Questão 50684fe6-cb
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Analisando o contexto em que é empregada a expressão: “A paixão é o mundo a dividir por zero”, assinale
a alternativa que melhor a explica.
Analisando o contexto em que é empregada a expressão: “A paixão é o mundo a dividir por zero”, assinale
a alternativa que melhor a explica.
Os infelizes cálculos da felicidade (fragmento),
Mia Couto.
O homem da história é chamado Julio Novesfora. Noutras falas o mestre Novesfora. Homem bastante matemático, vivendo na quantidade exata, morando sempre no
acertado lugar. O mundo, para ele, estava posto em equação de infinito grau. Qualquer situação lhe algebrava o
pensamento. Integrais, derivadas, matrizes para tudo existia a devida fórmula. A maior parte das vezes mesmo ele
nem incomodava os neurónios*: – É conta que se faz sem cabeça. Doseava o coração em aplicações regradas, reduzida
a paixão ao seu equivalente numérico. Amores, mulheres, filhos: tudo isso era hipótese nula. O sentimento, dizia
ele, não tem logaritmo. Por isso, nem se justifica a sua
equação. Desde menino se abstivera de afetos. Do ponto
de vista da álgebra, dizia, a ternura é um absurdo. Como o
zero negativo. Vocês vejam, dizia ele aos alunos: a erva
não se enerva, mesmo sabendo-se acabada em ruminagem
de boi. E a cobra morde sem ódio. É só o justo praticar da
dentadura injetável dela. Na natureza não se concebe sentimento. Assim, a vida prosseguia e Julio Novesfora era
nela um aguarda-factos*. Certa vez, porém, o mestre se
apaixonou por uma aluna, menina de incorreta idade. Toda
a gente advertia: essa menina é mais que nova, não dá
para si*.
– Faça as contas mestre. Mas o mestre já perdera o cálculo. Desvalessem os
razoáveis conselhos. Ainda mais grave: ele perdia o matemático tino. Já nem sabia o abecedário dos números. Seu
pensamento perdia as limpezas da lógica. Dizia coisas sem
pés. Parecia, naquele caso, se confirmar o lema: quanto
mais sexo menos nexo. Agora, a razão vinha tarde de mais*.
O mestre já tinha traçado a hipotenusa à menina. Em folgas e folguedos, Julio Novesfora se afastava dos rigores
da geometria. O oito deitado é um infinito. E, assim, o
professor ataratonto, relembrava:
– A paixão é o mundo a dividir por zero.
*grafia usada em Moçambique
Os infelizes cálculos da felicidade (fragmento),
Mia Couto.
O homem da história é chamado Julio Novesfora. Noutras falas o mestre Novesfora. Homem bastante matemático, vivendo na quantidade exata, morando sempre no
acertado lugar. O mundo, para ele, estava posto em equação de infinito grau. Qualquer situação lhe algebrava o
pensamento. Integrais, derivadas, matrizes para tudo existia a devida fórmula. A maior parte das vezes mesmo ele
nem incomodava os neurónios*:
– É conta que se faz sem cabeça.
Doseava o coração em aplicações regradas, reduzida
a paixão ao seu equivalente numérico. Amores, mulheres, filhos: tudo isso era hipótese nula. O sentimento, dizia
ele, não tem logaritmo. Por isso, nem se justifica a sua
equação. Desde menino se abstivera de afetos. Do ponto
de vista da álgebra, dizia, a ternura é um absurdo. Como o
zero negativo. Vocês vejam, dizia ele aos alunos: a erva
não se enerva, mesmo sabendo-se acabada em ruminagem
de boi. E a cobra morde sem ódio. É só o justo praticar da
dentadura injetável dela. Na natureza não se concebe sentimento. Assim, a vida prosseguia e Julio Novesfora era
nela um aguarda-factos*. Certa vez, porém, o mestre se
apaixonou por uma aluna, menina de incorreta idade. Toda
a gente advertia: essa menina é mais que nova, não dá
para si*.
– Faça as contas mestre.
Mas o mestre já perdera o cálculo. Desvalessem os
razoáveis conselhos. Ainda mais grave: ele perdia o matemático tino. Já nem sabia o abecedário dos números. Seu
pensamento perdia as limpezas da lógica. Dizia coisas sem
pés. Parecia, naquele caso, se confirmar o lema: quanto
mais sexo menos nexo. Agora, a razão vinha tarde de mais*.
O mestre já tinha traçado a hipotenusa à menina. Em folgas e folguedos, Julio Novesfora se afastava dos rigores
da geometria. O oito deitado é um infinito. E, assim, o
professor ataratonto, relembrava:
– A paixão é o mundo a dividir por zero.
*grafia usada em Moçambique
A
A paixão trouxe, para Novesfora, um mundo que ele
julgava impossível existir.
B
A paixão é tão impossível que pode ser comparada a
uma divisão por zero.
C
A pessoa apaixonada perde a capacidade de raciocinar com números.
D
Se existe paixão, existe também a divisão por zero,
negada pelos matemáticos.