Ou isto ou aquilo
O dono da usina, entrevistado, explicou ao repórter que a situação é grave. Há excedente de
leite no país, e o consumo não dá pra absorver a produção intensiva:
— Uma calamidade. Imagine o senhor que o jornal aqui do município reclama contra a
poluição do rio, que está coberto por uma camada alvacenta. Não é nenhum corpo estranho não,
é leite. Estão jogando leite no rio porque não têm mais onde jogar. Os bueiros estão entupidos.
A população, como o senhor deve saber, é insuficiente para beber toda essa leitalhada ou
comê-la em forma de queijo, requeijão, manteiga e coisinhas.
— Insuficiente? Parece que a produção de crianças ainda é maior que a produção de leite.
— Numericamente sim, mas não têm capacidade econômica para beber leite. Têm apenas
boca, entende? Então nada feito. Se falta dinheiro aos pais dos garotos para adquirir o produto,
ainda bem que se joga leite fora, em vez de jogar os garotos.
ANDRADE, C. D. O sorvete e outras histórias. São Paulo: Ática, 1994.
Explorando o recurso do diálogo no discurso ficcional, a narrativa remete a um significado que
Ou isto ou aquilo
O dono da usina, entrevistado, explicou ao repórter que a situação é grave. Há excedente de leite no país, e o consumo não dá pra absorver a produção intensiva:
— Uma calamidade. Imagine o senhor que o jornal aqui do município reclama contra a poluição do rio, que está coberto por uma camada alvacenta. Não é nenhum corpo estranho não, é leite. Estão jogando leite no rio porque não têm mais onde jogar. Os bueiros estão entupidos. A população, como o senhor deve saber, é insuficiente para beber toda essa leitalhada ou comê-la em forma de queijo, requeijão, manteiga e coisinhas.
— Insuficiente? Parece que a produção de crianças ainda é maior que a produção de leite.
— Numericamente sim, mas não têm capacidade econômica para beber leite. Têm apenas boca, entende? Então nada feito. Se falta dinheiro aos pais dos garotos para adquirir o produto, ainda bem que se joga leite fora, em vez de jogar os garotos.
ANDRADE, C. D. O sorvete e outras histórias. São Paulo: Ática, 1994.
Explorando o recurso do diálogo no discurso ficcional, a narrativa remete a um significado que