Questão 6c766893-fd
Prova:UFT 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Leia o Capítulo II do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, para responder a QUESTÃO .


Capítulo II

Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém, deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer, foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... – Bonita canoa! – Antes assim! – Como obedece bem aos remos do homem! – O certo é que eles estão no céu!


Fonte: ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: Ática, 1988, p. 13.



O capítulo apresenta reflexões do ex-professor Rubião sobre o “abismo que há entre o espírito e o coração”.

É CORRETO afirmar que no capítulo pode ser observado que:

A
a canoa e o canoeiro são metáforas do narrador e da personagem, respectivamente.
B
a voz do narrador se mistura ao pensamento da personagem.
C
não ter filho ou filha é algo bom para o coração e para o espírito.
D
o coração e o espírito morrem, apesar do abismo entre eles.

Gabarito comentado

M
Marília Teixeira Monitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de texto – Fusão entre voz do narrador e pensamento da personagem

A questão avalia sua capacidade de perceber recursos narrativos presentes em textos literários, sobretudo o discurso indireto livre, muito utilizado por Machado de Assis para dar profundidade psicológica aos personagens.

Justificativa da alternativa correta (B):
A alternativa B (“a voz do narrador se mistura ao pensamento da personagem”) está correta. O texto mescla os julgamentos e sentimentos do ex-professor Rubião às observações do narrador, sem uso de travessões ou verbos dicendi (“disse”, “pensou”, etc). Por exemplo: “Que abismo que há entre o espírito e o coração!” e os comentários sobre a canoa são exemplos claros desse entrelaçamento de vozes.
Na norma-padrão, esse fenômeno é chamado de discurso indireto livre, definido por Bechara (Moderna Gramática Portuguesa) como “mistura de elementos do relato do narrador com o pensamento do personagem, sem necessidade de marcas explícitas”.

Análise das alternativas incorretas:

A) Incorreta. A canoa e o canoeiro não são metáforas do narrador e da personagem, mas apenas elementos da cena observada por Rubião.
C) Errada. Não é dito que é bom tanto para o coração quanto para o espírito que não haja filhos; existe um conflito interno. Apenas o coração encontra algum alívio na ideia.
D) Falsa. O texto não trata da morte do coração e do espírito, mas sim do abismo entre eles, destacando a diferença entre raciocínio e sentimento.

Estratégia de leitura e pegadinha:

É importante notar expressões sem marcas explícitas, como perguntas retóricas e frases soltas, típicas do pensamento do personagem, sem sinalização tradicional do discurso direto. Evite se apegar a elementos da cena superficialmente (canoa/canoeiro) e foque nos efeitos de sentido produzidos pela mistura das vozes.
Esses recursos são recorrentes em narradores oniscientes intrusos (Machado de Assis), conforme indicado nas principais gramáticas e manuais.

Dominar a distinção entre as vozes do texto aprimora sua interpretação em qualquer exame. Confie em sua leitura e aprofunde a análise dos mecanismos narrativos!

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