A casa de morar nas fazendas ou o palacete foram em
geral construídos a partir de 1870. Representavam o
poderio econômico e político do proprietário, assim como o
gênero da pintura de paisagem que, segundo o historiador
Rafael Marquese, foi mobilizado pela classe senhorial do
Vale do Paraíba como uma resposta direta à crise da
escravidão negra no Império do Brasil.
(Adaptado de Ana Luiza Martins, “Representações da economia cafeeira: dos barões
aos ‘Reis do café’, em Wilma Peres Costa e Ana Betraiz Demarchi Barel (orgs.),
Cultura e Poder entre o Império e a República. São Paulo: Alameda, 2018, p. 195.)
A partir do texto acima, é correto afirmar:
Gabarito comentado
Alternativa correta: C
Tema central: a questão trata da reação da classe senhorial cafeeira às dificuldades de reprodução da mão de obra escrava na segunda metade do século XIX e de como redefiniram seu capital simbólico — mansões, palacetes e representações artísticas — para reafirmar prestígio social.
Resumo teórico e contexto cronológico: A partir da proibição do tráfico transatlântico (Lei Eusébio de Queiroz, 1850) e com leis posteriores como a Lei do Ventre Livre (1871), houve escassez progressiva de trabalhadores escravizados. Nos anos 1870 emergiu uma crise no fornecimento de trabalho para o café, enquanto se debatia a imigração livre como alternativa. Nesse cenário, elites cafeeiras adaptaram estratégias econômicas e simbólicas (moradias suntuosas, pintura de paisagens) para preservar autoridade local — leitura apoiada por autores como Rafael Marquese e Ana Luiza Martins. (Ver também conceitos de capital simbólico em Pierre Bourdieu).
Justificativa da alternativa C: A opção C afirma que, no Segundo Reinado, diante da dificuldade em obter escravizados e das disputas sobre políticas migratórias, os cafeicultores redefiniram seu capital simbólico. Isso sintetiza corretamente o argumento do texto: a construção de casas de fazenda/palacetes e a promoção da pintura de paisagem foram respostas culturais e políticas à crise da escravidão, não meras continuidades sem relação com o contexto migratório e legal.
Análise das alternativas incorretas:
A — Incorreta. Mistura temporalidades: afirma que desde a instalação da corte joanina (1808) os senhores já investiam desse modo. O enunciado situa a construção desses palacetes a partir de 1870 como resposta à crise da escravidão, não como prática iniciada em 1808. Além disso simplifica a questão ao transformar tudo em mera modernização produtiva, sem reconhecer o componente simbólico e reativo.
B — Incorreta. Afirma que, na crise de 1870, produtores alavancaram o tráfico de escravizados vindos da África. O tráfico internacional foi formalmente proibido em 1850; embora houvesse tráfico clandestino em menor escala, a caracterização de "alavancaram" é historicamente imprópria e desconsidera que a resposta principal foi buscar alternativas (imigração europeia, reajustes internos) e estratégias simbólicas.
D — Incorreta. Diz que o investimento simbólico foi reação contra uma reforma agrária estabelecida pela Lei de Terras (1850). Na verdade, a Lei de Terras restringiu acesso gratuito à terra e favoreceu proprietários — não foi uma reforma agrária que ameaçasse os senhores; portanto essa interpretação está equivocada e desconectada do argumento do texto.
Dica para concursos: observe marcadores temporais (ex.: "a partir de 1870"), termos-chave ("crise da escravidão", "capital simbólico", "políticas migratórias") e verifique coerência histórica (leis e datas). Esses elementos ajudam a eliminar alternativas anacrônicas ou que distorcem causas/efeitos.
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