Atente para as seguintes estrofes do poema
“Canção do africano”, datado de 1863, de autoria do
poeta Castro Alves, que demonstra seu
engajamento social ao refletir a situação dos negros
no Brasil em sua época:
[…]
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!
[…]
Fonte: http://escambau.org/2016/09/10/10-incriveispoemas-engajados-nacionais/
Tendo como base as referências trazidas pelo
poema, e o conhecimento sociológico que se tem a
respeito da formação social, econômica e política do
Brasil, é correto afirmar que
Gabarito comentado
Alternativa correta: A
Tema central: trata-se da crítica à escravidão no Brasil e das condições de violência e dominação impostas aos negros escravizados no período escravocrata. Para responder, é preciso conhecer a organização social e econômica da colônia/império (plantation, trabalho escravo, poder dos senhores de engenho) e a literatura engajada como fonte documental e crítica.
Resumo teórico (essencial): a economia açucareira e cafeeira do Brasil colonial e imperial baseava-se no trabalho escravo africano; os senhores rurais detinham poder econômico, social e político e impunham controle por violência direta (castigos, vigilância) e institucional. A abolição (Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888) ocorreu tardiamente e não garantiu inclusão social plena. Fontes úteis: Lei Áurea (1888); Florestan Fernandes, estudos sobre raça e sociedade no Brasil; trabalhos de historiadores da escravidão (por exemplo, João José Reis).
Por que A está correta: a alternativa descreve a realidade documental e literária do período: escravos em senzalas submetidos a castigos e coerção por senhores de engenho — atores centrais da ordem escravocrata. O poema evidência a violência cotidiana (surras, apreensão de filhos), compatível com relatos históricos e análises sociológicas.
Por que B está errada: idealiza a miscigenação como geradora de uma "nação pacífica e democrática". Isso contradiz a extensa literatura que mostra desigualdades raciais persistentes e violência institucional; a miscigenação não eliminou a dominação nem fez do Brasil uma democracia racial (ver Florestan Fernandes).
Por que C está errada: nega a presença marcante da população negra no Brasil. Ao contrário, o grande contingente africano deixou profundas marcas demográficas, culturais e sociais; a miscigenação não apaga essa presença histórica.
Por que D está errada: justifica ideologicamente a violência como "educação/domesticação" — expressão típica da justificativa escravocrata, mas não uma explicação sociológica válida. A violência era instrumento de dominação, não uma legitimação científica para conduzir à liberdade.
Dica de prova: foque em termos-chave do enunciado (escravo, surrado, dono, arrancar o filho) que indicam dominação e violência física; descarte alternativas que façam generalizações otimistas ou justificativas ideológicas.
Referências sugeridas: Lei nº 3.353/1888 (Lei Áurea); Florestan Fernandes, A integração do negro na sociedade de classes; João José Reis, Rebelião esclava e escravidão no Brasil.
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