O romance O guarani, exemplificado pelo trecho apresentado,
é expressão de uma intenção literária de José de Alencar:
Leia o trecho do romance O guarani, de José de Alencar, para
responder à questão.
A inundação crescia sempre; o leito do rio elevava-se
gradualmente; as árvores pequenas desapareciam; e a folhagem dos soberbos jacarandás sobrenadava já como grandes
moitas de arbustos.
A cúpula da palmeira, em que se achavam Peri e Cecília,
parecia uma ilha de verdura banhando-se nas águas da
corrente; as palmas que se abriam formavam no centro um
berço mimoso, onde os dois amigos, estreitando-se, pediam
ao céu para ambos uma só morte, pois uma só era a sua vida.
Cecília esperava o seu último momento com a sublime
resignação evangélica, que só dá a religião do Cristo; morria
feliz; Peri tinha confundido as suas almas na derradeira prece
que expirara dos seus lábios.
— Podemos morrer, meu amigo! disse ela com uma
expressão sublime.
Peri estremeceu; ainda nessa hora suprema seu espírito
revoltava-se contra aquela ideia, e não podia conceber que
a vida de sua senhora tivesse de perecer como a de um simples mortal.
— Não! exclamou ele. Tu não podes morrer.
A menina sorriu docemente.
— Olha! disse ela com a sua voz maviosa, a água sobe,
sobe...
— Que importa! Peri vencerá a água, como venceu a
todos os teus inimigos.
— Se fosse um inimigo, tu o vencerias, Peri. Mas é
Deus... É o seu poder infinito!
— Tu não sabes? disse o índio como inspirado pelo seu
amor ardente, o Senhor do céu manda às vezes àqueles a
quem ama um bom pensamento.
E o índio ergueu os olhos com uma expressão inefável
de reconhecimento.
Falou com um tom solene:
“Foi longe, bem longe dos tempos de agora. As águas
caíram, e começaram a cobrir toda a terra. Os homens subiram ao alto dos montes; um só ficou na várzea com sua
esposa.
“Era Tamandaré; forte entre os fortes; sabia mais que
todos. O Senhor falava-lhe de noite; e de dia ele ensinava
aos filhos da tribo o que aprendia do céu.
[...]”
(O guarani, 1997.)
Leia o trecho do romance O guarani, de José de Alencar, para responder à questão.
A inundação crescia sempre; o leito do rio elevava-se gradualmente; as árvores pequenas desapareciam; e a folhagem dos soberbos jacarandás sobrenadava já como grandes moitas de arbustos.
A cúpula da palmeira, em que se achavam Peri e Cecília, parecia uma ilha de verdura banhando-se nas águas da corrente; as palmas que se abriam formavam no centro um berço mimoso, onde os dois amigos, estreitando-se, pediam ao céu para ambos uma só morte, pois uma só era a sua vida.
Cecília esperava o seu último momento com a sublime resignação evangélica, que só dá a religião do Cristo; morria feliz; Peri tinha confundido as suas almas na derradeira prece que expirara dos seus lábios.
— Podemos morrer, meu amigo! disse ela com uma expressão sublime.
Peri estremeceu; ainda nessa hora suprema seu espírito revoltava-se contra aquela ideia, e não podia conceber que a vida de sua senhora tivesse de perecer como a de um simples mortal.
— Não! exclamou ele. Tu não podes morrer.
A menina sorriu docemente.
— Olha! disse ela com a sua voz maviosa, a água sobe, sobe...
— Que importa! Peri vencerá a água, como venceu a todos os teus inimigos.
— Se fosse um inimigo, tu o vencerias, Peri. Mas é Deus... É o seu poder infinito!
— Tu não sabes? disse o índio como inspirado pelo seu amor ardente, o Senhor do céu manda às vezes àqueles a quem ama um bom pensamento.
E o índio ergueu os olhos com uma expressão inefável de reconhecimento.
Falou com um tom solene:
“Foi longe, bem longe dos tempos de agora. As águas caíram, e começaram a cobrir toda a terra. Os homens subiram ao alto dos montes; um só ficou na várzea com sua esposa.
“Era Tamandaré; forte entre os fortes; sabia mais que todos. O Senhor falava-lhe de noite; e de dia ele ensinava aos filhos da tribo o que aprendia do céu.
[...]”
(O guarani, 1997.)