O filósofo esloveno Slavoj Zizék, em uma
crônica sobre o último episódio de Games of
thrones, afirma: “O que está em jogo no conflito
final é, para resumir de maneira simples, o
seguinte: a revolta contra a tirania deveria se dar no
marco de uma mera luta pelo retorno à versão
antiga, mais bondosa, da mesma ordem hierárquica,
ou deveria evoluir no sentido de uma busca por uma
nova ordem necessária? [...] O embate final da série
combina a rejeição a uma transformação radical
com um velho mote antifeminista. [...] Aqui vale
lembrar que o enredo foi escrito por dois homens. A
figura Daenerys como rainha tresloucada é
rigorosamente uma fantasia masculina (os críticos
acertaram ao apontar que sua descida à loucura não
se justificava psicologicamente). A cena em que ela,
tomada por um olhar de fúria e loucura, sobrevoa a
cidade em seu dragão incendiando casas e pessoas
é simplesmente a expressão da ideologia patriarcal
com seu medo de uma mulher politicamente forte”.
ŽIŽEK, Slavoj. Feminilidade tóxica em “Game of Thrones”.
Disponível em: Blog da Boitempo.
https://blogdaboitempo.com.br/2019/05/21/feminilidadetoxica-em-game-of-thrones-zizek-escreve-sobre-odesfecho-da-serie/. Publicado em 21/05/2019.
Com base na passagem citada acima, é correto
afirmar que
Gabarito comentado
Resposta correta: Alternativa A
Por que essa é a correta?
O texto de Žižek afirma que o desfecho da série optou por rejeitar uma transformação radical da ordem (ou seja, descartou a “nova ordem” em favor do retorno a uma ordem anterior) e que essa escolha se valeu de uma evolução de personagem inverossímil — a “descida à loucura” de Daenerys — como mecanismo narrativo para justificar esse retorno. Logo, a alternativa A resume fielmente essa leitura: o descarte da nova ordem recorreu à evolução inverossímil da personagem.
Resumo teórico rápido (útil em provas)
Ideologia patriarcal: conjunto de ideias que naturalizam e legitimam desigualdades de gênero e o medo de mulheres em posições de poder (Connell, Masculinities, 1995). Žižek interpreta a representação de Daenerys como uma “fantasia masculina” — uso ideológico da narrativa para deslegitimar uma mulher politicamente forte (Žižek, 2019).
Análise das alternativas incorretas
B — Incorreta. Afirma relação causal direta entre “ter sido escrita por dois homens” e o desfecho machista e inverossímil. O texto sugere que a fantasia masculina está presente e lembra que os roteiristas são homens, mas não estabelece uma prova causal categórica; trata-se de uma crítica interpretativa, não de uma demonstração de causa-efeito científica.
C — Incorreta. Diz que a loucura de Daenerys se explica pela pressão misógina que os autores sofreram. Isso inverte a argumentação: Žižek aponta que a narrativa reproduz uma fantasia patriarcal, não que os autores tenham sofrido pressão misógina que os levou a isso. É uma inferência sem base no texto.
D — Incorreta. Afirma que homens têm uma fantasia sexual com mulheres tresloucadas e que isso expressa a ideologia patriarcal. O texto fala em “fantasia masculina” e medo de mulher politicamente forte — uma construção ideológica/política — mas não a descreve explicitamente como fantasia sexual. D amplia e distorce o enunciado.
Estratégia de prova
Procure termos-chave no enunciado: “fantasia masculina”, “não se justificava psicologicamente”, “rejeição a transformação radical”. Desconfie de alternativas que introduzem causalidade absoluta ou informações não presentes no texto (pegadinhas comuns).
Fontes rápidas: Žižek (2019, blog citado no enunciado); Connell, R. (1995/2005), Masculinities — para entender hegemonia e ideologia patriarcal.
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