Machado de Assis faz o comentário sobre um acontecimento
histórico específico. Segundo o autor,
Leia o trecho da crônica de Machado de Assis, escrita em
1861, para responder à questão.
Começo por uma raridade, não uma dessas raridades
vulgares de que fala uma personagem de teatro, mas uma raridade vulgarmente rara: — o governo de acordo com a opinião. Os complacentes e os otimistas hão de rir; não assim os
julgadores severos; esses dirão consigo: — é verdade! — A
opinião havia acolhido com entusiasmo a unificação da Itália;
o governo acaba de reconhecer com prazer e sem delongas
acintosas o novo reino italiano. Não é caso de milagre, mas
também não é comum. Afez-se o país por tal modo a ver no governo o seu primeiro contraditor, que não pôde reprimir uma exclamação quando o viu pressuroso concluir o ato diplomático a que aludo. E
por que não havia de fazê-lo? Perguntará o otimista. Eu sei!
por descuido, por cortesania, por qualquer outro motivo, mas
a regra é invariável: o governo sempre contrariou a opinião.
(Comentários da semana, 2008.)
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de Texto. Esta questão exige a leitura atenta e a análise crítica do texto de Machado de Assis, destacando a postura do governo frente ao desejo da população, e a identificação de ironias e exceções apresentadas pelo autor.
Justificativa da alternativa correta (C):
Machado de Assis apresenta um acontecimento histórico raro: o governo, contrariando seu costume, atendeu prontamente ao desejo popular (no caso, o reconhecimento da unificação da Itália). Isso está explícito quando o autor classifica o fato como “raridade vulgarmente rara” e afirma que “a regra é invariável: o governo sempre contrariou a opinião”, mas, neste episódio específico, acatou o anseio da sociedade. Portanto, a alternativa C está correta: “Contrariamente ao costume, o governo acatou o desejo da população.”
Como a interpretação foi feita:
Observei expressões de exceção e ironia no texto, elementos frequentes no estilo machadiano. O autor constrói um contraste entre o costume habitual (contrariar a opinião) e o fato excepcional narrado. Segundo Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), a ironia consiste justamente em afirmar o contrário do habitual, para ressaltar uma crítica social.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta: Afirma que o governo agiu como de costume contrariando o povo, o que é negado pelo texto: foi uma exceção.
B) Incorreta: Diz que a população estava dividida e o governo unificou a opinião, mas o texto não menciona divisão; o consenso entre povo e governo é o fora do comum.
D) Incorreta: Sugere que normalmente o governo acata a população, o que o texto explicitamente nega (“governo sempre contrariou a opinião”).
E) Incorreta: Supõe que o governo estava contrariado ao acatar o desejo popular, mas o texto diz que houve prazer e ausência de resistência.
Dicas para interpretar questões desse tipo:
1. Atenção a modificadores como "de costume", "contrariamente", "raridade".
2. Leia com atenção as ironias e o tom do autor.
3. Destaque palavras-chave que indicam oposição à norma ou exceção à regra.
De acordo com autores como Celso Cunha & Lindley Cintra, a boa interpretação exige localizar o argumento principal e entender as sutilezas de sentido e de crítica contidas no texto.
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