Questão 531b38f5-dc
Prova:FAMEMA 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O poema se desenvolve em acordo com uma característica típica da poesia de Manuel Bandeira:

Leia o poema de Manuel Bandeira para responder à questão.



A estrada

Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,

Interessa mais que uma avenida urbana.

Nas cidades todas as pessoas se parecem.

Todo o mundo é igual. Todo o mundo é toda a gente.

Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.

Cada criatura é única.

Até os cães.

Estes cães da roça parecem homens de negócios:

Andam sempre preocupados.

E quanta gente vem e vai!

E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:

Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.

Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,

Que a vida passa! que a vida passa!

E que a mocidade vai acabar.

(Estrela da vida inteira, 2009.)

A
a reflexão sobre questões abrangentes, por vezes abstratas, a partir de elementos pontuais, simples e cotidianos.
B
o elogio à contenção das emoções e ao regramento, o que é adequado a uma vida disciplinada, sem lugar para ações intempestivas.
C
a defesa de uma atitude humana libertária em face das questões do mundo, o que tem paralelo na utilização de métrica variada e versos livres.
D
a visão positiva a respeito dos homens, como indivíduos, e de suas organizações sociais.
E
a crítica aos avanços da modernidade em uma visão saudosista que se consolida na recuperação dos formatos clássicos da poesia.

Gabarito comentado

P
Paulo Rangel Monitor do Qconcursos

Comentário da questão – Interpretação de Texto (Poema de Manuel Bandeira)

Tema central: Interpretação de texto poético, com foco nas características estilísticas do autor, exigindo do candidato compreensão crítica sobre a maneira como Bandeira constrói sentido a partir da observação do cotidiano.

O poema “A estrada” ilustra a principal marca da poesia de Manuel Bandeira: a capacidade de transformar situações simples em reflexões profundas e universais. O eu lírico parte de elementos do dia a dia — a estrada onde mora, os cães da roça, o leite puxado por bode — para suscitar reflexões sobre a individualidade (“Cada criatura é única”) e sobre a transitoriedade da vida (“Que a vida passa! Que a vida passa! E que a mocidade vai acabar.”).

Alternativa correta (A): “a reflexão sobre questões abrangentes, por vezes abstratas, a partir de elementos pontuais, simples e cotidianos.”
Esta alternativa está correta porque evidencia a principal característica do modernismo de Bandeira: o olhar sensível sobre o comum para extrair temas profundos. Segundo Cunha & Cintra (2008), esse processo conecta o particular ao universal, o que se confirma em vários trechos do poema.

Análise das alternativas incorretas:

B) Elogio à contenção das emoções e disciplina. — O texto não prega regramento ou frieza emocional, pelo contrário, valoriza a autenticidade e subjetividade.

C) Defesa de atitude libertária e verso livre. — Há verso livre, mas o foco não está numa postura libertária; o poema não faz apologia à liberdade frente ao mundo.

D) Visão positiva dos indivíduos e suas organizações. — O tom do poema valoriza a individualidade, sem elogiar necessariamente as organizações sociais, que, nas cidades, são vistas até como uniformizadoras.

E) Crítica à modernidade e recuperação de formatos clássicos. — O poema não condena a modernidade nem adota estruturas clássicas; sua métrica é livre e o olhar é introspectivo, não saudosista.

Para resolver questões como essa, leia atentamente as palavras-chave do enunciado e relacione fatos do texto às características do autor. Evite ser induzido por palavras que pareçam elogiosas — busque sempre o sentido global do texto!

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