Segundo o texto:
Afora espíritos essencialmente satíricos
e caricatos como Emílio de Menezes, outros
havia, como Lima Barreto, que parece se vingavam das desditas da existência transbordando o fel da maledicência travestido em
constantes ataques a tudo e a todos. (...) Raro
era o homem de letras e, até mesmo, o homem
público que tivesse passado a vida sem experimentar a vivência belicosa da polêmica.
Tal era a frequência, que tinha foros de gênero literário que alguém poderia cultivar e no
qual fosse, por assim dizer, um especialista. As
biografias dos grandes homens da época são,
a esse respeito, bastante instrutivas. Não são
poucos aqueles cujos biógrafos qualificam de
polemista como poderiam qualificar de publicista, romancista ou polígrafo.
(Antonio Luís Machado Neto, Estrutura social da república das Letras: sociologia da vida intelectual brasileira
1870-1930, Edusp)
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto. Nessa questão, o objetivo é compreender a ideia principal do fragmento apresentado, analisando como a prática da polêmica foi descrita no contexto literário brasileiro. As habilidades cobradas incluem: identificar o tema, perceber a progressão textual e interpretar expressões-chave segundo a norma-padrão.
Justificativa da alternativa correta (E):
“De tão praticada, a polêmica acabou constituindo-se numa especialidade literária.”
Essa alternativa está correta porque corresponde diretamente ao que foi afirmado no trecho: “Tal era a frequência, que tinha foros de gênero literário que alguém poderia cultivar e no qual fosse, por assim dizer, um especialista.” Ou seja, a polêmica tornou-se tão comum no meio literário que foi encarada como um gênero, passível de ‘especialização’. As palavras “foros de gênero literário” indicam que a polêmica adquiriu status de manifestação artística praticada por muitos na época.
Por que as demais estão erradas?
A) Diz que as biografias mostram conduta avessa à polêmica, mas o texto deixa claro que era raro não conviver com polêmicas, invalidando essa leitura.
B) Afirma que só personalidades satíricas/caricatas causavam polêmicas. O texto cita outros perfis (ex: Lima Barreto) envolvidos também, mostrando que não havia essa exclusividade.
C) Argumenta que biógrafos equivocaram-se ao chamar romancistas/publicistas de polemistas. O texto sugere, ao contrário, que ser polemista era uma designação correta e até corriqueira para muitos.
D) Apresenta Emílio de Menezes e Lima Barreto como exemplos do mesmo tipo, mas o texto diferencia claramente suas motivações e formas: Menezes é descrito como satírico e caricato, Barreto, como alguém que transbordava maledicência.
Estratégia essencial: Em questões de interpretação, foque em termos-chave e conectivos que explicitam causa, consequência ou comparação. Evite “generalizações” ou associações que não estejam literal ou implicitamente sustentadas pelo texto.
Segundo a gramática de referência (Bechara; Cunha & Cintra), a análise semântica exige atenção às relações de sentido e à progressão temática. A alternativa correta emerge do entendimento da lógica argumentativa exposta no texto.
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