Com base em atenta leitura de “Raio de sol ao
meio”, de Das estampas (Texto 5), de Aguinaldo Gonçalves, marque, a seguir, a alternativa correta:
TEXTO 5
Raios de sol ao meio
Mais uma vez ele aparecia na minha frente como
se tivesse vindo do nada. Seus olhos eram grandes e
negros e pareciam ter nascido bem antes dele. Suas
espinhas se agigantavam conforme o ângulo de que
eram vistas. Sua orelha era algo indescritível. Além
de orelha ela era disforme, meio redonda e meio
achatada nas pontas. Ela era meio várias coisas. Uma
orelha monstro. A boca era alguma coisa que só estava
ali para cumprir seu espaço no rosto. Era boca
porque estava exatamente no lugar da boca. E era a
segunda vez que ele me mobilizava. Mas no conjunto
de elementos díspares reinava uma sensualidade ímpar que me tirava de mim sem que eu soubesse
navegar no outro que em mim surgia. De mim não
sabia entender o que emanava para ele em toda a
sua estranha vastidão de patologia visual. No meio
sol da meia-noite as coisas se anunciaram e antes
que a madrugada avançasse a lua em sua metade
escondida ardeu com um olhar malicioso e sorriu.
(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas.
São Paulo: Nankin, 2013. p. 177.)
TEXTO 5
Raios de sol ao meio
Mais uma vez ele aparecia na minha frente como se tivesse vindo do nada. Seus olhos eram grandes e negros e pareciam ter nascido bem antes dele. Suas espinhas se agigantavam conforme o ângulo de que eram vistas. Sua orelha era algo indescritível. Além de orelha ela era disforme, meio redonda e meio achatada nas pontas. Ela era meio várias coisas. Uma orelha monstro. A boca era alguma coisa que só estava ali para cumprir seu espaço no rosto. Era boca porque estava exatamente no lugar da boca. E era a segunda vez que ele me mobilizava. Mas no conjunto de elementos díspares reinava uma sensualidade ímpar que me tirava de mim sem que eu soubesse navegar no outro que em mim surgia. De mim não sabia entender o que emanava para ele em toda a sua estranha vastidão de patologia visual. No meio sol da meia-noite as coisas se anunciaram e antes que a madrugada avançasse a lua em sua metade escondida ardeu com um olhar malicioso e sorriu.
(GONÇALVES, Aguinaldo. Das estampas. São Paulo: Nankin, 2013. p. 177.)
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto literário, com foco em construção de imagens, subjetividade e efeitos de sentido.
O texto apresenta a descrição gradativa de um personagem dotado de traços físicos incomuns, estranhos — olhos grandes e antigos, espinhas pronunciadas, orelha disforme — criando um efeito de grotesco. Apesar disso, o narrador sente uma atração poderosa e confusa, explicitada na expressão "sensualidade ímpar que me tirava de mim". Há, portanto, contraste entre a aparência absurda e o efeito subjetivo, resultando em perplexidade frente ao outro.
Justificativa da alternativa correta - A:
A alternativa A está correta porque reconhece que o narrador-personagem constrói gradualmente a figura do outro, evidenciando suas características grotescas, culminando em uma sensação subjetiva e arrebatadora que foge à lógica e deixa-o perplexo. Isso se alinha ao aspecto contraditório presente no texto: repulsa estética versus fascínio interior, reforçando a complexidade do olhar do narrador. Pela norma-padrão e pelos ensinamentos de Celso Cunha & Lindley Cintra, a interpretação exige atenção ao sentido global e aos efeitos estilísticos produzidos no leitor.
Análise das incorretas:
- B) Diz que, ao final, o foco passa para a lua. Na verdade, a lua é um elemento simbólico na ambientação, não o foco do encerramento – a experiência emocional permanece central.
- C) Fala em comparação direta entre ser humano e natureza, sugerindo uma lição sobre a superioridade do eterno. O texto não traça esse paralelo explícito; permanece na subjetividade do olhar.
- D) Supõe uma moralização (valor do caráter acima da aparência), que não está sugerida no texto. Não há lição de moral, apenas relato sensorial e afetivo.
Ponto-chave para futuros exames:
Leia atentamente os detalhes da ambientação e identifique a ênfase do narrador: se no julgamento, na moralidade, ou na experiência subjetiva. Evite cair em alternativas que generalizam ou acrescentam sentidos moralizantes ausentes no texto — uma pegadinha comum em provas!
“A interpretação textual, pontuada por Bechara e Cunha & Cintra, exige compreensão dos sentidos produzidos no momento estético, observando implícitos, subjetividades e efeitos globais.”
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