“Repartimos a vida em idades, em anos, em meses, em
dias, em horas, mas todas estas partes são tão duvidosas,
e tão incertas, que não há idade tão florente, nem saúde
tão robusta, nem vida tão bem regrada, que tenha um só
momento seguro.”
(Antonio Vieira, “Sermão de Quarta-feira de Cinza – ano de 1673”, em A arte de
morrer. São Paulo: Nova Alexandria, 1994, p. 79.)
Nesta passagem de um sermão proferido em 1673,
Antônio Vieira retomou os argumentos da pregação que
fizera no ano anterior e acrescentou novas características à morte. Para comover os ouvintes, recorreu ao uso de
anáforas.
Assinale a alternativa que corresponde ao efeito produzido
pelas repetições no sermão.
Gabarito comentado
Tema central: Figuras de linguagem e interpretação de texto. O foco dessa questão é a anáfora, figura de linguagem que consiste na repetição de palavras ou expressões no início de frases ou orações para criar destaque, envolvimento emocional e ênfase em determinada ideia.
Justificativa para a alternativa correta (A): A alternativa A está correta porque o efeito intencional das repetições ("em idades, em anos, em meses, em dias, em horas") é sensibilizar os fiéis para o “desengano da passagem do tempo”. Ou seja, por mais que o ser humano tente dividir a vida em partes, todas são frágeis e incertas, sustentando a ideia de efemeridade e transitoriedade da existência. Segundo Bechara ("Moderna Gramática Portuguesa"), a anáfora potencializa a mensagem ao mostrar que, independentemente do tempo observado, não há garantia de segurança em nenhum instante da vida.
Observando o trecho, as repetições sucessivas criam um efeito de insistência, enfatizando que não há como escapar da incerteza da vida, reforçando a reflexão sobre o tempo perdido e a inevitabilidade da morte — elemento comum nos sermões de Vieira.
Por que as alternativas estão incorretas?
- B) Fala em "temor de uma vida longeva", porém o texto não aborda medo de viver muito, mas sim a incerteza quanto à duração da vida em qualquer fase.
- C) Sugere valorização de cada etapa da vida. No entanto, Vieira ressalta não o valor das etapas, mas que todas são “duvidosas e incertas”.
- D) Trata de insegurança de uma vida cristã, mas o foco do texto é a fragilidade da condição humana como um todo, e não especificamente da vivência cristã.
Dica para provas: Atenção especial a palavras repetidas logo no início de frases — geralmente trata-se de anáfora, usada para dar ênfase. Sempre relacione o efeito sonoro/repetitivo ao objetivo discursivo: o que exatamente o autor quer sensibilizar ou enfatizar nos leitores?
Referências recomendadas: Bechara (2009), Cunha & Cintra (2017) — fig. de linguagem; Manual de Redação da Presidência: clareza, precisão e estratégia textual.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






