Questão 46f2d879-c3
Prova:UEG 2019
Disciplina:Filosofia
Assunto:

A filosofia existencialista foi uma das mais populares no século XX e teve várias correntes. O mais destacado pensador existencialista foi Jean-Paul Sartre. Esse filósofo teve duas fases em seu pensamento. Na primeira fase, ele argumentou que o indivíduo está condenado a ser livre e apelar para os determinismos seria usar de má-fé. Na segunda fase, ele modera esse pensamento e passa a destacar a questão da situação, dos grupos sociais, das classes sociais. Nessa segunda fase, ele assevera que

A
os intelectuais devem ser engajados, pois “nem uma pedra é neutra” e por isso é preciso assumir a responsabilidade por si e pelos outros, o que ocorre através do engajamento ao lado do proletariado.
B
o homem continua “condenado a ser livre” e isso significa que, mesmo quando ele escolhe a não liberdade, ele continua escolhendo, o que demonstra que continua sendo livre e definindo seu destino.
C
os seres humanos precisam fazer escolhas e que o “projeto original”, que é aquilo que define o indivíduo, deve ser direcionado para a luta pela transformação social através da filiação a um partido político.
D
o indivíduo é “condicionado pela sociedade” e por diversas determinações, e que por isso é necessário o engajamento em atividades extra-sociais, como o isolamento e a produção artística solipsista.
E
o que importa, para o indivíduo, não é “o que ele faz de si mesmo e sim o que ele faz daquilo que fizeram dele”, o que significa admitir que existem determinações, mas que elas não têm importância.

Gabarito comentado

M
Manuela Cardoso Monitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa A

Tema central: trata-se do desenvolvimento do pensamento de Jean‑Paul Sartre sobre o sujeito moderno: da primeira fase (existencialismo da liberdade radical — “o homem está condenado a ser livre” e a noção de má‑fé) para a segunda fase, em que ele incorpora a noção de situação e defende o engajamento do intelectual na luta social.

Resumo teórico breve: na obra inicial (L'Être et le Néant, 1943; Existentialisme est un humanisme, 1946) Sartre enfatiza que “a existência precede a essência” e a responsabilidade individual. Posteriormente (ensaios reunidos em Situations; artigos em Les Temps Modernes), ele reconhece que os indivíduos estão inseridos em situações históricas e sociais e que o intelectual deve assumir compromisso político: o engajamento em favor das lutas dos oprimidos.

Justificativa da alternativa A: A alternativa A expressa exatamente a virada sartreana: defesa do engajamento do intelectual — “nem uma pedra é neutra” é a imagem usada para indicar que nada é neutro diante das escolhas históricas — e a responsabilidade por si e pelos outros, incluindo a solidariedade com o proletariado. Isso corresponde às posições de Sartre em Qu'est‑ce que la littérature? e nas coleções Situations, bem como à sua atuação em Les Temps Modernes.

Análise das alternativas incorretas

B — apresenta a tese da primeira fase (condenação à liberdade, má‑fé). Como o enunciado pede a afirmação da segunda fase, essa alternativa repete o estágio anterior e, portanto, está fora do foco.

C — mistura ideia correta (importância de escolhas e projeto existencial) com afirmação demasiado restritiva: exigir filiação partidária como condição necessária não corresponde ao pensamento de Sartre, que defendia engajamento político plural e crítico, não simples submissão a um partido.

D — contradiz Sartre: a sua segunda fase valoriza a ação coletiva e o engajamento social, não o isolamento solipsista. A proposta de “atividades extra‑sociais” é oposta ao que Sartre promoveu.

E — afirma que as determinações existem mas “não têm importância”: Sartre reconhece a importância da situação e das determinações históricas; ele não as anula, antes propõe agir a partir delas. A frase minimiza incorretamente a dimensão situacional.

Dica de prova: ao ver “segunda fase”, busque termos como situação, engajamento, intelectual. Desconfie de alternativas que apresentem extremos (ex.: filiação partidária obrigatória; negação total das determinações).

Fontes recomendadas: Jean‑Paul Sartre — L'Être et le Néant (1943); Existentialisme est un humanisme (1946); Qu'est‑ce que la littérature? (1947); coleções Situations; artigo da Stanford Encyclopedia of Philosophy sobre Sartre para contextualização.

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