Questão 603598b0-fd
Prova:UFT 2019
Disciplina:Filosofia
Assunto:Conceitos Filosóficos

Conhecemos somente o nosso modo de perceber a natureza dos objetos em si mesmos, modo que nos é peculiar, mas pode muito bem não ser necessariamente o de todos os seres, embora seja o de todos os homens. É deste modo apenas que nos temos de ocupar. O espaço e o tempo são as formas desse modo de perceber; a sensação em geral é a sua matéria.

Fonte: KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste, 2013, p. 79.

O trecho ilustra alguns aspectos da teoria kantiana do conhecimento. Sobre esta mesma teoria, assinale a opção CORRETA.

A
Os progressos da experiência (e da ciência moderna) nos permitirão ultrapassar os seus limites; desta forma, o nosso conhecimento vencerá a distância que nos separa das coisas.
B
Entre o sensível e o inteligível há uma diferença apenas de grau, isto é, de antemão nada nos impede de passar de um ao outro pelo aprofundamento dos nossos conhecimentos.
C
O fenômeno é a coisa como esta nos aparece, cumpre então lembrar que Kant pensa, sobretudo, na estrutura do aparelho sensorial e no seu valor geral para todo sentido humano.
D
Há, pode-se dizer, um relativismo kantiano, mas diferente, por exemplo, do de Protágoras, pois, em Kant, a nossa intuição do objeto depende da constituição geral da sensibilidade.

Gabarito comentado

M
Michele GomesMonitor do Qconcursos

Tema central: O trecho explora a teoria do conhecimento de Kant, destacando o modo peculiar humano de perceber o mundo, condicionado por espaço e tempo (formas a priori da sensibilidade). A questão pede que se reconheça corretamente como Kant entende a relação entre conhecimento, sensibilidade e realidade.

Explicação e conceito-chave:
Kant diferenciou entre fenômeno (a coisa como aparece ao observador, mediada pela sensibilidade e entendimento humano) e númeno (a realidade em si, inacessível diretamente ao conhecimento humano). Para Kant, toda experiência é organizada pelo espaço e tempo (formas universais da sensibilidade), comuns a todos os seres humanos, mas que limitam o acesso à essência das coisas.

Justificativa da alternativa correta (D):
A alternativa D acerta ao afirmar que existe um “relativismo kantiano”, mas distinto do relativismo radical de Protágoras. Em Kant, o conhecimento é relativo à constituição geral da sensibilidade humana, não a perspectivas individuais. Espaço e tempo são estruturas que todos compartilham — são as condições universais e objetivas através das quais conhecemos fenômenos, tornando o conhecimento transcendentalmente relativo aos humanos, não subjetivamente variável.

Análise das alternativas incorretas:

A) Sugere que a ciência pode ultrapassar o limite do conhecimento e alcançar as “coisas em si”. Erro: Em Kant, esse limite é estrutural — nunca conheceremos o númeno, apenas o fenômeno, independentemente do progresso.

B) Fala em diferença de grau entre sensível e inteligível, como se fosse possível chegar ao inteligível aprofundando o conhecimento. Erro: Para Kant, sensível (fenômeno) e inteligível (númeno) são domínios incomunicáveis — não há passagem de um para outro por aprofundamento empírico.

C) Afirma corretamente que o fenômeno é a coisa como aparece, mas restringe-se à estrutura do aparelho sensorial, sem considerar as formas a priori — espaço e tempo — fundamentais na filosofia kantiana. Erro: Insuficiência explicativa.

Estratégias e pegadinhas:
Atenção para trocas entre os termos fenômeno (acessível) e númeno (inacessível); armadilha de avanço da ciência ultrapassar limites estruturais; lembrar que, em Kant, o relativismo é das condições universais do conhecimento.

Referência: KANT, Crítica da Razão Pura.

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