XIII
Certas palavras têm ardimentos; outras, não.
A palavra jacaré fere a voz.
É como descer arranhando pelas escarpas de um
serrote.
É nome com verdasco de lodo no couro.
Além disso é agríope (que tem olho medonho).
Já a palavra garça tem para nós um
sombreamento de silêncios...
E o azul seleciona ela!
BARROS, M. Concerto a céu aberto para solo de pássaros. Rio de Janeiro: Record, 1998.
O texto exemplifica a linguagem particular da poesia de Manoel de Barros, aqui centrada na
XIII
Certas palavras têm ardimentos; outras, não.
A palavra jacaré fere a voz.
É como descer arranhando pelas escarpas de um
serrote.
É nome com verdasco de lodo no couro.
Além disso é agríope (que tem olho medonho).
Já a palavra garça tem para nós um
sombreamento de silêncios...
E o azul seleciona ela!
BARROS, M. Concerto a céu aberto para solo de pássaros. Rio de Janeiro: Record, 1998.
O texto exemplifica a linguagem particular da poesia de Manoel de Barros, aqui centrada na
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto poético, com foco em função poética da linguagem e na ludicidade vocabular. Esta questão exige compreender como o poeta joga com as palavras, explorando sons, sentidos e associações inesperadas.
Justificativa da alternativa correta (A): Associação lúdica entre forma e sentido
O poema de Manoel de Barros destaca o modo brincalhão e criativo de usar a linguagem poética. Ele associa o som das palavras à sua sensação e significado. Por exemplo, a palavra jacaré é descrita como "fere a voz", o que sugere uma sensação áspera ao pronunciá-la, enquanto garça evoca sombreamento de silêncios, criando delicadeza. Conforme Celso Cunha & Lindley Cintra, em gramática, a função poética da linguagem destaca o valor estético do texto, brincando com sons e sentidos (função poética), característica forte em Manoel de Barros.
Conceitos-chave: associação entre o som das palavras, sentidos originais e elementos de brincadeira linguística. Esse recurso é chamado de ludicidade verbal, muito valorizado na poesia moderna, segundo Evanildo Bechara (“Figuras de Linguagem”, Moderna Gramática Portuguesa).
Análise das alternativas incorretas:
B) introdução do inusitado no repertório poético: Apesar de haver certa novidade nas associações, o foco do texto não é o inusitado em si, mas a relação entre forma e sentido. Assim, não basta trazer novidade; há um jogo criativo de sons e significados.
C) tentativa de recriar o vocabulário tradicional: Não há, no poema, invenção de novas palavras ou vocabulário; o poeta trabalha com palavras já existentes (“jacaré”, “garça”), explorando novos sentidos através das suas características sonoras e imagéticas.
D) improvisação das imagens inspiradas na natureza: As imagens são construídas de modo planejado e não resultam de improvisação. Além disso, o tema central é a relação sonora e semântica das palavras, não somente a inspiração na natureza.
Resumo e Estratégia: Para questões desse tipo, busque relacionar título, palavras-chave do texto e intenção do poeta. Cuidado com alternativas genéricas ou que desviam do núcleo do poema. Observe sempre como a forma (som, estrutura das palavras) se liga ao significado, especialmente em poesia.
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