Questão 598d4aa3-d8
Prova:PUC - SP 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Pela leitura do texto, infere-se que a expressão "mero populismo”, empregada no terceiro parágrafo, significa

Os textos a seguir serão a base da questão objetiva. 


Recado dado ao STF 

Editorial Folha de S.Paulo, 13 set. 2016

  Poucas vezes a posse de um presidente do Supremo Tribunal Federal se revestiu de tanto simbolismo quanto a de Cármen Lúcia, cuja chegada ao comando do órgão de cúpula do Judiciário se consumou nesta segunda-feira (12). 

  Em uma cerimônia simples, a ministra quebrou o protocolo já no início de seu discurso. Em vez de cumprimentar primeiro o presidente da República, Michel Temer (PMDB), Cármen Lúcia considerou que a maior autoridade presente era "Sua Excelência, o povo" – e, por isso, saudou antes de todos o "cidadão brasileiro".

  Partisse de outrem, o gesto talvez pudesse ser considerado mero populismo; vindo da nova presidente do STF, guarda coerência com outras iniciativas de valor simbólico semelhante, como abrir mão de carro oficial com motorista ou dispensar a festa em sua própria posse.

  Como se pudesse haver dúvidas a respeito disso, Cármen Lúcia deixa clara a intenção de, no próximo biênio, conduzir o STF com a mesma austeridade que pauta sua conduta pessoal. "Privilégios são incompatíveis com a República", disse a esta Folha no ano passado.

  É de imaginar, assim, que a nova presidente de fato reveja uma das principais bandeiras da agenda corporativista de seu antecessor, Ricardo Lewandowski: o indefensável aumento salarial para os ministros do Supremo.

  Não há de ser esse o único contraste entre as gestões. Espera-se que Cármen Lúcia moralize os gastos com diárias de viagens oficiais no STF, amplie a transparência e a previsibilidade das decisões do Judiciário e, acima de tudo, resgate o papel disciplinar do Conselho Nacional de Justiça, esvaziado sob a batuta de Lewandowski.

  Desfrutando de sólida reputação no meio jurídico, a ministra suscita altas expectativas ainda por outro motivo: ela relatou o processo do ex-deputado federal Natan Donadon, condenado por desvio de dinheiro público e primeiro político a ter sua prisão determinada pelo STF desde a promulgação da Constituição de 1988.

  Daí por que o ministro Celso de Mello se sentiu à vontade para, antes do discurso de Cármen Lúcia, proferir palavras duríssimas contra "os marginais da República, cuja atuação criminosa tem o efeito deletério de subverter a dignidade da função política e da própria atividade governamental".

  No plenário do Supremo, diversos figurões da política investigados ou processados por crimes contra o patrimônio público apenas ouviam, constrangidos. Que o recado da gestão Cármen Lúcia possa ir além do plano simbólico.


De Caetano a Guimarães Rosa, veja as referências de Cármen Lúcia em seu discurso de posse


POR LUMA POLETTI | 13/09/2016 10:00

   Ao longo de seu discurso de posse, a ministra Cármen Lúcia, que assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (12), citou trechos de canções de Caetano Veloso, Titãs, além de versos de Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos e fez menção a Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas, clássico de Guimarães Rosa e uma das mais.
  A escolha das referências musicais da ministra dá pistas sobre sua visão acerca do atual momento sociopolítico. Citando o cantor e compositor Caetano Veloso, presente na sessão – que interpretou em voz e violão o hino nacional – Cármen Lúcia concordou que “alguma coisa está fora da ordem”.
  “Caetanos e não caetanos deste Brasil tão plural concluem em uníssono: alguma coisa está fora de ordem, fora da nova ordem mundial”, disse a ministra. “O que nos cumpre, a nós servidores públicos em especial, é questionar e achar resposta: de qual ordem está tudo fora…”, acrescentou.
  O cantor já se posicionou contra o governo do presidente Michel Temer, nos bastidores da cerimônia de abertura das Olimpíadas de 2016.
  A nova presidente do STF também citou a música “Comida”, da banda Titãs. “Cumpre-nos dedicar-nos de forma intransigente e integral a dar cobro ao que nos é determinado pela Constituição da República e que de nós é esperado pelo cidadão brasileiro, o qual quer saúde, educação, trabalho, sossego para andar em paz por ruas, estradas do país e trilhas livres para poder sonhar além do mais. Que, como na fala do poeta da música popular brasileira, ninguém quer só comida, quer também diversão e arte”.
  Um dos compositores da canção citada é Arnaldo Antunes, que também se posicionou contra o impeachment de Dilma Rousseff nas redes sociais.
  Versos
  Cármen Lúcia também citou versos da escritora Cecília Meireles, ao dizer que “liberdade é um sonho que o mundo inteiro alimenta” – da obra Romanceiro da Inconfidência, lançada em 1953.
  “Se, no verso de Cecília Meireles, a liberdade é um sonho, que o mundo inteiro alimenta, parece-me ser a Justiça um sentimento, que a humanidade inteira acalenta”, discursou a ministra.
  Mais adiante em seu discurso, Cármen Lúcia fez menção a um personagem do livro Grande Sertão: Veredas, do escritor mineiro (tal como a ministra) Guimarães Rosa. “Riobaldo afirmava que 'natureza da gente não cabe em nenhuma certeza'. Mas parece-me que a natureza da gente não se aguenta em tantas incertezas. Especialmente quando o incerto é a Justiça que se pede e que se espera do Estado”, disse a nova presidente do STF.
  Em seguida, outro escritor mineiro foi lembrado por Cármen Lúcia. “Em tempos cujo nome é tumulto escrito em pedra, como diria Drummond, os desafios são maiores. Ser difícil não significa ser impossível. De resto, não acho que para o ser humano exista, na vida, o impossível”, disse a ministra, em referência ao poema “Nosso tempo”, do escritor mineiro.
  A sucessora de Ricardo Lewandowski concluiu o discurso citando um terceiro escritor mineiro: Paulo Mendes Campos. “O Judiciário brasileiro sabe dos seus compromissos e de suas responsabilidades. Em tempo de dores multiplicadas, há que se multiplicarem também as esperanças, à maneira da lição de Paulo Mendes Campos”, disse Cármen Lúcia, em referência ao “Poema Didático”, de Paulo Mendes Campos.

Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/de-caetano-a-guimaraes-rosa-vejaas-referencias-de-carmen-lucia-em-seu-discurso-de-posse/ . Acesso em: 26 set.2016.
[Adaptado]  

A
prática de quem simula defender interesses das pessoas com menos recursos econômicos, de modo a conquistar-lhes aceitação e simpatia.
B
comportamento subserviente daqueles que se propõem a exercer influência sobre as atitudes de pessoas de todas as classes sociais.
C
modo de os partidos políticos estabelecerem relação direta com a população carente, a fim de obterem mais apoio.
D
forma como as massas populares se sentem diante do autoritarismo exercido pelas classes mais favorecidas.

Gabarito comentado

M
Maria Silva Monitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de Texto — Semântica e compreensão contextual.

Comentário da questão:

O foco desta questão está em interpretar corretamente a expressão “mero populismo” conforme empregada no texto. Para isso, é fundamental analisar tanto o significado do termo, quanto o sentido que assume no contexto do discurso.

Populismo é, como explicam Bechara e Cunha & Cintra, uma prática ou atitude política que, muitas vezes, busca aparentar defesa dos interesses populares, mas com intenção de angariar apoio ou simpatia. Quando acompanhado de "mero", significa que tal atitude pode ser pura fachada, sem verdadeira intenção.

No trecho citado, o texto diz: "Partisse de outrem, o gesto talvez pudesse ser considerado mero populismo...". Isso sugere que, em outras pessoas, o gesto de cumprimentar o povo poderia ser visto como simples tentativa de agradar as massas, sem compromisso autêntico. O sentido correto é, portanto, simular interesse verdadeiro para conquistar apoio popular.

Alternativa correta: A – Prática de quem simula defender interesses das pessoas com menos recursos econômicos, de modo a conquistar-lhes aceitação e simpatia.

Justificativa: A escolha se fundamenta na definição normativa encontrada em bons dicionários e confirmada por gramáticos: ao agir com “mero populismo”, busca-se aparentar preocupação com o povo visando aprovação, nem sempre de modo genuíno.

Análise das incorretas:

  • B) – Refere-se a “comportamento subserviente”, o que não corresponde ao conceito, pois populismo não tem relação direta com submissão, mas sim com simulação de interesse.
  • C) – Fala da estratégia de partidos para estabelecer relação direta com a população carente; porém, ignora o aspecto de simulação ou artifício superficial.
  • D) – Diz respeito à reação das massas ao autoritarismo; não interpreta a essência de populismo, que é uma atitude do agente político, não do povo.

Estratégia: Ao encontrar expressões como "mero populismo", relacione o termo ao seu uso comum e analise se o texto apresenta gesto autêntico ou apenas representativo. Busque no contexto se há crítica à superficialidade do ato.

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