Questão 56fd0a64-a5
Prova:UFU-MG 2018, UFU-MG 2018
Disciplina:Filosofia
Assunto:Conceitos Filosóficos, Ontologia e a Natureza do ser

    Considere o seguinte trecho, extraído da obra A náusea, do escritor e filósofo francês Jean Paul Sartre (1889-1980).

    “O essencial é a contingência. O que quero dizer é que, por definição, a existência não é a necessidade. Existir é simplesmente estar presente; os entes aparecem, deixam que os encontremos, mas nunca podemos deduzi-los. Creio que há pessoas que compreenderam isso. Só que tentaram superar essa contingência inventando um ser necessário e causa de si próprio. Ora, nenhum ser necessário pode explicar a existência: a contingência não é uma ilusão, uma aparência que se pode dissipar; é o absoluto, por conseguinte, a gratuidade perfeita.”

SARTRE, Jean Paul. A Náusea. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986. Tradução de Rita Braga, citado por: MARCONDES, Danilo Marcondes. Textos Básicos de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000.

    Nesse trecho, vemos uma exemplificação ou uma referência ao existencialismo sartriano que se apresenta como

A
recusa da noção de que tudo é contingente.
B
fundamentado no conceito de angústia, que deriva da consciência de que tudo é contingente.
C
denúncia da noção de má fé, que nos leva a admitir a existência de um ser necessário para aplacar o sentimento de angústia.
D
crítica à metafísica essencialista.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Alternativa correta: Dcrítica à metafísica essencialista.

Tema central: o trecho afirma a primazia da contingência da existência e a impossibilidade de deduzir entes a partir de um «ser necessário». Isso remete diretamente à crítica sartriana ao essencialismo metafísico — a ideia de que há uma essência fixa, necessária, que explica o existir.

Resumo teórico progressivo: Para Sartre (ver A Náusea), no pensamento existencialista radical vale a máxima existência precede essência: primeiro existe o indivíduo concreto; só depois é que atribuímos essências ou significados. A tentativa de reduzir essa contingência inventando um «ser necessário» é, para ele, uma forma de recuperar a metafísica essencialista que ele critica. Fontes úteis: Sartre, A Náusea; Stanford Encyclopedia of Philosophy — verbete sobre Sartre/existentialism.

Justificativa da alternativa D: o trecho rejeita a explicação metafísica que apela a um ser necessário como causa do existir. Ao reconhecer a contingência como "o absoluto" e a "gratuidade perfeita", Sartre desmonta a hipótese essencialista de essências prévias e necessárias — portanto trata-se de uma crítica à metafísica essencialista.

Análise das demais alternativas:

A. Incorreta — o texto não recusa que tudo seja contingente; pelo contrário, afirma precisamente isso (aceita a contingência como fundamental).

B. Parcialmente enganosa — a angústia é tema sartriano, mas o trecho enfatiza a contingência ontológica e a crítica ao ser necessário, não uma justificativa psicológica fundada na angústia.

C. Incorreta — má-fé em Sartre refere-se a autoengano existencial; o trecho não denuncia a má-fé nem relaciona diretamente a admissão de um ser necessário a esse conceito.

Estrategia para a prova: identifique termos-chave (contingência, ser necessário, causa de si, gratuidade). Relacione-os à máxima "existência precede essência" e descarte alternativas que confundam conceitos sartrianos próximos (angústia, má-fé) quando o enunciado trata de crítica metafísica.

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