Vocês não entendem por que queremos proteger nossa
floresta? Perguntem-me, eu responderei! Nossos
antepassados foram criados com ela no primeiro tempo. Desde
então, os nossos se alimentam de sua caça e de seus frutos.
Queremos que nossos filhos lá cresçam rindo. Queremos voltar
a ser muitos e continuar a viver como nossos antigos. Não
queremos virar brancos! Olhem para mim! Imito a sua fala
como um fantasma e me embrulho em roupas para vir lhes
falar. Porém, em minha casa falo em minha língua, caço na
floresta e trabalho na minha roça. (...) Sou habitante da floresta
e não deixarei de sê-lo. Assim é!
Fonte: KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A Queda do Céu: palavras de um
xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Na citação, o xamã yanomami, Davi Kopenawa, expressa sua
visão sobre as atitudes dos brancos perante a floresta
Amazônica e os povos indígenas. Com base na sua
argumentação, assinale a alternativa CORRETA.
Gabarito comentado
Tema central da questão: Interpretação de Texto, com ênfase em coerência e coesão textuais. O candidato é convidado a ler atentamente para captar a mensagem implícita e explícita do depoimento indígena, compreendendo a defesa da autonomia cultural e territorial dos povos da floresta em contraposição à imposição de valores externos.
Justificativa da alternativa correta (C):
Alternativa C: "Os povos habitantes da floresta têm o direito de viver a partir dos seus pressupostos culturais, sociais, econômicos e territoriais."
O texto revela, pelas palavras de Davi Kopenawa, a defesa da manutenção dos costumes, da língua materna e da soberania sobre o modo de vida tradicional indígena. Há menção explícita ao desejo de não adotar integralmente costumes dos "brancos" e de preservar sua identidade. O candidato deve identificar os verbos e construções que afirmam essa identidade — como “queremos voltar a ser muitos e continuar a viver como nossos antigos” e “sou habitante da floresta e não deixarei de sê-lo” — sinais inequívocos da luta pela permanência do seu modo de vida. Assim, pela coerência textual, compreende-se que a luta dos povos indígenas é por seu direito de manter práticas próprias e seus territórios, exatamente como resume a alternativa C.
Análise das alternativas incorretas:
A) Propõe a necessidade de assimilação do modo de vida dos brancos, contrariando o texto, que denuncia exatamente essa tentativa de imposição.
B) Defende o monolinguismo (apenas o português), mas o trecho valoriza o uso da “minha língua” dentro da própria cultura, rejeitando o abandono do idioma originário.
D) Sugerir que indígenas não possam cultivar ou que devam dividir suas terras contraria o direito à terra, ao cultivo e à sobrevivência conforme destacado pelo autor.
Dicas de interpretação e possíveis pegadinhas:
Redobre a atenção quando alternativas sugerirem generalizações ou imposições culturais. Busque sempre elementos textuais que fundamentem a resposta (palavras-chave, formas verbais como “não queremos virar brancos”). Lembre-se: interpretação exige a leitura cuidadosa dos valores e sentidos construídos no texto, fugindo de respostas simplistas ou preconceituosas.
Referências teóricas:
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa.
KOCH, Ingedore Villaça. Coesão e Coerência Textuais.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






