O comentário do último período do sexto
parágrafo apresenta um tom:
Leia o texto I e responda à questão
TEXTO I
SUPER VELOCIDADE
O velocista escarlate consegue mover-se
a uma velocidade sobre-humana e, com
isso, é capaz de violar várias leis da Física. Barry Allan ganhou seus poderes
após ser atingido por um raio. Então,
ele resolveu colocar um colante vermelho e sair por aí, correndo. Depois de um
tempo, acabou se juntando a outros super-heróis integrando a Liga da Justiça.
Será que a gente conseguiria correr por
aí como o Flash?
Nós somos uma espécie bem lenta quando comparada a outras. Nossos pés e pernas evoluíram para escalar árvores. Nós
começamos a andar eretos recentemente
enquanto outros animais evoluíram de ancestrais bípedes.
Engenheiros e pesquisadores têm se baseado em pernas de outros animais para
dar um jeito de aumentar a nossa velocidade. Um destes animais é a avestruz, que
corre até 64 km por hora, usando metade
da energia que nós. Isso é possível porque eles têm tendões que são capazes de
reciclar a energia exercida quando os pés
batem no chão e a utilizam para impulsionar o pé no próximo passo. Algumas próteses utilizadas por atletas olímpicos foram
baseadas nas pernas e patas da avestruz.
O recorde de velocidade humana é dos
astronautas da Apollo 11, que atingiram 40.000 km/h quando a espaçonave
reentrou na atmosfera terrestre. Nós poderíamos economizar muito tempo nos
movimentando nesta velocidade, mas há
alguns problemas.
Com super velocidade, antes de você
ver o que está a sua frente e reagir, você
já teria passado por, ou através, do que
quer que fosse que teria que desviar. A
conta é: tempo (1/5 de segundo) multiplicado pela velocidade (40.000 km/h)
é igual a distância (2,2 km). Ou seja, se
você estivesse correndo nesta velocidade e tentasse desviar de um prédio, teria que estar a mais de 2 km dele para ter
tempo de desviar. Quem dirige sabe o
que acontece com um inseto quando ele
atinge o para-brisa do carro. Não é uma
visão muito bonita (principalmente para o
inseto). Dessa forma, qualquer colisão direta que você tenha viajando mais de 95
km por hora será fatal. Então, não adianta ter super cura se você morre no impacto. Na melhor das hipóteses, caso você
seja indestrutível, se tornaria um míssil,
destruindo tudo que atingisse.
Tudo bem! Você se livrou de todos estes
problemas! Imagine que uma bala está
prestes a atingir uma donzela em perigo.
Então você, com sua super velocidade,
agarra a moça e a leva para um lugar seguro. Romântico, mas ela vai sofrer mais
lesões pelo salvamento do que pela bala.
A Primeira Lei de Newton fala da Inércia,
que é a resistência a uma mudança no
estado natural de repouso ou movimento.
Isso significa que um objeto vai continuar
se movendo ou continuar parado, a não
ser que algo mude isso. Ela estava parada e acelerou até a sua velocidade em
menos de um segundo. O cérebro dela
se chocaria com uma das paredes dentro
do crânio no momento do seu salvamento e, ao parar abruptamente, o cérebro
se chocaria com a outra parede do crânio, transformando-se em mingau. Neste
caso, não é a velocidade que causa os
danos, mas sim a aceleração ou a parada abrupta, da mesma forma que você é
jogado para frente quando o motorista do
ônibus pisa fundo no freio. O que você
fez à moça é matematicamente a mesma
coisa que atropelá-la com uma nave espacial a 40.000 km/h.
Disponível em: <https://medium.com/ciencia-descomplicada/ super-poderes-4-super-velocidade-c0c5333a18a4>. Acessado em: 06.08.2018
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda interpretação de texto, especificamente a identificação do tom irônico em um trecho. Para isso, exige do candidato habilidade para reconhecer figuras de linguagem (especialmente ironia) e analisar o efeito de sentido gerado pelo autor.
Justificativa da alternativa correta (C):
No último período do sexto parágrafo, o autor afirma que, ao tentar salvar alguém com super velocidade, o resultado seria tão danoso quanto atropelar a pessoa com uma nave espacial a 40.000 km/h. Essa construção gera um contraste entre o esperado (um resgate heroico) e o real (um desastre), usando exagero e humor para criticar a ideia dos superpoderes sem limites físicos. Isso caracteriza a ironia, conforme as gramáticas de Cunha & Cintra e Bechara, que definem ironia como a expressão de uma ideia por meio de palavras que transmitem o sentido oposto ao que verdadeiramente se deseja comunicar.
Estratégia: Atenção à incongruência proposital criada pelo enunciado. Sempre observe se há contraste entre expectativa e realidade apresentada pelo autor – esse é um indício clássico de ironia em textos de concurso.
Análise das alternativas incorretas:
A) Melancólico: Não há manifestação de tristeza ou sentimento de perda; o trecho mantém tom leve e até humorístico.
B) Crítico: Embora haja crítica, ela se apresenta de forma irônica e não direta. O humor é essencial para a escolha da alternativa correta.
D) Apreciativo: Não ocorre valorização ou elogio; o autor, na verdade, desconstrói o feito heroico.
E) Depreciativo: Apesar de depreciar a ação do herói, o faz por meio da ironia e exagero, não por mero rebaixamento direto.
Dica de prova: Questões de interpretação exigem atenção ao contexto, inferência de sentidos e reconhecimento de figuras de linguagem. Identifique palavras, frases ou situações contrastantes para localizar ironias.
Referência: Veja em Bechara (Moderna Gramática Portuguesa): O sentido irônico depende de contexto e da intenção em mostrar o oposto do aparente.
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