A letra da canção de Gilberto Gil, apresentada como Texto 1, caracteriza-se, predominantemente, por:
A letra da canção de Gilberto Gil, apresentada como Texto 1, caracteriza-se, predominantemente, por:
TEXTO 1:
Chiquinho Azevedo
(Gilberto Gil)
Chiquinho Azevedo
Garoto de Ipanema
Já salvou um menino
Na Praia, no Recife
Nesse dia Momó também estava com a gente
Levou-se o menino
Pra uma clínica em frente
E o médico não quis
Vir atender a gente
Nessa hora nosso sangue ficou bem quente
Menino morrendo
Era aquela agonia
E o doutor só queria
Mediante dinheiro
Nessa hora vi quanto o mundo está doente
Discutiu-se muito
Ameaçou-se briga
Doze litros de água
Tiraram da barriga
Do menino que sobreviveu finalmente
Muita gente me pergunta
Se essa estória aconteceu
Aconteceu minha gente
Quem está contando sou eu
Aconteceu e acontece
Todo dia por aí
Aconteceu e acontece
Que esse mundo é mesmo assim
(GIL, Gilberto. Quanta. CD Warner Music, 1997. Faixa 6.)
TEXTO 2
A experiência da cidade
(Fernando Sabino)
A coisa que mais o impressionou no Rio foram os bondes. Não pode ver um bonde, fica maravilhado: nunca pensou que existisse algo de tão fantástico.
Se ele quiser andar de fasto, ele pode?
Andar de fasto, na sua linguagem de menino do interior de Minas, é andar para trás. Tem outras expressões esquisitas: sungar é levantar; pra riba é pra cima; pramode é para, por causa, etc. Mas eu também sou mineiro:
Pramode o bonde andar de fasto tem que sungar os bancos e tocar para riba. Ele fica olhando. Olha tudo com atenção. Tem oito anos mas bem podia ter cinco ou seis, de tal maneira é pequenino. Bem que a cozinheira dizia: Tenho um filho que é deste tamaninho.
E levava a mão à altura do joelho. Chama-se Valdecir. Ninguém acerta com seu nome, nem ele próprio: Vardici, diz, mostrando os dentes. No dia em que chegou fiquei sabendo que nunca tivera ao menos notícia da existência de uma cidade, além do arraial onde nascera. Nunca vira luz elétrica ou água corrente, ainda mais telefone ou elevador. Abria a torneira e ficava olhando. Quando tinha água era capaz de inundar o edifício. Quando não tinha, divertia-se tocando a campainha da porta da rua – e para alcançá-la precisava arrastar uma cadeira. As da sala de estar têm a marca de seus pés até hoje. A cozinheira atendia ao chamado, dava-lhe um safanão, arrastava-o para a cozinha. Ele ficava olhando: nunca vira um fogão a gás.
[...]
Arranjei-lhe um lugar num colégio interno, a pedido da mãe. Ele concordou em ir, desde que fosse de bonde. E lá se foi, certa manhã, na beirada do banco, descobrindo maravilhas em cada esquina.
[...]
Não sei por quê, saiu do colégio; acabou indo morar com os tios em Santa Teresa, numa casa de cômodos. Um dia, abro o jornal e leio a notícia: um homem matara o vizinho do quarto, que tentara violentar um menino. Foi arrolado como testemunha! Voltou para minha casa e já trazia nos olhos a perplexidade dos escandalizados pela vida.
Agora regressa à sua terra. Vai crescer, tornar-se homem como os que aqui conheceu, ou apenas envelhecer e morrer apoiado no cabo de uma enxada, como seus ancestrais. Leva da cidade a notícia de meia dúzia de coisas fantásticas – bonde, televisão, elevador, telefone – cuja lembrança irá talvez se apagando com o tempo. Esquecerá depressa este homem que aqui viu, cercado de mecanismos, moderno e civilizado, que o abrigou alguns dias e a quem devolveu a infância. Apenas não esquecerá tão cedo seu primeiro conhecimento do homem, animal feroz.
(SABINO, Fernando. A companheira de viagem. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 71-74.)
TEXTO 1:
Chiquinho Azevedo
(Gilberto Gil)
Chiquinho Azevedo
Garoto de Ipanema
Já salvou um menino
Na Praia, no Recife
Nesse dia Momó também estava com a gente
Levou-se o menino
Pra uma clínica em frente
E o médico não quis
Vir atender a gente
Nessa hora nosso sangue ficou bem quente
Menino morrendo
Era aquela agonia
E o doutor só queria
Mediante dinheiro
Nessa hora vi quanto o mundo está doente
Discutiu-se muito
Ameaçou-se briga
Doze litros de água
Tiraram da barriga
Do menino que sobreviveu finalmente
Muita gente me pergunta
Se essa estória aconteceu
Aconteceu minha gente
Quem está contando sou eu
Aconteceu e acontece
Todo dia por aí
Aconteceu e acontece
Que esse mundo é mesmo assim
(GIL, Gilberto. Quanta. CD Warner Music, 1997. Faixa 6.)
TEXTO 2
A experiência da cidade
(Fernando Sabino)
A coisa que mais o impressionou no Rio foram os bondes. Não pode ver um bonde, fica maravilhado: nunca pensou que existisse algo de tão fantástico.
Se ele quiser andar de fasto, ele pode?
Andar de fasto, na sua linguagem de menino do interior de Minas, é andar para trás. Tem outras expressões esquisitas: sungar é levantar; pra riba é pra cima; pramode é para, por causa, etc. Mas eu também sou mineiro:
Pramode o bonde andar de fasto tem que sungar os bancos e tocar para riba. Ele fica olhando. Olha tudo com atenção. Tem oito anos mas bem podia ter cinco ou seis, de tal maneira é pequenino. Bem que a cozinheira dizia: Tenho um filho que é deste tamaninho.
E levava a mão à altura do joelho. Chama-se Valdecir. Ninguém acerta com seu nome, nem ele próprio: Vardici, diz, mostrando os dentes. No dia em que chegou fiquei sabendo que nunca tivera ao menos notícia da existência de uma cidade, além do arraial onde nascera. Nunca vira luz elétrica ou água corrente, ainda mais telefone ou elevador. Abria a torneira e ficava olhando. Quando tinha água era capaz de inundar o edifício. Quando não tinha, divertia-se tocando a campainha da porta da rua – e para alcançá-la precisava arrastar uma cadeira. As da sala de estar têm a marca de seus pés até hoje. A cozinheira atendia ao chamado, dava-lhe um safanão, arrastava-o para a cozinha. Ele ficava olhando: nunca vira um fogão a gás.
[...]
Arranjei-lhe um lugar num colégio interno, a pedido da mãe. Ele concordou em ir, desde que fosse de bonde. E lá se foi, certa manhã, na beirada do banco, descobrindo maravilhas em cada esquina.
[...]
Não sei por quê, saiu do colégio; acabou indo morar com os tios em Santa Teresa, numa casa de cômodos. Um dia, abro o jornal e leio a notícia: um homem matara o vizinho do quarto, que tentara violentar um menino. Foi arrolado como testemunha! Voltou para minha casa e já trazia nos olhos a perplexidade dos escandalizados pela vida.
Agora regressa à sua terra. Vai crescer, tornar-se homem como os que aqui conheceu, ou apenas envelhecer e morrer apoiado no cabo de uma enxada, como seus ancestrais. Leva da cidade a notícia de meia dúzia de coisas fantásticas – bonde, televisão, elevador, telefone – cuja lembrança irá talvez se apagando com o tempo. Esquecerá depressa este homem que aqui viu, cercado de mecanismos, moderno e civilizado, que o abrigou alguns dias e a quem devolveu a infância. Apenas não esquecerá tão cedo seu primeiro conhecimento do homem, animal feroz.
(SABINO, Fernando. A companheira de viagem. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 71-74.)
Gabarito comentado
Gabarito comentado:
Tema central: Esta questão cobra interpretação de texto com foco em tipos textuais. Saber diferenciar narração, descrição e dissertação é fundamental em provas de vestibular e concursos públicos.
Regra essencial: De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa (cf. Evanildo Bechara, "Moderna Gramática Portuguesa", e Cunha & Cintra, "Nova Gramática do Português Contemporâneo"), o texto narrativo relata fatos, com personagens, tempo, espaço e sequência de ações. Geralmente apresenta elementos como introdução, desenvolvimento, clímax e desfecho.
Justificativa da alternativa correta (B) Narrar:
No Texto 1 (“Chiquinho Azevedo”), observa-se uma sucessão de acontecimentos envolvendo pessoas reais: um menino é salvo, levado à clínica, ocorre um impasse com o médico, debate-se, resolve-se e, ao final, faz-se uma reflexão sobre o fato. Isso constitui uma narrativa, pois há personagens, ações em ordem temporal e cenários específicos.
Análise das alternativas incorretas:
A) Descrever: Não predomina a descrição minuciosa de cenas ou características; eventuais descrições servem só de apoio à ação.
C) Dissertar: Não há argumentação formal ou exposição lógica aprofundada de ideias.
D) Argumentar: O texto não visa defender um ponto de vista; não há tentativa de convencer o leitor, mas sim contar um fato.
E) Simbolizar: Não se utiliza simbolismo como recurso principal; o relato é literal e concreto.
Pontos-chave para reconhecer a narração: Pergunte-se: Há personagens diante de um conflito? Os fatos evoluem no tempo? Se sim, estamos diante de um texto narrativo!
Orientação estratégica:
Cuidado: Em provas, muitas letras de música e crônicas usam linguagem poética, mas, se relatam eventos com sequência temporal e personagens, são narrativas.
Conclusão: O domínio dos tipos textuais permite que você evite pegadinhas e ganhe tempo na prova. A alternativa correta é B) Narrar.
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