A pesquisadora Alicia Kowaltowski mostra-se
indignada frente à notícia do investimento em
pesquisas sobre a ‘pílula do câncer’ e finaliza assim: “É
um desrespeito aos cientistas brasileiros sérios”.
A palavra em destaque, ao ser relacionada com
todo o texto, deixa pressuposto que:
“GOVERNO VAI INVESTIR R$ 10 MILHÕES EM
ESTUDO DA FOSFOETANOLAMINA
Ministério da Ciência e Tecnologia quer saber se a
polêmica ‘pílula do câncer’ realmente é segura e
funciona.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
vai investir R$ 10 milhões em pesquisas sobre a
fosfoetanolamina sintética, para descobrir se a
polêmica substância produzida por um laboratório da
Universidade de São Paulo (USP) tem mesmo
potencial para tratar o câncer. [...] O compromisso foi
acertado numa reunião do recém-empossado ministro
Celso Pansera com representantes da comunidade
científica e do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), ontem, em Brasília.
[...] O pesquisador que orientou a pesquisa inicial,
Gilberto Chierice, está aposentado. Ele defende a
distribuição da substância, que acredita ser segura,
apesar de não ter dados para comprovar isso. Segundo
informações do MCTI, um primeiro repasse de R$ 2
milhões já sairá do orçamento da pasta neste ano. O
restante será repassado em duas parcelas de R$ 4
milhões, nos próximos dois anos. [...] ‘Absurdo isso’,
reagiu a pesquisadora Alicia Kowaltowski, do Instituto
de Química da USP em São Paulo, ao ler a notícia nas redes sociais. ‘Atitudes completamente antiéticas por
parte de um pesquisador sendo premiado com um
‘caminho paralelo’ de financiamento significativo,
enquanto milhares de projetos regulares já aprovados
seguem sem pagamento [...] É um desrespeito aos
cientistas brasileiros sérios’.” (adaptado)
Disponível em: ciencia.estadao.com.br/blogs/herton-escobar. Acesso
em nov. 2015.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de Texto, com foco no conceito de pressuposição semântica.
Explicação do conceito: Pela norma-padrão, a pressuposição refere-se a uma informação que não está dita de forma direta, mas o leitor infere automaticamente pelo contexto ou pela escolha das palavras do enunciador. Como mostram Celso Cunha & Lindley Cintra, pressupor significa considerar uma informação como base para outra que está expressa.
No trecho analisado (“… respeito aos cientistas brasileiros sérios”), a pesquisadora qualifica o grupo ao usar o adjetivo “sérios”. Isso divide a categoria: pressupõe que existem cientistas brasileiros que não são sérios. Essa é uma inferência implícita, fundamental para o entendimento do texto.
Análise das alternativas:
A) O governo não respeita os cientistas brasileiros sérios.
Análise: Embora a pesquisadora critique o governo, esta alternativa apenas repete o explícito, sem identificar a pressuposição embutida no uso do adjetivo.
B) Os cientistas brasileiros são sérios, pois vão receber investimentos.
Análise: Erro de interpretação. O texto mostra insatisfação com o direcionamento do investimento, não uma generalização de seriedade entre todos os cientistas.
C) Alicia também pesquisa a fosfoetanolamina sintética, mas não é respeitada.
Análise: Não há, em nenhum ponto do texto, a afirmação de que Alicia pesquisa essa área. Alternativa baseada em ilação indevida.
D) Alicia é tão séria quanto o pesquisador Gilberto Chierice.
Análise: O texto não compara eticamente Alicia a Chierice; trata-se de conclusão extrapolada e sem base textual.
E) Existem cientistas brasileiros que não são sérios.
Correta. É esta a pressuposição: ao falar de “cientistas sérios”, ela distingue-os daqueles que não o são, embora não os cite. Assim, a compreensão de pressuposição — conforme mostra Evanildo Bechara em sua gramática — sustenta a alternativa.
Dica para provas: Sempre que um grupo é qualificado com adjetivo (ex: “alunos dedicados”), pressupõe-se que há outros (alunos não dedicados) não citados diretamente.
Resumo da estratégia: Identifique qualificações explícitas e busque sempre o que elas deixam subentendido sobre o conjunto citado.
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