Conhecemos somente o nosso modo de perceber a natureza
dos objetos em si mesmos, modo que nos é peculiar, mas pode
muito bem não ser necessariamente o de todos os seres,
embora seja o de todos os homens. É deste modo apenas que
nos temos de ocupar. O espaço e o tempo são as formas
desse modo de perceber; a sensação em geral é a sua
matéria.
Fonte: KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste, 2013, p. 79.
O trecho ilustra alguns aspectos da teoria kantiana do
conhecimento. Sobre esta mesma teoria, assinale a opção
CORRETA.
Gabarito comentado
Tema central: O trecho explora a teoria do conhecimento de Kant, destacando o modo peculiar humano de perceber o mundo, condicionado por espaço e tempo (formas a priori da sensibilidade). A questão pede que se reconheça corretamente como Kant entende a relação entre conhecimento, sensibilidade e realidade.
Explicação e conceito-chave:
Kant diferenciou entre fenômeno (a coisa como aparece ao observador, mediada pela sensibilidade e entendimento humano) e númeno (a realidade em si, inacessível diretamente ao conhecimento humano). Para Kant, toda experiência é organizada pelo espaço e tempo (formas universais da sensibilidade), comuns a todos os seres humanos, mas que limitam o acesso à essência das coisas.
Justificativa da alternativa correta (D):
A alternativa D acerta ao afirmar que existe um “relativismo kantiano”, mas distinto do relativismo radical de Protágoras. Em Kant, o conhecimento é relativo à constituição geral da sensibilidade humana, não a perspectivas individuais. Espaço e tempo são estruturas que todos compartilham — são as condições universais e objetivas através das quais conhecemos fenômenos, tornando o conhecimento transcendentalmente relativo aos humanos, não subjetivamente variável.
Análise das alternativas incorretas:
A) Sugere que a ciência pode ultrapassar o limite do conhecimento e alcançar as “coisas em si”. Erro: Em Kant, esse limite é estrutural — nunca conheceremos o númeno, apenas o fenômeno, independentemente do progresso.
B) Fala em diferença de grau entre sensível e inteligível, como se fosse possível chegar ao inteligível aprofundando o conhecimento. Erro: Para Kant, sensível (fenômeno) e inteligível (númeno) são domínios incomunicáveis — não há passagem de um para outro por aprofundamento empírico.
C) Afirma corretamente que o fenômeno é a coisa como aparece, mas restringe-se à estrutura do aparelho sensorial, sem considerar as formas a priori — espaço e tempo — fundamentais na filosofia kantiana. Erro: Insuficiência explicativa.
Estratégias e pegadinhas:
Atenção para trocas entre os termos fenômeno (acessível) e númeno (inacessível); armadilha de avanço da ciência ultrapassar limites estruturais; lembrar que, em Kant, o relativismo é das condições universais do conhecimento.
Referência: KANT, Crítica da Razão Pura.
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