Leia o texto a seguir.
Reflexões sobre o Romance Moderno
[...] A hipótese básica em que nos apoiamos é a
suposição de que em cada fase histórica exista
certo Zeitgeist, um espírito unificador que se
comunica a todas as manifestações de culturas
em contato, naturalmente com variações nacionais. Falamos nestas páginas da “cultura
ocidental”, não tomando em conta as
diversificações nacionais.
[...] A segunda hipótese sugere que se deva
considerar, no campo das artes, como de
excepcional importância o fenômeno da
“desrealização” que se observa na pintura e que,
há mais de meio século, vem suscitando reações
pouco amáveis do público. O termo
“desrealização” se refere ao fato de que a pintura
deixou de ser mimética, recusando a função de
reproduzir ou copiar a realidade empírica,
sensível. Isso, sendo evidente no tocante à pintura
abstrata ou não-figurativa, inclui também
correntes figurativas como o cubismo,
expressionismo ou surrealismo. Mesmo estas
correntes deixaram de visar a reprodução mais ou
menos fiel da realidade empírica. Esta, no
expressionismo, é apenas “usada” para facilitar a
expressão de emoções e visões subjetivas que lhe
deformam a aparência; no surrealismo, fornece
apenas elementos isolados, em contexto insólito,
para apresentar a imagem onírica de um modo
dissociado e absurdo; no cubismo, é apenas ponto
de partida de uma redução a suas configurações
geométricas subjacentes. Em todos os casos
podemos falar de uma negação do realismo, se
usarmos este termo no sentido mais lato,
designando a tendência de reproduzir, de uma
forma estilizada ou, não, idealizada ou não, a
realidade apreendida pelos nossos sentidos.
ROSENFELD, Anatol. Reflexões sobre o romance moderno. In:___. Texto/contexto I. 5
ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 75-97.
O curta metragem Dossiê Rê Bordosa (2008), dirigido
por Cesar Cabral, explora o lúdico como estratégia de
significação. Os elementos de linguagem de animação
cinematográfica e a seleção dos planos, dos
movimentos e das imagens registradas/apresentadas
pela câmera favorecem as (re)interpretações do real
possíveis ao telespectador. Tendo como base teórica
as reflexões extraídas do texto de Anatol Rosenfeld
(1996), importante crítico e teórico de teatro
germano-brasileiro, assinale a alternativa correta
sobre essa obra audiovisual.
Leia o texto a seguir.
Reflexões sobre o Romance Moderno
[...] A hipótese básica em que nos apoiamos é a suposição de que em cada fase histórica exista certo Zeitgeist, um espírito unificador que se comunica a todas as manifestações de culturas em contato, naturalmente com variações nacionais. Falamos nestas páginas da “cultura ocidental”, não tomando em conta as diversificações nacionais.
[...] A segunda hipótese sugere que se deva considerar, no campo das artes, como de excepcional importância o fenômeno da “desrealização” que se observa na pintura e que, há mais de meio século, vem suscitando reações pouco amáveis do público. O termo “desrealização” se refere ao fato de que a pintura deixou de ser mimética, recusando a função de reproduzir ou copiar a realidade empírica, sensível. Isso, sendo evidente no tocante à pintura abstrata ou não-figurativa, inclui também correntes figurativas como o cubismo, expressionismo ou surrealismo. Mesmo estas correntes deixaram de visar a reprodução mais ou menos fiel da realidade empírica. Esta, no expressionismo, é apenas “usada” para facilitar a expressão de emoções e visões subjetivas que lhe deformam a aparência; no surrealismo, fornece apenas elementos isolados, em contexto insólito, para apresentar a imagem onírica de um modo dissociado e absurdo; no cubismo, é apenas ponto de partida de uma redução a suas configurações geométricas subjacentes. Em todos os casos podemos falar de uma negação do realismo, se usarmos este termo no sentido mais lato, designando a tendência de reproduzir, de uma forma estilizada ou, não, idealizada ou não, a realidade apreendida pelos nossos sentidos.
ROSENFELD, Anatol. Reflexões sobre o romance moderno. In:___. Texto/contexto I. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 75-97.
O curta metragem Dossiê Rê Bordosa (2008), dirigido
por Cesar Cabral, explora o lúdico como estratégia de
significação. Os elementos de linguagem de animação
cinematográfica e a seleção dos planos, dos
movimentos e das imagens registradas/apresentadas
pela câmera favorecem as (re)interpretações do real
possíveis ao telespectador. Tendo como base teórica
as reflexões extraídas do texto de Anatol Rosenfeld
(1996), importante crítico e teórico de teatro
germano-brasileiro, assinale a alternativa correta
sobre essa obra audiovisual.
Gabarito comentado
Tema central: Interpretação de texto, com foco na análise do conceito de desrealização segundo Anatol Rosenfeld e sua aplicação ao curta-metragem “Dossiê Rê Bordosa”.
Rosenfeld aponta que a desrealização é o fenômeno pelo qual as artes deixam de buscar uma cópia fiel da realidade empírica, criando um distanciamento do realismo e abrindo espaço para a expressão subjetiva, estilizações e abordagens críticas. Isso vale, por exemplo, para o cubismo, o expressionismo e o surrealismo, e também para a linguagem contemporânea das animações.
Por que a alternativa D é correta?
Alternativa D: Aponta justamente que “Dossiê Rê Bordosa” produz o fenômeno da desrealização, ao propor uma abordagem não realista e lúdica da vida e dos valores da personagem. Tal como Rosenfeld descreve, a animação leva o espectador a refletir criticamente sobre a contemporaneidade por meio de técnicas artísticas que não buscam mimetizar o real, mas questioná-lo. Essa identificação do caráter crítico e desrealizante da obra é a chave para resolver a questão.
Por que as outras alternativas estão erradas?
A) Erra ao indicar que a animação se opõe às mensagens verbais das tirinhas – não há essa oposição, mas uma convergência crítica por meio da linguagem desrealizadora.
B) Contradiz o conceito de desrealização ao afirmar que a protagonista é “desrealizada, mas objetiva”. Desrealização pressupõe justamente a falta de objetividade literal, distanciando-se do real empírico.
C) Não se pode afirmar que a animação exalta valores do mundo moderno; ao contrário, questiona-os e os critica pelo viés da desrealização.
E) A animação não se distancia dos exemplos apontados por Rosenfeld (cubismo, expressionismo, surrealismo); todos são manifestações da mesma ruptura com o realismo.
Dica de estratégia: Em questões deste tipo, busque sempre relacionar o conceito central do texto teórico com as características apontadas na obra analisada. Palavras como “negação do realismo”, “crítica”, “representação subjetiva” e “desrealização” são pistas-chave. Evite se deixar enganar por termos aparentemente próximos, mas conceitualmente opostos ou imprecisos.
Para aprofundar, consulte Bechara (Moderna Gramática Portuguesa) e a orientação da redação oficial: seja preciso, evite generalizações e baseie-se nos conceitos do texto de apoio.
Gabarito: D
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