Questão 509cd753-df
Prova:Esamc 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Figuras de Linguagem

“Outra pergunta: por que Ruy Castro estranha os sentidos analógicos (no caso, a extensão de uma disputa turfística para uma futebolística), que são uma das principais características das línguas humanas? Será que ele pensa, por exemplo, que uma pessoa doce vem coberta de açúcar?”


Sírio Possenti sugere que Ruy Castro não compreende uma figura de linguagem muito comum na língua, trata-se:

Da arte de citar
SÍRIO POSSENTI


     No texto, chamado ‘Com o sentido que você quiser’, publicado na Folha de S. Paulo de 25/04/2012, Ruy Castro estranha o emprego de ‘dérbi’ para designar embates como Guarani X Ponte Preta e cita uma série de dicionários que não anotam a acepção relativa a confrontos futebolísticos.
     Cita o Aurélio, que informa que dérbi é a “mais importante e tradicional carreira inglesa, disputada em Epsom pela primeira vez no século 18, e que veio a dar o nome ao primeiro clube de corrida de cavalos do Brasil, no RJ, depois incorporado ao Jóquei Clube”. Não há referências ao futebol, o que o deixou tranquilo.
     Para mostrar que aqueles jornalistas estão mesmo errados, consultou também o Webster’s Dictionary, cujas informações traduz: “1. Corrida de cavalos em Epsom, Inglaterra, patrocinada pelo 12º conde de Derby em 1780, daí o nome. Por extensão, corrida de cachorros (sic). 2. Chapéu-coco. 3. Um certo tipo de sapato com fivela para homens”. Ruy não lamenta os sentidos 2 e 3, nem explica suas razões.
     O final da coluna dele é irônico: “Ora, que besteira. Por que não fui logo ao Google ou à Wikipédia? Neles tem ‘dérbi’ à vontade, e com o sentido que você quiser” (anote-se a ocorrência de ‘tem’, embora a questão seja outra).
     O brilhante Ruy Castro erra pelo menos três vezes (imaginem os outros!): a) não se chateia com o fato de ‘dérbi’ signifi car chapéu-coco ou um tipo de sapato, mas acha estapafúrdio que designe uma partida de futebol; b) diz que se pode atribuir à palavra o sentido que se quiser; c) não consultou outros dicionários (ou não contou ao leitor o que eles dizem).
     Começo pelo final, que cobre as outras questões. Consultar outras fontes pode ser revelador. Vamos lá.
     O Houaiss informa que dérbi é um “jogo, partida ou competição esportiva de grande destaque (como o Derby de Epsom, na Inglaterra)”. Como se vê, ele não o restringe ao turfe; só menciona o evento ‘original’ entre parênteses.
     O Petit Larousse (traduzo) diz que é um “encontro esportivo entre equipes vizinhas” (como Ponte e Guarani, portanto). Segundo o Petit Robert, é um “encontro de futebol entre duas cidades vizinhas”.
     O McMillan anota: “um jogo entre dois times da mesma cidade” (nada de cavalos, como se vê) e o YOURDictionary repete a mesma informação (ou será o contrário?).
     Finalmente, o Diccionario de La Lengua Española (da Real Academia) informa que dérby é um “encontro, geralmente futebolístico, entre duas equipes cujos torcedores mantêm permanente rivalidade”. De novo, nada de cavalos. E prioriza claramente o futebol!
     Gostaria muito de conseguir entender outras coisas (que dérbi não significa só corridas de cavalos está mais do que claro; já entendi). Uma: por que será que dérbi significa chapéu-coco e um tipo de sapato com fivela para homens? Meu faro diz que eram peças usadas para ir aos dérbis.
    Pergunta: por que Ruy Castro teve a má sorte de só conhecer dicionários que, casualmente, não citam o sentido relativo a encontros futebolísticos?
     Outra pergunta: por que Ruy Castro estranha os sentidos analógicos (no caso, a extensão de uma disputa turfística para uma futebolística), que são uma das principais características das línguas humanas? Será que ele pensa, por exemplo, que uma pessoa doce vem coberta de açúcar?
    Finalmente, queria entender como Ruy Castro consegue não entender que, se todo mundo emprega ‘dérbi’ para falar de certos jogos de futebol e os dicionários que ele consultou não registram o fato, o problema deve ser dos dicionários.
(Ciência Hoje, 24/04/2015. Disponível em http://cienciahoje.uol.com.br/ colunas/palavreado/da-arte-de-citar, acesso em 02/09/2015. Adaptado.)

A
da anáfora;
B
do paradoxo;
C
da metáfora;
D
da antítese;
E
da aliteração.

Gabarito comentado

R
Roberta FernandesTime de mentores Qconcursos

Tema central: A questão aborda figuras de linguagem, especificamente a metáfora, dentro do contexto de interpretação de texto. Para os vestibulares e concursos, reconhecer e diferenciar figuras de linguagem é fundamental tanto para leitura crítica quanto para análise dos sentidos presentes em textos.

Alternativa correta: C) Metáfora

Justificativa: O texto critica a dificuldade de Ruy Castro em aceitar o uso analógico do termo “dérbi” para designar partidas de futebol. O autor usa, como exemplo, a expressão “pessoa doce” para mostrar que é comum transferirmos sentidos entre campos diferentes, atribuindo doçura, normalmente do sabor, à personalidade. Essa transferência de significado é chamada de metáfora na norma-padrão, conforme Celso Cunha & Lindley Cintra: “a metáfora é a transposição de sentido, onde o termo designa uma coisa diferente do seu objeto habitual, graças a alguma semelhança perceptível” (Nova Gramática do Português Contemporâneo).

Como identificar no texto: Observe que o autor questiona se Ruy Castro “pensa, por exemplo, que uma pessoa doce vem coberta de açúcar”. A construção mostra um sentido figurado, não literal, característica das metáforas.

Análise das alternativas incorretas:

A) Anáfora: Trata-se da repetição de palavras ou expressões no início de versos ou frases. Não ocorre na passagem analisada.

B) Paradoxo: Apresenta ideias contraditórias coexistindo; não há contradição, mas sim aproximação de sentidos diferentes.

D) Antítese: É o contraste entre palavras ou ideias opostas. O trecho não contrapõe, apenas transfere sentidos.

E) Aliteração: Refere-se à repetição de sons consonantais. Não há destaque de sonoridade no trecho.

Dica estratégica: Em questões de interpretações sobre figuras de linguagem, observe as palavras-chave e pense se o sentido é literal (denotativo) ou figurado (conotativo). Esse raciocínio ajuda a identificar a alternativa correta, especialmente quando o texto faz comparações implícitas sem usar conectivos (“como”, “parece”).

Regra central: “A metáfora é a transferência de sentido por analogia, sem o conectivo comparativo” (Rocha Lima, Gramática Normativa da Língua Portuguesa).

Resumo: O texto explora a metáfora ao criticar quem não entende a extensão de sentidos na língua, destacando como é usual aplicarmos palavras a novidades por semelhança de função, efeito ou sensação.

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