Questão 6d9ef15c-d9
Prova:FASM 2014
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Afirma-se sobre a obra de Dalton Trevisan que seus personagens vivenciam situações banais, porém carregadas de significação, pois o autor insere em seus contos a crítica ao processo de desumanização do ser humano.

É correto concluir que o trecho do conto

Leia um trecho do conto Uma vela para Dario, do escritor curitibano Dalton Trevisan, para responder à questão.


    Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.
    Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
    Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.
    Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.
    A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede – não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.
    Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria.
    Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delícias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.
    Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados – com vários objetos – de seus bolsos e alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade, sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.
    Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario. O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo – os bolsos vazios.

(Herberto Sales (org.). Antologia escolar de contos brasileiros, s/d. Adaptado.)

A
respalda essa afirmação, pois algumas pessoas que assistem à cena são indiferentes à morte de Dario e outras chegam a ponto de subtrair-lhe os pertences.
B
respalda essa afirmação, visto que a polícia recusa-se a tomar providências uma vez que não tem condições de identificar quem é o indivíduo morto.
C
contesta essa afirmação, pois, pela descrição da personagem, constata-se que Dario era displicente com a saúde e desprezava a própria morte.
D
contesta essa afirmação, visto que alguns passantes, apesar dos contratempos, levam Dario de táxi ao hospital e, posteriormente, à farmácia.
E
respalda essa afirmação, pois os passantes não procuram descobrir quem era aquele homem morto e se omitem, portanto, da tarefa de avisar os familiares.

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