Questão 6981b93f-ff
Prova:UECE 2019
Disciplina:Filosofia
Assunto:Conceitos Filosóficos

A filósofa brasileira Rosa Dias diz o seguinte sobre a filosofia da arte de Nietzsche:


“[O] ponto mais importante da estética nietzschiana do seu primeiro livro [O nascimento da tragédia] é o desenvolvimento dos aspectos apolíneo e dionisíaco na arte grega, considerados como impulsos antagônicos, como duas faculdades fundamentais do homem: a imaginação figurativa, que produz as artes da imagem (a escultura, a pintura e parte da poesia), e a potência emocional, que encontra sua voz na linguagem musical. Cada um desses impulsos manifesta-se na vida humana por meio de dois estados fisiológicos, o sonho e a embriaguez, que se opõem como o apolíneo e o dionisíaco. O sonho e a embriaguez são condições necessárias para que a arte se produza; por isso, o artista, sem entrar em um desses estados, não pode criar”.

DIAS, Rosa Maria. Arte e vida no pensamento de
Nietzsche. In: Cadernos Nietzsche, São Paulo, v. 36 nº 1,
p. 228, 2015.


Com base na citação acima, é correto afirmar que


A
como o apolíneo e o dionisíaco são dois impulsos antagônicos, o artista, em seu processo de criação, deve escolher apenas uma das duas vias: ou estado de sonho ou de embriaguez.
B
o impulso apolíneo expressa nossas propensões intelectuais em direção ao suprassensível e o impulso dionisíaco, nossa participação no mundo sensível, emocional.
C
ambos os impulsos se manifestam artisticamente: o apolíneo nas formas plásticas da visão, nos sonhos e na poesia escrita; o dionisíaco, na embriaguez em que repousa a música.
D
os impulsos apolíneo e dionisíaco não são potências sensíveis e criadoras da natureza e produzem estados fisiológicos diversos, porque não são adequados ao humano.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: C

Tema central: A questão trata da estética nietzschiana (O Nascimento da Tragédia): os polos apolíneo e dionisíaco como forças estéticas, seus estados fisiológicos associados (sonho / embriaguez) e como se manifestam nas artes.

Resumo teórico: Para Nietzsche, o Apolíneo representa a forma, a imagem, a individuação e o estado do sonho — é o princípio da ilusão plástica (escultura, pintura, poesia figurativa). O Dionisíaco é a força da embriaguez, da dissolução dos limites do eu, da música e do êxtase coletivo. A arte trágica grega surge da união dessas duas forças (síntese trágica), não da escolha exclusiva entre uma e outra (Nietzsche, O Nascimento da Tragédia; ver também Stanford Encyclopedia of Philosophy, entrada "Nietzsche").

Por que a alternativa C está certa: A alternativa afirma justamente que o apolíneo se manifesta nas formas plásticas, nos sonhos e na poesia escrita, e que o dionisíaco se revela na embriaguez presente na música. Isso corresponde à formulação clássica de Nietzsche: apolíneo = imagem/sonho/formalidade; dionisíaco = embriaguez/música/impulso emocional. A resposta reconhece também que ambos se manifestam artisticamente, o que está em acordo com a ideia de complementaridade na produção artística.

Análise das alternativas incorretas:

A — Erro de interpretação: confunde "antagonismo" com "exclusão". Nietzsche não diz que o artista deve escolher um impulso; o trágico é possível justamente pela interação/combinação dos dois.

B — Inversão conceitual: apresenta o apolíneo como inclinação ao suprassensível e o dionisíaco como mera participação sensível. Na verdade, o apolíneo é o princípio da aparência/formalização (sonho, imagem), enquanto o dionisíaco refere-se à intoxicação, à corporeidade e à fusão com o sensível (música, êxtase).

D — Negação da função criadora: afirma que esses impulsos não são potências sensíveis e criadoras nem adequadas ao humano — o oposto do que Nietzsche defende. Para ele, são precisamente forças criativas fundamentais na arte e na vida humana.

Dica de prova: ao ver termos como "sonho", "embriaguez", "música" e "formas plásticas", vincule-os rapidamente às categorias apolíneo/dionisíaco. Atenção: "antagônicos" frequentemente significa oposição dinâmica, não exclusão absoluta.

Fontes rápidas: Friedrich Nietzsche, O Nascimento da Tragédia (1872); Stanford Encyclopedia of Philosophy — entrada "Nietzsche".

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