Questão 788820e7-3d
Prova:FGV 2014
Disciplina:História
Assunto:Construção de Estados e o Absolutismo, História Geral

A unidade italiana – o processo de constituição de um Estado único para o país – conserva o sistema oligárquico (...) Isto não impede a formação do Estado, mas retarda a eclosão do fenômeno nacional.

(Leon Pomer, O surgimento das nações, 1985, p. 40-42)

Fizemos a Itália; agora, precisamos fazer os italianos.

(Massimo d'Azeglio Apud E. J. Hobsbawm, A era do capital, 1977, p. 108)

A partir dos textos, é correto afirmar que

A
apesar de ter nascido antes da nação, o Estado italiano, unificado em 1871, representou os interesses dos não-proprietários, o que implicou a defesa de mudanças revolucionárias, que tornaram o Estado não autoritário e permitiram a emergência do sentimento nacional, já fortificado pelas guerras de unificação.
B
o Estado italiano, nascido em 1848, na luta da alta burguesia do norte pelo poder, representava os interesses liberais, isto é, a unidade do país como um alargamento do Estado piemontês, na defesa da pequena propriedade e do voto universal, condições para a consolidação do sentimento nacional que cria os italianos.
C
em 1848, a criação do Estado italiano, pela burguesia do Reino das Duas Sicílias, foi uma vitória do liberalismo, pois a estrutura fundiária, baseada na grande propriedade, e a exclusão política dos não-proprietários permaneceram, encorajando os valores nacionais, condição para diminuir as diferenças regionais.
D
em 1871, o processo de unificação e o sentimento nacional estavam intimamente ligados, na medida em que a classe proprietária do centro da península, vitoriosa na guerra contra a Áustria, absorveu os valores populares nacionais, o que legitimou a formação do Estado autoritário, defensor das desigualdades regionais.
E
o Estado italiano nasceu antes da nação, em 1871, como uma construção artificial, frágil e autoritária da alta burguesia do norte, cujos interesses de dominação excluíram as mudanças revolucionárias e atrasaram a emergência do sentimento nacional, ainda estranho para a grande maioria das diferentes regiões da península.

Gabarito comentado

G
Gabrielle FrancoMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa E

Tema central: trata-se da relação entre Estado e Nação no processo de unificação italiana (Risorgimento). A questão exige distinguir quando o Estado moderno foi constituído e por quem, e perceber que a identidade nacional (os “italianos”) demorou a se consolidar porque a elite dominante preservou estruturas oligárquicas.

Resumo teórico: o conceito-chave é a diferença entre formação do Estado (instituições, fronteiras, governo central) e formação da nação (consenso cultural, sentimento nacional). No caso italiano, o Estado unificado foi fruto da ação política e militar da elite do norte (Piedmont-Sardenha) e de atores como Cavour e Garibaldi; porém, a massificação do sentimento nacional avançou mais lentamente, pois amplas camadas sociais permaneceram excluídas do voto e dos benefícios econômicos (Hobsbawm; Pomer). Autores úteis: E. J. Hobsbawm, The Age of Capital; Benedict Anderson, Imagined Communities.

Por que a alternativa E está correta: afirma que o Estado nasceu antes da nação (o Estado foi consolidado por uma elite burguesa do norte em 1871), que essa construção foi em grande medida artificial e autoritária, e que a exclusão das massas retardou o sentimento nacional — leitura alinhada às fontes citadas. O aforismo de d’Azeglio (“Fizemos a Itália; agora, precisamos fazer os italianos”) resume essa ideia: unificou-se o aparelho estatal sem imediatamente criar uma identidade nacional comum.

Análise das alternativas incorretas:

A — incorreta: inverte os atores sociais. Não foi o Estado que representou os não-proprietários nem promoveu reformas revolucionárias que democratizassem o país; ao contrário, as elites mantiveram privilégios.

B — incorreta: erro factual e conceitual. A unificação não promoveu voto universal nem defesa generalizada da pequena propriedade; o processo teve liderança da burguesia norte-italiana e do Estado piemontês, mas manteve caráter liberal-conservador e restritivo politicamente.

C — incorreta: afirma que o Estado surgiu em 1848 e pela burguesia das Duas Sicílias — ambos imprecisos. O poder central vitorioso vinha de Piemonte; o Sul teve papel distinto e sofreu marginalização após a unificação.

D — incorreta: exagera ao dizer que a classe proprietária “absorveu os valores populares” e que isso legitimou um Estado autoritário defensor das desigualdades regionais. Na verdade, havia distanciamento entre elites e massas; legitimidade popular era limitada.

Estratégias para resolver questões assim:

  • Identifique quem são os agentes (elites, burguesia, massas) e o período exato (datas: 1848 vs 1871).
  • Distinga “Estado” (institucional) de “nação” (cultural/identitária).
  • Desconfie de alternativas que atribuam rapidamente a favor das massas mudanças revolucionárias sem evidências históricas.

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