Aportou nesta cidade um navio francês que descarregou, com todo segredo e sagacidade, uns livrinhos cujo conteúdo era ensinar o modo mais fácil de fazer sublevações nos estados com infalível resultado (...). Instruídos por esses livrinhos, alguns mulatinhos e também alguns branquinhos da plebe, conceberam o arrojado pensamento de fazerem também seu levante (...).

Relação da Francesia Formada pelos Homens Pardos da Cidade da Bahia no Ano de 1798. Autor anônimo. In: Saga. São Paulo: Abril Cultural, 1981. p. 269.

No contexto da Conjuração Baiana (1798), o texto pode ser associado

Resposta correta: Alternativa C

Tema central: A questão trata da Conjuração Baiana (1798) e da influência das ideias da Revolução Francesa e das correntes jacobinas entre setores populares — sobretudo mestiços, livres e escravizados — que participaram do movimento.

Resumo teórico: A Conjuração Baiana (ou Revolta dos Alfaiates) combinou reivindicações políticas e sociais: proclamação de uma república, igualdade perante a lei, fim dos privilégios e inspiração nos ideais revolucionários franceses e no exemplo haitiano. Diferente de conspirações aristocráticas, teve forte componente popular e propostas igualitárias (direito ao trabalho, abolição de tributos e almejada liberdade para os escravizados). Fontes: a própria Relação da Francesia... (1798) e sínteses históricas (ex.: Boris Fausto, Emília Viotti da Costa).

Por que a alternativa C é correta? O enunciado menciona “livrinhos” que ensinaram a fazer sublevações e participantes “mulatinhos” e “branquinhos da plebe” — elementos que apontam para a circulação de ideias revolucionárias jacobinas entre camadas populares e uma intenção republicana e democrática. A Conjuração Baiana foi impregnada desse ideal republicano/democrático, não um projeto exclusivamente elitista ou monárquico.

Análise das alternativas incorretas:

A — Exagera ao afirmar que o objetivo imediato era "acabar com o regime de escravidão no Brasil". Embora houvesse reivindicações de liberdade e melhorias, o movimento não tinha poder prático para extinguir a escravidão nacional; era um projeto local com caráter republicano e social.

B — Erra ao afirmar que o projeto visava instalar uma monarquia constitucional inspirada pela alta burguesia francesa. Ao contrário, a Conjuração Baiana foi favorável à república e teve forte participação popular, não um plano liberal-monárquico elitista.

D — Confunde processos: o iluminismo circulou por várias vias, mas a descrição de uma ideologia que sustentaria “a tomada do poder imperial” é anacrônica e imprecisa — o movimento era republicano e contra regimes absolutistas/metropolitanos, não pela tomada do “poder imperial”.

E — Não há evidência de liderança francesa viajando pelo continente para incentivar diretamente a Conjuração; a transmissão foi por ideias, panfletos e o exemplo revolucionário, não por agentes franceses organizadores.

Dica prática para concursos: Foque em palavras-chave do enunciado (quem participa — mulatos, plebe; instrumentos — “livrinhos”; objetivo — “sublevações”) e relacione com o contexto 1790s: influência francesa/jacobina e modelo haitiano. Desconfie de alternativas que exageram (absolutismos, viagens de líderes estrangeiros) ou que atribuem a iniciativa a elites quando o texto aponta mobilização popular.

Fontes consultadas: Relação da Francesia... (1798); sínteses históricas sobre o final do século XVIII no Brasil (Boris Fausto; Emília Viotti da Costa).

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