Dez anos depois da saída do marechal Castello Branco de sua casa de Ipanema para o palácio Laranjeiras, o General Ernesto Geisel preparavase para ocupar a Presidência da República. Receberia uma ditadura militar que apoiara, sabendo que dentro dela está montada uma máquina de extermínio das lideranças esquerdistas. Não havia mais guerrilha, muito menos terrorismo. Sobrara a máquina.
GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 464.

Um exemplo da ação da máquina descrita por Gaspari durante o governo de Geisel foi:

a morte do operário Santo Dias da Silva, em São Paulo, durante repressão a um movimento grevista em 1979.

a detenção de 1700 estudantes da PUC de São Paulo, após invasão de suas dependências por forças policiais em setembro de 1977.

a captura e morte do ex-capitão do exército Carlos Lamarca, que havia aderido a luta armada contra o regime no sertão da Bahia em agosto de 1971.

a mal sucedida atuação de militares no atentado do Riocentro, com a finalidade imputar a grupos de esquerda a ação terrorista em maio de 1981.

a morte do estudante universitário Edson Luis em enfrentamentos com a polícia numa manifestação ocorrido no Rio de Janeiro em março de 1968.

Gabarito comentado

Vanessa CamposMonitor do Qconcursos

Alternativa correta: B

Tema central: trata-se da continuidade da repressão estatal durante o governo do general Ernesto Geisel (1974–1979). Apesar da retórica de "distensão lenta e gradual", a chamada "máquina" de repressão (órgãos de segurança, tortura, prisões ilegais) continuou atuando contra opositores, sobretudo estudantes e militantes.

Resumo teórico: a ditadura militar brasileira manteve diferentes fases — endurecimento (anos finais de 1960 e início dos 1970), seguido por uma abertura controlada nos governos Geisel e Figueiredo. A abertura não significou desmonte imediato dos dispositivos repressivos: prisões, tortura e ações policiais continuaram para desarticular a esquerda. (Fontes: Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada; Relatório da Comissão Nacional da Verdade, 2014.)

Por que a alternativa B é correta: a invasão e detenção em massa de estudantes da PUC-SP em setembro de 1977 exemplifica a ação continuada da máquina repressiva durante o governo Geisel — prisões políticas, intimidação de universidades e violência policial contra oposição. É um caso que ilustra bem a persistência da repressão mesmo em período de suposta abertura.

Análise das alternativas incorretas

A) Santo Dias da Silva, morto em 1979 durante repressão a greves — incidente ligado ao fim da década e à repressão contra movimentos sindicais, mais associado ao último ano de Geisel ou ao início de Figueiredo; não é o exemplo clássico referido por Gaspari para o período central da abertura.

C) Carlos Lamarca foi capturado e morto em 1971 — evento do auge da repressão durante o governo Médici, anterior à presidência de Geisel, portanto não exemplifica a máquina no governo Geisel.

D) O atentado do Riocentro (abril de 1981) ocorreu já no governo Figueiredo e é posterior a Geisel; além disso a data apresentada está imprecisa, tornando-a inadequada para ilustrar a ação durante Geisel.

E) A morte de Edson Luís (março de 1968) é marco da repressão estudantil, mas pertence ao período pré-AI-5 e ao início do endurecimento — é anterior ao governo Geisel.

Dica de prova: leia atenciosamente as datas e vincule eventos aos mandatos presidenciais. Perguntas sobre “continuidade da repressão” costumam exigir identificação de episódios ocorridos durante o período citado (aqui, Geisel, 1974–1979).

Fontes sugeridas: Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada (2002); Relatório da Comissão Nacional da Verdade (2014).

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