Questão 6c526f9d-fd
Prova:UFT 2018
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Sobre a interpretação do texto, assinale a alternativa CORRETA.

Opinião não é argumento
Aqui está uma história que pode ser verdadeira no contexto atual do Brasil. Um jovem professor de Filosofia, instruindo seus alunos à Filosofia da Religião, introduz, à maneira que a Filosofia opera há séculos, argumentos favoráveis e contrários à existência de Deus. Um dos alunos se queixa, para o diretor e também nas onipresentes redes sociais, de que suas crenças religiosas estão sendo atacadas. “Eu tenho direito às minhas crenças”. O diretor concorda com o aluno e força o professor a desistir de ensinar Filosofia da Religião.
Mas o que é exatamente um “direito às minhas crenças”? [...] O direito à crença, nesse caso, poderia ser visto como o “direito evidencial”. Alguém tem um direito evidencial à sua crença se estiver disposto a fornecer evidências apropriadas em apoio a ela. Mas o que o estudante e o diretor estão reivindicando e promovendo não parece ser esse direito, pois isso implicaria precisamente a necessidade de pôr as evidencias à prova.
Parece que o estudante está reivindicando outra coisa, um certo “direito moral” à sua crença, como avaliado pelo filósofo americano Joel Feinberg, que trabalhou temas da Ética, Teoria da Ação e Filosofia Política. O estudante está afirmando que tem o direito moral de acreditar no que quiser, mesmo em crenças falsas.
Muitas pessoas acham que, se têm um direito moral a uma crença, todo mundo tem o dever de não as privar dessa crença, o que envolve não criticá-la, não mostrar que é ilógica ou que lhe falta apoio evidencial. O problema é que essa é uma maneira cada vez mais comum de pensar sobre o direito de acreditar. E as grandes perdedoras são a liberdade de expressão e a democracia.
[...] A defesa de uma crença está restrita ao uso de métodos que pertence ao espaço das razões – argumentação e persuasão, em vez de força. Você tem o direito de avançar sua crença na arena pública usando os mesmos métodos de que seus oponentes dispõem para dissuadi-lo. O pior acontece quando crenças se materializam em opinião, e são usadas como substitutas de argumentos, quando o “Eu tenho direito às minhas crenças” se transforma em “Eu tenho direito à minha opinião”. Crenças e opiniões não são argumentos. Mais precisamente, crenças diferem de opinião, que diferem de fatos, que diferem de argumentos. Um fato é algo que pode ser comprovado verdadeiro. Por exemplo, é um fato que Júpiter é o maior planeta do sistema solar tanto em diâmetro quanto em massa. Esse fato pode ser provado pela observação ou pela consulta a uma fonte fidedigna.
Uma crença é uma ideia ou convicção que alguém aceita como verdade, como “passar debaixo de uma escada dá azar”. Isso certamente não pode ser provado (ou pelo menos nunca foi). Mas a pessoa ainda pode manter sua crença, como vimos, se não pelo “direito evidencial”, apelando para o “direito moral”. Ou ainda, pelo mesmo “direito moral”, deixar de acreditar no que ela própria pensa ser evidência, como no caso do famoso dito (atribuído a Sancho Pança): “Não creio em bruxas, ainda que existam”. [...]

Fonte: CARNIELLI, Walter. Página Aberta. In: Revista Veja. Edição 2578, ano 51, nº 16. São Paulo: Editora Abril, 2018, p. 64 (fragmento adaptado). 

A
O texto apresenta que os professores brasileiros devem se valer do uso de crenças e opiniões, em detrimento de argumentos e persuasão.
B
O texto apresenta que um dos alunos sentiu-se desrespeitado por acreditar que suas crenças estavam sendo violadas quando o professor expôs conteúdos vinculados à Filosofia da Religião.
C
O texto apresenta que a opinião dos alunos deve se sobrepor à opinião do professor, posto que não cabe ao docente discutir temas ligados à Filosofia da Religião.
D
O texto apresenta a desobrigação da escola em promover discussões sobre o uso de métodos que pertence ao espaço das razões, como argumentação e persuasão.

Gabarito comentado

G
Glauco Figueiredo Monitor do Qconcursos

Gabarito: B

Tema central: Interpretação de texto, com ênfase em compreensão global e análise do posicionamento das personagens da narrativa. O candidato deve utilizar leitura atenta e identificar informações explícitas no texto para eliminar pegadinhas e generalizações equivocadas.

Análise da alternativa correta (B):
O texto narra que um aluno sente-se desrespeitado ao considerar suas crenças violadas quando um professor expõe temas relativos à Filosofia da Religião. O trecho-chave está em: "Um dos alunos se queixa [...] de que suas crenças religiosas estão sendo atacadas." Portanto, a alternativa B replica fielmente a situação relatada, demonstrando a importância de distinguir fatos efetivamente ocorridos no texto dos juízos pessoais do candidato.

Estratégia para acertar: Localize no texto as ações e reações das personagens, tomando cuidado com inferências exageradas ou interpretações subjetivas.

Análise das alternativas incorretas:

A) Incorreta porque o texto critica justamente a substituição de argumentos e persuasão por crenças e opiniões. Não há recomendação para que professores ajam assim.
C) Equivocada ao sugerir que o texto defende a superioridade da opinião dos alunos e a omissão do professor em temas de Filosofia da Religião. O texto ressalta, ao contrário, o valor do debate e das razões.
D) Incorreta porque o texto reforça a necessidade da escola em fomentar a argumentação e persuasão em debates de crenças e opiniões. Portanto, é oposto ao que apresenta essa alternativa.

Dica de prova: Em questões desse tipo, atenção aos conectivos ("por isso", "logo", "portanto") e aos termos referenciais ("esse", "isso", "aquele"), que auxiliam a localizar relações de causa e efeito ou de oposição entre as ideias.

Referência: Segundo Bechara e Koch, na interpretação textual, a coerência e a fidelidade ao texto-base são fundamentais: não se deve inferir além do que está realmente expresso.

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