Questão 5096d843-df
Prova:Esamc 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Parênteses, Uso das aspas, Pontuação, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

“Neles tem ‘dérbi’ à vontade, e com o sentido que você quiser” (anote-se a ocorrência de ‘tem’, embora a questão seja outra). Assinale a alternativa que complete corretamente a afi rmação sobre o trecho do texto de Sírio Possenti:


O uso de __(1)__ tem como função marcar um comentário de Sírio Possenti. Este sugere que haveria __(2)__ em Ruy Castro devido ao uso __(3)__ do verbo “ter” no mesmo texto em que critica o uso corriqueiro da expressão “dérbi”.

Da arte de citar
SÍRIO POSSENTI


     No texto, chamado ‘Com o sentido que você quiser’, publicado na Folha de S. Paulo de 25/04/2012, Ruy Castro estranha o emprego de ‘dérbi’ para designar embates como Guarani X Ponte Preta e cita uma série de dicionários que não anotam a acepção relativa a confrontos futebolísticos.
     Cita o Aurélio, que informa que dérbi é a “mais importante e tradicional carreira inglesa, disputada em Epsom pela primeira vez no século 18, e que veio a dar o nome ao primeiro clube de corrida de cavalos do Brasil, no RJ, depois incorporado ao Jóquei Clube”. Não há referências ao futebol, o que o deixou tranquilo.
     Para mostrar que aqueles jornalistas estão mesmo errados, consultou também o Webster’s Dictionary, cujas informações traduz: “1. Corrida de cavalos em Epsom, Inglaterra, patrocinada pelo 12º conde de Derby em 1780, daí o nome. Por extensão, corrida de cachorros (sic). 2. Chapéu-coco. 3. Um certo tipo de sapato com fivela para homens”. Ruy não lamenta os sentidos 2 e 3, nem explica suas razões.
     O final da coluna dele é irônico: “Ora, que besteira. Por que não fui logo ao Google ou à Wikipédia? Neles tem ‘dérbi’ à vontade, e com o sentido que você quiser” (anote-se a ocorrência de ‘tem’, embora a questão seja outra).
     O brilhante Ruy Castro erra pelo menos três vezes (imaginem os outros!): a) não se chateia com o fato de ‘dérbi’ signifi car chapéu-coco ou um tipo de sapato, mas acha estapafúrdio que designe uma partida de futebol; b) diz que se pode atribuir à palavra o sentido que se quiser; c) não consultou outros dicionários (ou não contou ao leitor o que eles dizem).
     Começo pelo final, que cobre as outras questões. Consultar outras fontes pode ser revelador. Vamos lá.
     O Houaiss informa que dérbi é um “jogo, partida ou competição esportiva de grande destaque (como o Derby de Epsom, na Inglaterra)”. Como se vê, ele não o restringe ao turfe; só menciona o evento ‘original’ entre parênteses.
     O Petit Larousse (traduzo) diz que é um “encontro esportivo entre equipes vizinhas” (como Ponte e Guarani, portanto). Segundo o Petit Robert, é um “encontro de futebol entre duas cidades vizinhas”.
     O McMillan anota: “um jogo entre dois times da mesma cidade” (nada de cavalos, como se vê) e o YOURDictionary repete a mesma informação (ou será o contrário?).
     Finalmente, o Diccionario de La Lengua Española (da Real Academia) informa que dérby é um “encontro, geralmente futebolístico, entre duas equipes cujos torcedores mantêm permanente rivalidade”. De novo, nada de cavalos. E prioriza claramente o futebol!
     Gostaria muito de conseguir entender outras coisas (que dérbi não significa só corridas de cavalos está mais do que claro; já entendi). Uma: por que será que dérbi significa chapéu-coco e um tipo de sapato com fivela para homens? Meu faro diz que eram peças usadas para ir aos dérbis.
    Pergunta: por que Ruy Castro teve a má sorte de só conhecer dicionários que, casualmente, não citam o sentido relativo a encontros futebolísticos?
     Outra pergunta: por que Ruy Castro estranha os sentidos analógicos (no caso, a extensão de uma disputa turfística para uma futebolística), que são uma das principais características das línguas humanas? Será que ele pensa, por exemplo, que uma pessoa doce vem coberta de açúcar?
    Finalmente, queria entender como Ruy Castro consegue não entender que, se todo mundo emprega ‘dérbi’ para falar de certos jogos de futebol e os dicionários que ele consultou não registram o fato, o problema deve ser dos dicionários.
(Ciência Hoje, 24/04/2015. Disponível em http://cienciahoje.uol.com.br/ colunas/palavreado/da-arte-de-citar, acesso em 02/09/2015. Adaptado.)

A
1. aspas; 2. uma contradição; 3. incorreto.
B
1. parênteses; 2. um erro; 3. oral.
C
1. aspas; 2. uma citação; 3. descontextualizado.
D
1. parênteses; 2. uma incoerência; 3. uso informal.
E
1. parênteses; 2. um truísmo; 3. pleonástico.

Gabarito comentado

L
Leandro SantosMonitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de texto com foco em pontuação (uso de parênteses), coerência textual e variação linguística (registro formal x informal).

O enunciado pede para explicar a função dos parênteses no trecho analisado e a crítica feita por Sírio Possenti ao uso da linguagem por Ruy Castro. Vamos detalhar cada ponto para que você compreenda e possa aplicar em outras questões!

Justificativa da alternativa correta — D:

Os parênteses (“anote-se a ocorrência de ‘tem’, embora a questão seja outra”) inserem um comentário do autor, função clara e prevista pela norma-padrão: “Os parênteses são empregados para intercalar explicações, comentários ou reflexões…” (Cunha & Cintra). Isso permite ao autor fazer observações críticas sem interromper o fluxo textual.

Possenti sugere uma incoerência em Ruy Castro: ele critica o uso informal de “dérbi” (significando partida de futebol), enquanto recorre ele mesmo a um registro informal, ao usar “tem” no sentido de “há”/“existem”. Esse uso do verbo “ter” é informal e típico da oralidade, como explica Bechara: “O verbo ‘ter’, no sentido de haver ou existir, é comum na linguagem coloquial, mas deve ser evitado na formal”.

Portanto, o correto é:

D) parênteses; incoerência; uso informal.

Análise das alternativas incorretas:

A) Fala em “aspas” (errado, o recurso são parênteses) e “contradição”. “Incoerência” é mais adequado, pois expressa falha na lógica do discurso, e não necessariamente oposição total.

B) “Um erro” é insuficiente, já que a crítica é sobre coerência, não simples erro gramatical. O uso do verbo é mais que “oral”, é informal (abrange escrito não formal).

C) Idem quanto à “aspas”. O comentário entre parênteses não é citação nem questão de contexto, mas de análise crítica.

E) “Truísmo” (obviedade) e “pleonástico” (redundância) não se aplicam aqui, pois a crítica se refere ao registro e coerência, não à obviedade ou excesso de palavras.

Dicas para provas: Fique atento ao tipo de pontuação (parênteses x aspas), analise se o comentário do autor é explicativo/crítico e diferencie erro gramatical de incoerência. Use manuais consagrados (como Cunha & Cintra, Bechara) para consultar esses usos!

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