Questão 6ece4a1e-34
Prova:PUC-GO 2015
Disciplina:História
Assunto:História do Brasil, Brasil Monárquico – Segundo Reinado 1831- 1889

Pioneirismo, empreendedorismo e busca de fortunas fizeram parte do projeto de vida de alguns homens de negócio no Brasil imperial. Em meados do século XIX, com a proibição do tráfico de escravos, configurou- se um novo cenário para a economia do Império brasileiro. Vislumbrou-se a uma elite mercantil capitalizada a possiblidade de grandes negócios e lucros fáceis que, além de multiplicar suas riquezas, permitia-lhe ascender na restrita escala social brasileira. Assinale a alternativa correta sobre os projetos econômicos desse momento histórico:

TEXTO 5

    TODO PIONEIRO É UM FORTE, pensava Bambico. Acredita nos sonhos. Se não fosse por ele, o mundo ainda estaria no tempo das cavernas... Quanto mais pensava nisso, mais se fortalecia. 

     Bambico chegara à Amazônia com as mãos vazias, vindo do Sul. Mas tinha na cabeça projetos grandiosos. Queria extrair da natureza toda a riqueza intacta, como o garimpeiro faz. Não desejava, entretanto, cavar rio e terra para achar pepitas de ouro. Não tinha vocação para tatu. Não faria como os garimpeiros: quando não havia mais nada, eles se mudavam, atrás de outros garimpos.

    — Garimpeiro vive de ilusões. Eu gosto de projetos! 

    Que projetos grandiosos eram? Cortar árvores, exportar madeiras preciosas para a casa e a mobília dos ricos. Em seguida, semear capim, povoando os campos com as boiadas de nelore brilhando de tanta saúde. A riqueza estava acima do chão. A imensidão verde desaparecia no horizonte. Só de olhar para uma árvore, sabia quantos dólares cairia em seus bolsos. Quando ouvia os roncos das motosserras, costumava dizer, orgulhoso: 

    — Eis o barulho da fortuna! 

    Montes de serragem eram avistados de longe quando o visitante chegava às pequenas comunidades. Os caminhões de toras gemiam nas estradas esburacadas. Índios e caboclos eram afugentados à bala. A floresta se transformava num pó fino, que logo apodrecia. Quando os montes de serragem não apodreciam, eram queimados, sempre apressadamente. Por dias, os canudos negros de fumaça subindo pesadamente ao céu. Havia o medo dos fiscais. Quando apareciam, quase nunca eram vistos, era conveniente que houvesse pouca serragem...

    Que história, a de Bambico! Teria muita coisa a contar para os netos que haveriam de chegar. 

    Em seu escritório, fumando um Havana, que um importador americano lhe presenteara, estufou o peito, vaidoso. 

    — Sim, muitas coisas! Quem te viu, quem te vê!

    [...]

    Sentia prazer com seus projetos grandiosos. Toda manhã se levantava para conquistar o mundo. Vereança era merreca. Não se rastejava em pequenos projetos. Muito menos desejava ser deputado... Ambicionava altos voos. Todo deputado era pau-mandado dos ricos. O Senado, sim, era o grande alvo. Lá, ele poderia afrontar esses “falsos profetas protetores da natureza". Essas ONGs de fachada... Lá, o seu cajado cairia sem dó, como um verdugo, sobre o costado dessa gente tola. Enquanto isso, ele poderia continuar seus projetos grandiosos. Cortar árvores, exportar madeiras preciosas para a casa e a mobília dos ricos, e semear capim. 

    Sonhara em ter uma dúzia de filhos, mas o destino lhe dera apenas dois. Sua mulher, após o segundo parto, ficara impossibilitada de procriar. Não queria fêmea entre os seus descendentes, mas logo no primeiro parto veio a decepção. Uma menina. Decepcionado, nada comentou com a esposa. No segundo, depois de uma gravidez tumultuada, veio o varão. Encheu-se de alegria. Com certeza, mais varões estavam para vir... [...]

                               (GONÇALVES, David. Sangue verde. São Paulo: Sucesso Pocket, 2014. p. 114-115.)


A
Os empresários e políticos que se aventuraram em empresas financeiras tiveram o apoio inconteste do Estado e conseguiram, assim, abrir inúmeras casas bancarias nas províncias.
B
Surgiram empresas de navegação e de construção de estradas terrestres e de ferro, todas elas subsidiadas inteiramente pelo capital nacional.
C
Os empreendimentos de mineração, devido aos excelentes resultados econômicos e sociais da exploração do ouro conseguidos anteriormente na capitania de Minas Gerais, foram estimulados e revigorados pelas empresas nacionais.
D
Alguns comerciantes receberam concessões territoriais e privilégios do Estado e investiram suas fortunas em empreendimentos de colônias agrícolas, visando à produção para exportação, em especial, de café.

Gabarito comentado

A
Anderson MaiaMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: D

Tema central: trata-se da transformação econômica do Brasil imperial em meados do século XIX, no período pós-proibição do tráfico de escravos (Lei Eusébio de Queirós, 1850). É preciso entender como elites mercantis redirecionaram investimentos — sobretudo para a agricultura de exportação (principalmente café) — e o papel do Estado e do capital estrangeiro nesses projetos.

Resumo teórico: com o fim do tráfico, parte da elite comercial e rural buscou outras formas de lucro: expansão do café no Vale do Paraíba e interior paulista, uso de imigrantes e formas de colonato, exploração de concessões de terras e títulos para formar grandes fazendas exportadoras. Ao mesmo tempo, obras de infraestrutura (estradas de ferro, navegação) cresceram, mas em grande parte com capital estrangeiro e por meio de concessões do Estado — não inteiramente subsidiadas pelo capital nacional.

Justificativa da alternativa Dcorreta: comerciantes e membros da elite receberam ou compraram grandes extensões de terras e usufruíram de privilégios e benefícios estatais (concessões, facilidades fiscais em algumas regiões), investindo em plantações voltadas à exportação — sobretudo café. Esse processo explica a formação de latifúndios cafeeiros e a ascensão social desses investidores dentro da hierarquia imperial.

Análise das alternativas incorretas:

A — incorreta. A afirmação de “apoio inconteste do Estado” para abrir inúmeras casas bancárias provinciais é exagerada. Houve expansão do crédito e bancos (ex.: Banco do Brasil), mas o crescimento bancário não se deu por um apoio estatal irrestrito que permitiu abertura massiva de bancos provinciais; grande parte do crédito e do capital vinha de iniciativa privada e capital estrangeiro.

B — incorreta. Sim, surgiram empresas de navegação e ferrovias, mas elas foram majoritariamente financiadas por capitais estrangeiros (especialmente britânicos) e mediante concessões estatais. A expressão “subsidiadas inteiramente pelo capital nacional” é falsa — é uma armadilha comum em provas: o termo “inteiramente” indica erro.

C — incorreta. A mineração (ciclo do ouro) teve seu auge no século XVIII; no século XIX não houve um revigoramento generalizado por empresas nacionais capaz de transformar a economia como faz crer a alternativa. O foco do período foi a agricultura de exportação, não uma nova era de mineração.

Dica de interpretação: desconfie de termos absolutos (“inconteste”, “inteiramente”, “excelentes resultados”) e compare com o contexto econômico conhecido: capital estrangeiro teve papel central em infraestrutura; a elite local aplicou recursos em terras e plantações exportadoras.

Fontes e leituras recomendadas: Lei Eusébio de Queirós (1850); estudos de História Econômica do Brasil (Caio Prado Júnior; Boris Fausto; Thomas Skidmore em sínteses sobre o Brasil imperial).

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