Questão 4b598a7e-8f
Prova:UNICAMP 2021
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía*.
(Luís Vaz de Camões)

*soía: terceira pessoa do pretérito imperfeito do indicativo do verbo “soer” (costumar, ser de costume).

(Luís de Camões, 20 sonetos. Campinas: Editora da Unicamp, p.91.)

Indique a afirmação que se aplica ao soneto escrito por Camões.

A
O poema retoma o tema renascentista da mudança das coisas, que o poeta sente como motivo de esperança e de fé na vida.
B
A ideia de transformação refere-se às coisas do mundo, mas não afeta o estado de espírito do poeta, em razão de sua crença amorosa.
C
Tudo sempre se renova, diferentemente das esperanças do poeta, que acolhem suas mágoas e saudades.
D
Não apenas o estado de espírito do poeta se altera, mas também a experiência que ele tem da própria mudança.

Gabarito comentado

C
Carlos PereiraMonitor do Qconcursos

Comentário do Gabarito – Interpretação de Texto (Soneto de Camões)

Tema central: A questão exige interpretação de texto, com análise da perspectiva do eu-lírico sobre as mudanças e dos efeitos dessas transformações tanto no mundo quanto dentro de si mesmo.

Estratégia de resolução: Ao abordar um poema clássico como este, o candidato precisa:

  • Analisar o sentido global do texto (tema, tom e mensagem);
  • Observar palavras-chave, como “mudam-se”, “mudança”, “mor espanto” e “soía”, que revelam mudanças sucessivas e inquietude;
  • Interpretar a última estrofe, essencial para entender o amadurecimento ou a perplexidade do poeta diante da própria mutação da mudança.

Justificativa da alternativa correta (D):
“Não apenas o estado de espírito do poeta se altera, mas também a experiência que ele tem da própria mudança.”

O poema revela que o mundo e o próprio poeta mudam. O eu-lírico sente suas emoções transformar-se (“em mim converte em choro o doce canto”), mas identifica, sobretudo ao final, que até a natureza da mudança mudou (“Que não se muda já como soía”). Conforme ensina Evanildo Bechara, interpretação exige considerar as implicações do texto, e não apenas o que está expresso literalmente (cf. “Moderna Gramática Portuguesa”).

Análise das alternativas incorretas:

A) Falsa, pois não há esperança ou fé na vivência das mudanças. O tom é de incômodo, tristeza e perplexidade diante do que se perde e se transforma. O sentimento predominante é saudade e não esperança.

B) Incorreta, já que o estado de espírito do poeta também se altera, como provam as menções a mágoas, saudades e choro.

C) Parcial – o texto não afirma que tudo se renova, nem que as esperanças do poeta acolhem seus sentimentos; ao contrário, a renovação é vista como fonte de sofrimento.

Resumo das estratégias:

  • Leia atentamente as estrofes finais, que geralmente condensam a ideia principal dos poemas.
  • Desconfie de alternativas que suavizam demais o tom (como “esperança” em A) ou contradizem claramente o sentimento manifesto pelo eu-lírico.
  • Conecte palavras do texto às emoções e ideias predomimantes.

Conclusão: A alternativa D é a correta por abordar de modo completo a transformação do poeta e sua visão sobre as mudanças, em sintonia com o tema camoniano da transitoriedade. Estude sempre o texto com atenção aos sentimentos expressos!

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