos novos, com o intuito de lhes dar grandeza. Por meio de uma construção ideológica de Ocidente, o mais comum neste processo de busca do passado são as reivindicações do passado correspondente à Antiguidade
Clássica, com a ideia de pertencimento ou legado da Grécia e Roma Antigas”.
BONFÁ, Douglas Cerdeira. “Antiguidade, identidade e os usos do passado”. In: Revista Estudos
Filosóficos e Históricos da Antiguidade. Campinas, nº 30, p. 13, jan-dez 2016.
Com base na afirmação acima, assinale a alternativa INCORRETA.
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: usos da Antiguidade como recurso de legitimação cultural e política na tradição ocidental — como atores políticos, intelectuais e a cultura de massa reinterpretram a Grécia e Roma para conferir autoridade a ideias, regimes e produtos culturais.
Resumo teórico: a recepção clássica é um processo contínuo: do Humanismo renascentista aos nacionalismos e às ideologias do século XX, autores e regimes invocaram modelos antigos para criar «legado» e prestígio. Textos-chave: Maquiavel (Il Principe; Discorsi sopra la prima deca di Tito Livio) usa exemplos romanos de forma analítica e pragmática; estudiosos como Eric Hobsbawm (The Invention of Tradition) explicam como o passado é reconstruído para fins políticos; historiadores do fascismo (por exemplo Emilio Gentile) mostram o apelo ao mito da romanidade.
Por que A é a INCORRETA (justificativa): A alternativa afirma que Maquiavel rechaçou a valorização da Antiguidade. Isso é impreciso. Maquiavel não rejeita a Antiguidade; ele a lê criticamente. Nos Discorsi, usa Roma como fonte de exemplos para princípios republicanos e para análise do poder. Em O Príncipe, analisa antigos e modernos para extrair lições pragmáticas. Logo, afirmar que ele rechaçou a valorização é falso — Maquiavel instrumentaliza a Antiguidade, não a descarta.
Análise das demais alternativas (por que são corretas):
B — correta: Estudos clássicos nos séculos XIX–XX reforçaram a ideia de uma cultura europeia ocidental legítima — filologia, ensino clássico e neoclassicismo serviram para construir identidades nacionais e europeias (ver debates sobre «civilização ocidental»).
C — correta: A Itália fascista idealizou a Antiguidade romana, apelando ao mito da romanidade para projetar continuidade e grandeza imperial — fenômeno amplamente estudado pela historiografia do fascismo.
D — correta: Depois da II Guerra, o cinema estadunidense investiu no épico histórico (ex.: Quo Vadis, 1951; Ben‑Hur, 1959; Spartacus, 1960), usando a Roma antiga como cenário para grandes narrativas e legitimidade cultural.
E — correta: A ideia de império com poder centralizado e frequentemente sacralizado tem raízes antigas (Egito, Mesopotâmia, Pérsia, Roma); estruturas políticas e símbolos sacralizados do poder remontam à Antiguidade.
Dica de prova: desconfie de alternativas que generalizam radicalmente (p. ex. «rechaçou totalmente»). Relacione nomes a obras concretas (ler passagem dos Discorsi ajuda a eliminar a pegadinha sobre Maquiavel).
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