Assinale a alternativa que apresenta um trecho do texto e
uma figura de linguagem que nele ocorre.
Leia o trecho da crônica de Machado de Assis, escrita em
1861, para responder à questão.
Começo por uma raridade, não uma dessas raridades
vulgares de que fala uma personagem de teatro, mas uma raridade vulgarmente rara: — o governo de acordo com a opinião. Os complacentes e os otimistas hão de rir; não assim os
julgadores severos; esses dirão consigo: — é verdade! — A
opinião havia acolhido com entusiasmo a unificação da Itália;
o governo acaba de reconhecer com prazer e sem delongas
acintosas o novo reino italiano. Não é caso de milagre, mas
também não é comum. Afez-se o país por tal modo a ver no governo o seu primeiro contraditor, que não pôde reprimir uma exclamação quando o viu pressuroso concluir o ato diplomático a que aludo. E
por que não havia de fazê-lo? Perguntará o otimista. Eu sei!
por descuido, por cortesania, por qualquer outro motivo, mas
a regra é invariável: o governo sempre contrariou a opinião.
(Comentários da semana, 2008.)
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda figuras de linguagem, mais especificamente o paradoxo. Este é um recurso em que duas ideias aparentemente contraditórias são associadas para produzir um sentido inovador ou para destacar ideias no texto.
Justificativa da alternativa correta (D):
No trecho “Começo por uma raridade, não uma dessas raridades vulgares de que fala uma personagem de teatro”, Machado de Assis utiliza a expressão “raridades vulgares”. “Raridade” sugere algo incomum, enquanto “vulgar” significa comum. A associação destas ideias contraditórias caracteriza o paradoxo — figura que desafia a lógica comum para causar reflexão ou ironia, de acordo com Bechara (Moderna Gramática Portuguesa) e Cunha & Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo).
Estratégia para identificar paradoxo: busque, nos textos, enunciados que unem elementos logicamente opostos mas que fazem sentido juntos, provocando estranhamento ou ironia. O efeito está justamente no “choque” das ideias.
Análise das alternativas incorretas:
A) Atribui hipérbole ao trecho “não assim os julgadores severos; esses dirão consigo: — é verdade!”. Erro: Hipérbole é exagero intencional (ex: “chorei rios de lágrimas”), o que não ocorre aqui.
B) Indica personificação no mesmo trecho, mas não há atribuição de qualidades humanas a seres inanimados ou abstratos. “Julgadores severos” já são pessoas.
C) Aponta pleonasmo em “o governo sempre contrariou a opinião”. Não há repetição desnecessária de ideias; pleonasmo seria “subir para cima”.
E) Marca eufemismo no mesmo trecho da letra D. Eufemismo suaviza uma ideia incômoda (ex: “foi desta para melhor”), o que não está presente.
Dica de prova: Ao analisar figuras de linguagem, evite responder apenas por “palavras marcantes”; atente-se ao sentido global do trecho e à definição clássica da figura, conforme manuais e gramáticas.
Conclusão: A alternativa D é a correta, pois apresenta um verdadeiro paradoxo, típico do estilo machadiano e do uso refinado das figuras de linguagem.
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