De acordo com Heloísa Starling, “Sertão é uma palavra
carregada de ambiguidade. Sertão pode indicar a formação
de um espaço interno, a fronteira aberta, ou um pedaço da
geografia brasileira onde a terra se torna mais árida, o
clima é seco, a vegetação escassa. Mas a palavra é
igualmente utilizada para apontar uma realidade política: a
inexistência de limites, o território do vazio, a ausência de
leis, a precariedade dos direitos. Sertão é, paradoxalmente,
o potencial de liberdade e o risco da barbárie – além de ser
também uma paisagem fadada a desaparecer.
(Adaptado de Heloisa Murgel Starling, A palavra “sertão” e uma história pouco
edificante sobre o Brasil. Disponível em https://www.suplementopernambuco.
com.br/artigos/2243-a-palavra-sert%C3%A3o-e-uma-hist%C3%B3ria-pouco-edifi
cante-sobre-o-brasil.html. Acessado em 06/08/2020.)
Assinale o excerto que corresponde à ideia de sertão
desenvolvida pela autora.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de textos, semântica e análise contextual. É necessário compreender os diferentes sentidos atribuídos à palavra “sertão” a partir do texto de Heloísa Starling. Segundo a autora, “sertão” é ambíguo: pode ser espaço físico/geográfico, mas também realidade política e social, marcando ausência de leis e precariedade de direitos.
Justificativa da alternativa correta:
Alternativa C: O excerto de Guimarães Rosa (“Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade.”) traduz de forma fiel a ideia multifacetada apresentada por Starling: um espaço com ausência de fronteiras, domínio do vazio, fragilidade das autoridades políticas (ausência de leis) e liberdade que pode se confundir com barbárie. A expressão “carecem de fechos” e “arredado do arrocho de autoridade” ressalta a precariedade dos limites institucionais, central no texto-base.
Análise das alternativas incorretas:
A) (Machado de Assis) – Mostra o sertão como espaço infinito e monótono, focando apenas no seu aspecto de “imensidão”, não alinhando com questões políticas ou sociais.
B) (José de Alencar) – Aborda a aridez e o sofrimento físico do sertão (paisagem queimada, falta de verde), mas não menciona aspectos sociais ou institucionais.
D) (Euclides da Cunha) – Retrata o sertão como fértil, vale amplo e sem dono, enfatizando abundância e vazio, porém não traz a noção de ausência de lei ou risco à ordem, essenciais segundo Starling.
Estratégias de interpretação: Ao ler questões desse tipo:
- Busque as palavras-chave do texto-base (ausência de lei, precariedade dos direitos, potencial de liberdade, ambiguidade).
- Descubra se a alternativa traz apenas descrição física (incorreta) ou abrange aspectos políticos/sociais (correta).
- Cuidado com excertos que falam somente de paisagem rural ou imensidão – atente-se à complexidade do conceito exigido.
Referência: Evanildo Bechara (2009) reforça que interpretar exige ir além do sentido literal e captar intenções e conotações do discurso.
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