No poema Amar, de Carlos Drummond de Andrade, prevalece a ideia de
Leia o poema para responder a questão.
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
– Carlos Drummond de Andrade, em “Claro enigma”. 1951.
Gabarito comentado
Comentário da questão – Interpretação de Texto/Poema – Drummond
Tema central: Esta questão exige interpretação de texto, sendo necessário analisar o posicionamento do eu lírico sobre o ato de amar no poema de Carlos Drummond de Andrade. Também envolve o conhecimento de figuras de linguagem, em especial a antítese (oposição de ideias).
Justificativa da alternativa correta (“A – oposição, ao descrever a dualidade que o poeta vislumbra no ato de amar”):
O poema expõe explicitamente dualidades ligadas ao amar: “amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar?”. O próprio uso sequencial desses verbos — ora positivos, ora negativos — explicita uma oposição constante, conforme lecionado por Cunha & Cintra (“Antítese: exposição de ideias opostas para realçar contraste”). Drummond discute a impossibilidade de um amor unilateral e estável, reconhecendo a complexidade e os sentimentos conflitantes do amor.
Análise das alternativas incorretas:
B) Alegria: Incorreta. O texto em nenhum momento reduz o amor à alegria. O uso de expressões como “completa ingratidão”, “ânsia”, “procura medrosa” e “sede infinita” demonstra que o sentimento abrange tanto sofrimento quanto momentos positivos.
C) Satisfação: Errada. O poema apresenta o amor como algo incompleto, insaciável (“procura de mais e mais amor”), contrariando a ideia de satisfação plena.
D) Alívio: Não há menção a apaziguamento. Pelo contrário, o texto ressalta o amor como busca incessante, fonte de desconforto (“sede infinita”).
E) Tranquilidade: O amor é retratado com inquietação, opostos e falta (“Amar a nossa falta mesma de amor”), não como solução pacificadora.
Estratégias para outras questões: Atente-se a palavras-chave que indicam dualidade/oposição (ex: “esquecer x amar”, “ânsia x água implícita”) e evite respostas que absolutizem sentimentos (alegria, satisfação).
Portanto, a alternativa correta é a letra A, fundamentada na análise do contexto, da semântica e das figuras de linguagem, de acordo com o que recomendam gramáticas referenciais.
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